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LUÍS NASSIF
Os presidenciáveis e a crise
Não será tarefa fácil para
nenhum presidente superar a crise atual. No caso de Lula, o desafio será redobrado, devido às desconfianças que ainda
provoca no mercado internacional.
Há razões consistentes para
dúvida, e a alta do dólar reflete
isso, sim. Não adiantam "boutades", como a do deputado federal Antonio Delfim Netto
(PPB-SP), de que Lula não compra nem vende dólares, e por isso a eleição nada tem a ver com
a especulação internacional. É
evidente que tem a ver, mesmo
Lula não sendo o responsável
pela fragilização das contas externas.
Seis meses atrás, quando a
campanha ainda não se iniciara, Lula declarou apoio a Hugo
Chávez e Fidel Castro. Meses depois, com a campanha em curso,
Lula amenizou as declarações.
Sustentou que o processo eleitoral é o mais adequado para conseguir conquistar o poder e as
transformações de que o país
necessita.
Há várias leituras possíveis. A
mais assustada é que a mudança de discurso de Lula é meramente tática, visando as eleições. A mais positiva é que a primeira declaração de Lula foi como presidente-de-partido-fora-de-período-eleitoral. A segunda
teria sido já sentindo o peso da
responsabilidade do cargo.
Caso Lula seja eleito, o teste de
são Tomé será a composição de
seu ministério. Na minha opinião, pesando contatos, declarações e o jogo de forças interno do
PT, a possibilidade maior é que
o jogo de alianças seja para valer. Ou seja, Lula mudou. Mas
há todo um trabalho a ser feito
de convencimento do mercado,
embora a resposta final -repito- esteja na composição do
próximo ministério.
O desafio maior do próximo
governo será fazer a travessia do
quadro atual de crise de financiamento para um porto seguro,
uma situação relativamente sob
controle, para aí, então, ter condições de chegar a uma reestruturação das contas externas. É
desafio em que não apenas o
diagnóstico precisa estar correto
como também o prazo de implantação e a administração de
expectativas no período.
Há muitas dificuldades em jogo. A primeira é o futuro presidente dispor do diagnóstico correto. Não se desarma uma bomba desse teor com rompantes,
mas com técnica e cuidado. Terão que ser tomadas medidas
que necessariamente desagradarão ao mercado. E aí a desconfiança atrapalha. O impacto
da mesma medida será diferente se adotada por um presidente
recebido com desconfiança e outro com confiança pelo mercado. Esse é o lado frágil da candidatura Lula.
Em contrapartida, o PT e o
país, como um todo, têm trabalhado de maneira responsável
para debelar a crise. Há o jogo
de oportunismo de sempre, de
empresários e políticos que da
noite para o dia viram petistas
desde criancinhas e aderem para ficar no barco vencedor. Mas
há também um contingente expressivo de empresários e analistas pesos-pesados empenhados em desmistificar o fantasma
do PT na comunidade financeira internacional, pela relevante
razão de que estamos todos no
mesmo barco.
Outro fato positivo nessa história é que, caso eleito, Lula não
assume em posição de confronto
com a classe empresarial nem
em clima de revanchismo em relação aos adversários.
A montagem de um ministério que reflita essa disposição do
PT terá rápido efeito sobre o dólar -apesar de Lula não comprar nem vender a moeda.
Substituição de importação
Os últimos dados da balança comercial mostram o efeito do câmbio flutuante. Historicamente sempre houve uma correlação entre importação de bens
intermediários e produção industrial.
No primeiro semestre deste ano a produção industrial cresceu 0,6%, e a importação de matérias-primas e de bens intermediários caiu 20%. O fato denota
um rápido movimento de substituição de importações, fruto
da mudança de preços relativos,
afirma Octavio de Barros, economista do BBV. O que mostra
o importante papel da flutuação
do câmbio na decisão das empresas em direção aos produtos
"tradeables" (que têm como parâmetro os preços internacionais).
E-mail - LNassif@uol.com.br
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