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Anglo ainda está interessada na Vale do Rio Doce
MATTHEW JONES
CHARLES PRETZLIK
RAYMOND COLITT
DO "FINANCIAL TIMES"
A Anglo American construiu
um império garimpando ouro e
pedras preciosas, mas a jóia que
ainda não está em seu poder é a
Companhia Vale do Rio Doce
(CVRD), o diversificado grupo de
mineração brasileiro.
Diversos bancos de investimentos estudam a possibilidade de
uma fusão entre a Anglo e a
CVRD. Caso realmente venha a se
realizar, essa transação criaria a
maior empresa mineradora do
mundo.
Embora as propostas ainda estejam apenas em estágio preliminar, a Anglo American continua
interessada na CVRD. A empresa
foi uma das companhias que participaram sem sucesso da concorrência que privatizou a Vale em
1997.
Tony Trahar, executivo-chefe
da Anglo, disse no mês passado
em entrevista ao "Financial Times" que não havia negociações
oficiais em curso entre as duas
empresas. Ele reconheceu, porém, que a CVRD era "uma companhia muito atraente".
Acredita-se que Trahar teria
instruído os representantes da
Anglo no Brasil a estabelecer relações mais cordiais entre os dois
grupos, e, no começo deste ano,
ele visitou seu colega na CVRD,
Roger Agnelli.
Oficialmente, a reunião tinha
por objetivo definir o encerramento das operações de uma pequena joint venture no ramo de
cobre com a CVRD. Acredita-se,
entretanto, que Trahar tenha na
verdade expressado seu interesse
em trabalhar em colaboração
mais estreita com a companhia
brasileira.
A CVRD é considerada como a
mineradora mais bem posicionada em termos de recursos geológicos naturais no Brasil, e é um
ícone da indústria do país. É a
maior empresa mineradora diversificada das Américas, com capitalização de mercado da ordem
de US$ 9 bilhões, e maior produtora de minério e pellets de ferro
do mundo.
Pessoas próximas à CVRD dizem que Agnelli está considerando as opções estratégicas do grupo, que sofre devido ao alto custo
do capital no Brasil, derivado do
risco político do país.
Os banqueiros acreditam que a
melhor maneira de atenuar essa
percepção de risco na CVRD seria
por meio de uma fusão com a Anglo, o que reduziria a exposição
do grupo ao Brasil. Outras opções
em estudo são uma fusão com
uma empresa internacional de
menor porte ou o desenvolvimento de uma série de joint ventures isoladas com empresas estrangeiras, com financiamento
em separado do caixa do grupo
principal.
No entanto, a CVRD alega não
estar negociando qualquer fusão,
com a Anglo ou qualquer outra
empresa. "Não estamos considerando nenhuma medida desse tipo", afirmou um porta-voz da
companhia.
A Anglo vem tentando diversificar suas operações para além da
África do Sul, e ganhar ativos na
área de metais básicos e minério
de ferro. A companhia sofre distinta desvantagem nesses segmentos com relação à BHP Billiton e à Rio Tinto, suas principais
concorrentes.
O grupo reduziu sua desvantagem em termos de cotação acionária com relação às duas empresas desde que transferiu sua sede
legal e suas ações para Londres,
em 1999. Mas as ações da empresa
foram prejudicadas esta semana
por um projeto de lei de mineração mais duro do que o esperado
apresentado pelo governo da
África do Sul, país no qual ainda
está concentrada a maior parte de
sua produção.
Os analistas consideram que a
lógica industrial de uma ligação
entre a Anglo e a CVRD seria considerável, mas que os aspectos
práticos de qualquer fusão como
essa seriam complexos.
O governo brasileiro tem uma
participação acionária que lhe garante poder de veto a qualquer
decisão na CVRD, e acredita-se
que seja improvável que uma venda direta a um investidor estrangeiro seja encarada como aceitável do ponto de vista político.
Além disso, os banqueiros não esperam que a BHP, que tem interesse indireto na CVRD, ou a Rio
Tinto permitam que a Anglo aja
sem sofrer algum tipo de interferência.
A despeito da discrepância em
capitalização de mercado entre as
duas empresas -o valor de mercado da Anglo, de US$ 20 bilhões,
é mais de duas vezes superior ao
da CVRD-, os banqueiros dizem que seria possível criar uma
empresa com ações cotadas em
duas praças, com controle administrativo adequado para as duas
partes. É improvável que negociações a esse respeito comecem oficialmente antes das eleições brasileiras para presidente, que será
realizada em outubro. Somente
depois do pleito é que as duas
companhias terão uma idéia mais
clara do cenário político.
Se Luiz Inácio Lula da Silva, o
candidato à presidência pelo Partido dos Trabalhadores (PT), de
esquerda, for eleito, acredita-se
que qualquer avanço nas negociações entre os dois grupos seria improvável.
Os observadores do negócio
também não têm certeza se a química pessoal entre o exuberante
Agnelli e o muito mais reservado
Trahar funcionaria apropriadamente.
"É uma transação cheia de dificuldades", disse um banqueiro.
"Mas ela acontecerá".
Tradução de Paulo Migliacci
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