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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Economia russa ainda vive sistema pró-crise
CLAUDIA ASAZU
da Redação
Pouco mudou na estrutura econômica russa um ano após as turbulências causadas pela crise.
Ainda mergulhada na recessão, a
Rússia continua alimentando ainda um sistema "pró-crise".
Antes da decretação da moratória da dívida externa e da desvalorização do rublo, em agosto de 98,
praticamente metade do que era
consumido no país era trazido do
exterior.
Depois de agosto, porém, o importado se tornou inacessível aos
russos, o que, por outro lado, resultou desde então em um processo de substituição de importações, que fez ressurgir uma indústria de bens de consumo. A produção industrial russa cresceu 6%
em um ano.
"O aumento dos preços do petróleo e do gás natural no mercado internacional, os principais
produtos da pauta de exportações
do país, também trouxeram um
alívio à economia russa, que passou a registrar superávits comerciais", diz Lenina Pomeranz, especialista em economia russa.
De fato, no primeiro semestre
deste ano as importações tiveram
queda de 46% e as exportações
caíram 11%. O país conseguiu saldo positivo de US$ 14,8 bilhões na
balança comercial. Em 98, o superávit foi de US$ 900 milhões.
No entanto, os fantasmas da crise continuam abalando os frágeis
alicerces da economia russa.
O desemprego continua batendo recordes de alta. O total de desempregados na Rússia atinge
10,4 milhões de pessoas (14,2% da
População Economicamente Ativa), aumento de 23% em um ano.
Cerca de 35% da população, ou
51,7 milhões de pessoas, vivem
abaixo da linha da pobreza, recebendo menos que o salário mínimo do país, estabelecido em 872
rublos (US$ 36). No ano passado,
o número de miseráveis era de
22%.
As indústrias, mergulhadas na
obsolescência, não conseguiram
nem desenvolver novas tecnologias para acompanhar o mercado
internacional nem gerar novos
empregos.
"Não há, além disso, nenhum
setor na economia russa que consiga estimular o desenvolvimento", afirma Ricardo Caldas, professor de políticas públicas na
Universidade de Brasília.
"Os produtos que o país mais
exporta -gás natural, petróleo,
vodka e alimentos- são commodities que ficam à mercê das oscilações no mercado mundial", diz.
Decretando calotes sucessivos
nas dívidas da era soviética, o país
também não consegue atrair investimentos externos.
A dívida externa do país soma
US$ 140 bilhões. Somente neste
ano, o país deve US$ 17,5 bilhões.
O Orçamento previsto para este
ano, porém, é de US$ 23 bilhões.
As turbulências políticas, que se
agravam com a proximidade das
eleições parlamentares, previstas
para dezembro, e das eleições
presidenciais, em junho do ano
que vem, somam-se à desconfiança em relação à saúde de Boris
Ieltsin, contribuindo para o afastamento dos investidores.
Como consequência, as reservas se mantêm em queda. Há dois
anos, o nível de reservas era de
US$ 20 bilhões. Após a crise, passou a US$ 11 bilhões e agora está
em torno de US$ 7 bilhões.
O sistema financeiro também é
outro desafio. Metade dos 18
principais bancos russos está em
situação financeira irregular. Até
o banco central do país é acusado
pelo FMI de ter mentido, em 96,
sobre o nível de reservas internacionais do país para forçar o organismo a emprestar dinheiro.
No entanto, as reformas no sistema financeiro não conseguem
sair do papel.
Historicamente, os grandes
banqueiros do país são os grandes
financiadores das campanhas
eleitorais, o que dificulta a realização de reformas às vésperas da
campanha eleitoral.
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