São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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LUÍS NASSIF

Revelações de FHC

Revelações do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, em entrevista que será divulgada em breve pela TV Cultura:
  O FMI (Fundo Monetário Internacional) foi contra o Plano Real por não acreditar em sua coerência macroeconômica. Foi necessário o aval pessoal do então diretor-gerente da instituição, Michel Camdessus, para a burocracia aceitar.
  Diferentemente do que se imaginava, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco mantinha tratamento cerimonioso, quase temeroso com Fernando Henrique Cardoso. Já o atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga, trata FHC com naturalidade, sem se intimidar.
  Fernando Henrique Cardoso alertou pessoalmente o PSDB de que a tentativa de eleger Aécio Neves presidente da Câmara implodiria a aliança com o PFL e comprometeria a governabilidade e as eleições.
  Nas últimas eleições, Lula comprovou ser um mito. Agora, falta comprovar que é um líder, quando tiver que tomar as primeiras decisões.
  O governo tentou mudar o câmbio em dezembro de 1994 e, depois, em março de 1995. A segunda tentativa fracassou devido ao mal-entendido provocado por uma passagem do então presidente do Banco Central, Persio Arida, na fazenda do presidente do BBA, Fernão Bracher. Depois, de acordo com Fernando Henrique Cardoso, crises internacionais, opiniões conflitantes de economistas e a crença de que o aumento da produtividade resolveria o problema das exportações provocaram o adiamento da flexibilização cambial.
  O coronelismo regional é um capítulo superado na história política do país.
  As últimas eleições consolidaram três partidos políticos no Brasil: o PSDB, o PT e o PMDB. Apesar de sua competência, o PFL não pode ser considerado um partido político, na acepção do termo, mas um diretório, de qualquer forma relevante pelos deputados que tem e por representar um ideário liberal-conservador.

Capitalismo popular
O pragmatismo norte-americano desenvolveu conceitos objetivos para tratar empresas em dificuldades. A empresa é um bem público; o controlador, não necessariamente. Em caso de falência, providenciam-se mecanismos rápidos de troca de controle do mau gestor, rejuvenescendo a empresa e tocando o barco para a frente, com novos administradores.
A tradição luso-brasileira consagrou um tipo autofágico de capitalismo. Ou se montavam operações-hospital, para salvação de empresas falidas (prática comum nos anos 80), ou se liquidavam as empresas, pela impossibilidade de salvar seus controladores. O Mappin está aí, um caso clássico de desperdício. Jogaram-se fora marca, estrutura, trabalhadores, relações com fornecedores, clientela, em vez de se limitar a jogar o controlador para fora da empresa -um desperdício irracional.
Por isso mesmo, na atual onda de apoio a empresas brasileiras em dificuldades, há que ter critério para não repetir nenhum dos dois vícios históricos. Há que separar o nível de dificuldades das empresas. Existem aquelas que foram apanhadas por uma situação internacional adversa, impossibilitadas de rolar bônus contratados. Existe outro grupo de empresas que praticou gestão temerária, endividando-se além da conta, correndo risco além das suas posses. Os tratamentos terão que ser diferentes e dependerão, em grande parte, da avaliação sobre o valor da empresa e os recursos necessários para capitalizá-la.
O fundamental é que o processo de capitalização -caso seja implementado- obedeça a regras de mercado. Numa ponta, há a necessidade da constituição de fundos, com gestão profissional, que congreguem os trabalhadores que queiram aplicar nessas empresas. Isso porque não se trata meramente de capitalizar empresas em dificuldades, mas de implantar o conceito de capitalismo popular. E esse conceito pressupõe, do lado dos minoritários, organizações capazes de defender seus interesses perante os controladores -e até de substituí-los em caso de má gestão.
Pressupõe, também, a exigência da chamada governança corporativa -isto é, de um conjunto de regras de transparência que permitam o pleno controle das ações dos executivos pelos minoritários.

E-mail - LNassif@uol.com.br


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