São Paulo, Domingo, 01 de Agosto de 1999
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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Economia russa ainda vive sistema pró-crise

CLAUDIA ASAZU
da Redação

Pouco mudou na estrutura econômica russa um ano após as turbulências causadas pela crise. Ainda mergulhada na recessão, a Rússia continua alimentando ainda um sistema "pró-crise".
Antes da decretação da moratória da dívida externa e da desvalorização do rublo, em agosto de 98, praticamente metade do que era consumido no país era trazido do exterior.
Depois de agosto, porém, o importado se tornou inacessível aos russos, o que, por outro lado, resultou desde então em um processo de substituição de importações, que fez ressurgir uma indústria de bens de consumo. A produção industrial russa cresceu 6% em um ano.
"O aumento dos preços do petróleo e do gás natural no mercado internacional, os principais produtos da pauta de exportações do país, também trouxeram um alívio à economia russa, que passou a registrar superávits comerciais", diz Lenina Pomeranz, especialista em economia russa.
De fato, no primeiro semestre deste ano as importações tiveram queda de 46% e as exportações caíram 11%. O país conseguiu saldo positivo de US$ 14,8 bilhões na balança comercial. Em 98, o superávit foi de US$ 900 milhões.
No entanto, os fantasmas da crise continuam abalando os frágeis alicerces da economia russa.
O desemprego continua batendo recordes de alta. O total de desempregados na Rússia atinge 10,4 milhões de pessoas (14,2% da População Economicamente Ativa), aumento de 23% em um ano.
Cerca de 35% da população, ou 51,7 milhões de pessoas, vivem abaixo da linha da pobreza, recebendo menos que o salário mínimo do país, estabelecido em 872 rublos (US$ 36). No ano passado, o número de miseráveis era de 22%.
As indústrias, mergulhadas na obsolescência, não conseguiram nem desenvolver novas tecnologias para acompanhar o mercado internacional nem gerar novos empregos.
"Não há, além disso, nenhum setor na economia russa que consiga estimular o desenvolvimento", afirma Ricardo Caldas, professor de políticas públicas na Universidade de Brasília.
"Os produtos que o país mais exporta -gás natural, petróleo, vodka e alimentos- são commodities que ficam à mercê das oscilações no mercado mundial", diz.
Decretando calotes sucessivos nas dívidas da era soviética, o país também não consegue atrair investimentos externos.
A dívida externa do país soma US$ 140 bilhões. Somente neste ano, o país deve US$ 17,5 bilhões. O Orçamento previsto para este ano, porém, é de US$ 23 bilhões.
As turbulências políticas, que se agravam com a proximidade das eleições parlamentares, previstas para dezembro, e das eleições presidenciais, em junho do ano que vem, somam-se à desconfiança em relação à saúde de Boris Ieltsin, contribuindo para o afastamento dos investidores.
Como consequência, as reservas se mantêm em queda. Há dois anos, o nível de reservas era de US$ 20 bilhões. Após a crise, passou a US$ 11 bilhões e agora está em torno de US$ 7 bilhões.
O sistema financeiro também é outro desafio. Metade dos 18 principais bancos russos está em situação financeira irregular. Até o banco central do país é acusado pelo FMI de ter mentido, em 96, sobre o nível de reservas internacionais do país para forçar o organismo a emprestar dinheiro.
No entanto, as reformas no sistema financeiro não conseguem sair do papel.
Historicamente, os grandes banqueiros do país são os grandes financiadores das campanhas eleitorais, o que dificulta a realização de reformas às vésperas da campanha eleitoral.


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