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CONTAS PÚBLICAS
Governos federal e estaduais cumprem com folga meta com FMI; gasto pode aumentar até o fim do ano
Governo faz maior economia em dez anos
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo obteve, em setembro, o maior superávit primário
em mais de dez anos. A economia
de dinheiro para pagamento de
juros chegou a R$ 10,25 bilhões,
permitindo que fosse cumprida,
com folga, a meta acertada com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) para esse mês. O bom resultado vai permitir que o setor
público aumente seus gastos até o
final do ano.
Graças ao bom resultado de setembro, o superávit primário (receita menos despesas do governo,
exceto gasto com juros) acumulado desde janeiro chegou a R$
47,62 bilhões -o que equivale a
5% do Produto Interno Bruto
(PIB)-, acima dos R$ 41 bilhões
acertados no acordo com o FMI.
O acordo prevê ainda que, até o
final do ano, o superávit chegue a
R$ 50,3 bilhões -equivalente a
3,88% do PIB. Como o resultado
acumulado até setembro já está
próximo desse número, o setor
público (União, Estados, municípios e estatais) não vai precisar
manter um ajuste fiscal tão rígido
nos próximos meses.
"É provável que se venha a liberar mais recursos. A margem [para gastos] vai ser maior", diz o
chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Lopes também afirma não ter
dúvidas quanto à capacidade do
governo de cumprir as metas
acertadas com o FMI. "É absolutamente certo que se vai cumprir", diz. Até agosto, os resultados primários obtidos pelo setor
público estavam abaixo do esperado, ficando bastante próximos
do mínimo exigido pelo Fundo.
O superávit de setembro foi o
maior já alcançado desde 1991,
quando o BC passou a calcular essa estatística com a atual metodologia. Os R$ 10,25 bilhões economizados equivalem a 9,4% do PIB
acumulado no período.
Mesmo com toda essa economia, porém, o governo não conseguiu evitar um forte crescimento
da dívida pública, que chegou a
R$ 885,19 bilhões -valor equivalente a 63,9% do PIB acumulado
nos últimos 12 meses.
Arrecadação
O elevado superávit obtido em
setembro reflete, principalmente,
o aumento de arrecadação da Receita Federal, consequência do
pagamento de R$ 3,5 bilhões em
impostos atrasados. O pagamento desses atrasados só foi possível
com a medida provisória 66, que
ficou conhecida como "MP da
minirreforma tributária".
Esse MP foi feita para que se
acabasse com a cobrança em cascata do PIS, numa tentativa de desonerar as exportações. Além disso, o governo incluiu na MP um
item que permite a anistia de multas para pessoas e empresas que
estivessem contestando na Justiça
os impostos cobrados pela Receita Federal.
Em outras palavras, se o contribuinte desistisse de sua ação judicial, poderia pagar os impostos
atrasados sem que a Receita cobrasse as multas. Isso permitiu
uma arrecadação extra de R$ 3,5
bilhões para os cofres da União.
Dos R$ 10,25 bilhões de superávit primário obtidos pelo setor
público em setembro, R$ 7,46 bilhões vieram do governo federal
(excluindo-se o déficit de R$ 1,41
bilhão da Previdência Social).
Os governos estaduais também
tiveram um bom desempenho,
conseguindo economizar R$ 1,17
bilhão -quase o dobro dos R$
697 milhões acumulados em
agosto. Segundo Lopes, o resultado contrasta com os observados
em anos anteriores, quando, às
vésperas das eleições, os Estados
aumentavam seus gastos. "Neste
ano, esse efeito foi mínimo."
Já os governos municipais não
tiveram o mesmo desempenho.
Em setembro, as prefeituras registraram um déficit primário de R$
20 milhões. Lopes diz que o resultado é "pontual" e que não houve
uma deliberada elevação nos gastos por parte dos municípios.
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