São Paulo, sexta-feira, 01 de outubro de 2004

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RETOMADA?

Para Vinod Thomas, diretor da instituição, situação do Brasil é difícil na área microeconômica e requer mudanças

Bird diz que crescimento não é automático

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O indiano Vinod Thomas, diretor do Bird (Banco Mundial) no Brasil, afirma que o governo brasileiro não deve contar com um crescimento sustentável "automático" após o resultado positivo esperado para 2004.
"O Brasil está em uma situação difícil na área de negócios", afirma. "Há muito o que fazer."
Thomas avalia que os progressos do Brasil na área macroeconômica têm sido "mais fáceis" por causa de medidas tomadas nos últimos dez anos, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na área social, Thomas diz que o Bolsa-Família, principal programa do governo federal, está muito concentrado em "quantidades". "A qualidade tem de melhorar."
Para ele, a meta de 11 milhões de famílias atendidas até 2006 é factível, "mas não vai significar progresso se o programa não prestar mais atenção à qualidade".
Leia a seguir entrevista concedida por Thomas à Folha.
 

Folha - O Banco Mundial acaba de mostrar que o Brasil é o pior lugar do mundo, entre 53 emergentes pesquisados, para fazer negócios. Já o FMI diz que o crescimento este ano ficará abaixo da média do mundo e dos principais emergentes. É possível falar em crescimento sustentável diante desses fatos?
Vinod Thomas -
Essa é a grande pergunta. Para um país com grandes vantagens como o Brasil, a resposta, ao menos em princípio, é sim. Mas isso não é automático. Há vários pré-requisitos.
A atual etapa da economia brasileira começou em uma situação muito difícil, de alto endividamento e vulnerabilidade. A melhora nos últimos 18 meses é impressionante. Há uma melhora real macroeconômica, que não garante o crescimento.
O Brasil tem uma situação difícil na área de negócios. Há iniciativas nas áreas de Lei de Falências e das PPPs [Parcerias Público-Privadas] que estão paradas. Os avanços na chamada área microeconômica não são ainda suficientes para dizer que o crescimento será sustentável. Há muito a fazer.
Se avançar, um crescimento de 4% ou 4,5% ao ano nos próximos cinco anos parece ser possível. Mas isso não é automático.

Folha - O sr. vê um empenho genuíno do governo para avançar na área microeconômica?
Thomas -
Honestamente, diria que a vontade retórica desse governo é mais na área social. Mas o que está parecendo mais fácil é resolver as questões macroeconômicas. Especialmente porque nessa área foram criados nos últimos dez anos vários mecanismos que funcionam, como a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Por isso, esse governo avança mais rápido na macroeconomia. Na área microeconômica, continuam os problemas.
Mas temos de reconhecer que o sucesso macroeconômico provoca um constrangimento nos investimentos e na produtividade.

Folha - A área social do Brasil está sendo bem-sucedida, apesar das denúncias de falta de controle no Bolsa-Família?
Thomas -
É um pouco cedo para avaliar. Em termos quantitativos, chegar a 5 milhões de famílias em um ano é um sucesso. Mas isso é quantidade. O Bolsa-Família é um investimento, vinculado à educação e às visitas a postos de saúde. Creio que falta ênfase nessa parte, de condicionalidades para ter direito ao benefício.
Isso está no desenho do programa, que prevê quantidade e qualidade. O segundo ponto tem de melhorar. A meta de 11 milhões de famílias até 2006 é até possível, mas não vai significar progresso se o programa não prestar mais atenção à qualidade.


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