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RETOMADA?
Para Vinod Thomas, diretor da instituição, situação do Brasil é difícil na área microeconômica e requer mudanças
Bird diz que crescimento não é automático
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O indiano Vinod Thomas, diretor do Bird (Banco Mundial) no
Brasil, afirma que o governo brasileiro não deve contar com um
crescimento sustentável "automático" após o resultado positivo
esperado para 2004.
"O Brasil está em uma situação
difícil na área de negócios", afirma. "Há muito o que fazer."
Thomas avalia que os progressos do Brasil na área macroeconômica têm sido "mais fáceis" por
causa de medidas tomadas nos últimos dez anos, como a Lei de
Responsabilidade Fiscal, aprovada no governo do ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Na área social, Thomas diz que
o Bolsa-Família, principal programa do governo federal, está muito
concentrado em "quantidades".
"A qualidade tem de melhorar."
Para ele, a meta de 11 milhões de
famílias atendidas até 2006 é factível, "mas não vai significar progresso se o programa não prestar
mais atenção à qualidade".
Leia a seguir entrevista concedida por Thomas à Folha.
Folha - O Banco Mundial acaba de
mostrar que o Brasil é o pior lugar
do mundo, entre 53 emergentes
pesquisados, para fazer negócios.
Já o FMI diz que o crescimento este
ano ficará abaixo da média do
mundo e dos principais emergentes. É possível falar em crescimento
sustentável diante desses fatos?
Vinod Thomas - Essa é a grande
pergunta. Para um país com grandes vantagens como o Brasil, a
resposta, ao menos em princípio,
é sim. Mas isso não é automático.
Há vários pré-requisitos.
A atual etapa da economia brasileira começou em uma situação
muito difícil, de alto endividamento e vulnerabilidade. A melhora nos últimos 18 meses é impressionante. Há uma melhora
real macroeconômica, que não
garante o crescimento.
O Brasil tem uma situação difícil
na área de negócios. Há iniciativas
nas áreas de Lei de Falências e das
PPPs [Parcerias Público-Privadas] que estão paradas. Os avanços na chamada área microeconômica não são ainda suficientes
para dizer que o crescimento será
sustentável. Há muito a fazer.
Se avançar, um crescimento de
4% ou 4,5% ao ano nos próximos
cinco anos parece ser possível.
Mas isso não é automático.
Folha - O sr. vê um empenho genuíno do governo para avançar na
área microeconômica?
Thomas - Honestamente, diria
que a vontade retórica desse governo é mais na área social. Mas o
que está parecendo mais fácil é resolver as questões macroeconômicas. Especialmente porque
nessa área foram criados nos últimos dez anos vários mecanismos
que funcionam, como a Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Por isso, esse governo avança
mais rápido na macroeconomia.
Na área microeconômica, continuam os problemas.
Mas temos de reconhecer que o
sucesso macroeconômico provoca um constrangimento nos investimentos e na produtividade.
Folha - A área social do Brasil está
sendo bem-sucedida, apesar das
denúncias de falta de controle no
Bolsa-Família?
Thomas - É um pouco cedo para
avaliar. Em termos quantitativos,
chegar a 5 milhões de famílias em
um ano é um sucesso. Mas isso é
quantidade. O Bolsa-Família é
um investimento, vinculado à
educação e às visitas a postos de
saúde. Creio que falta ênfase nessa
parte, de condicionalidades para
ter direito ao benefício.
Isso está no desenho do programa, que prevê quantidade e qualidade. O segundo ponto tem de
melhorar. A meta de 11 milhões
de famílias até 2006 é até possível,
mas não vai significar progresso
se o programa não prestar mais
atenção à qualidade.
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