|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Revelações de FHC
Revelações do presidente
da República, Fernando
Henrique Cardoso, em entrevista que será divulgada em breve
pela TV Cultura:
O FMI (Fundo Monetário
Internacional) foi contra o Plano Real por não acreditar em
sua coerência macroeconômica.
Foi necessário o aval pessoal do
então diretor-gerente da instituição, Michel Camdessus, para
a burocracia aceitar.
Diferentemente do que se
imaginava, o ex-presidente do
Banco Central Gustavo Franco
mantinha tratamento cerimonioso, quase temeroso com Fernando Henrique Cardoso. Já o
atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga, trata FHC
com naturalidade, sem se intimidar.
Fernando Henrique Cardoso alertou pessoalmente o PSDB
de que a tentativa de eleger Aécio Neves presidente da Câmara
implodiria a aliança com o PFL
e comprometeria a governabilidade e as eleições.
Nas últimas eleições, Lula
comprovou ser um mito. Agora,
falta comprovar que é um líder,
quando tiver que tomar as primeiras decisões.
O governo tentou mudar o
câmbio em dezembro de 1994 e,
depois, em março de 1995. A segunda tentativa fracassou devido ao mal-entendido provocado
por uma passagem do então
presidente do Banco Central,
Persio Arida, na fazenda do presidente do BBA, Fernão Bracher. Depois, de acordo com Fernando Henrique Cardoso, crises
internacionais, opiniões conflitantes de economistas e a crença
de que o aumento da produtividade resolveria o problema das
exportações provocaram o adiamento da flexibilização cambial.
O coronelismo regional é
um capítulo superado na história política do país.
As últimas eleições consolidaram três partidos políticos no
Brasil: o PSDB, o PT e o PMDB.
Apesar de sua competência, o
PFL não pode ser considerado
um partido político, na acepção
do termo, mas um diretório, de
qualquer forma relevante pelos
deputados que tem e por representar um ideário liberal-conservador.
Capitalismo popular
O pragmatismo norte-americano desenvolveu conceitos objetivos para tratar empresas em
dificuldades. A empresa é um
bem público; o controlador, não
necessariamente. Em caso de falência, providenciam-se mecanismos rápidos de troca de controle do mau gestor, rejuvenescendo a empresa e tocando o
barco para a frente, com novos
administradores.
A tradição luso-brasileira consagrou um tipo autofágico de
capitalismo. Ou se montavam
operações-hospital, para salvação de empresas falidas (prática
comum nos anos 80), ou se liquidavam as empresas, pela impossibilidade de salvar seus controladores. O Mappin está aí,
um caso clássico de desperdício.
Jogaram-se fora marca, estrutura, trabalhadores, relações com
fornecedores, clientela, em vez
de se limitar a jogar o controlador para fora da empresa -um
desperdício irracional.
Por isso mesmo, na atual onda
de apoio a empresas brasileiras
em dificuldades, há que ter critério para não repetir nenhum
dos dois vícios históricos. Há
que separar o nível de dificuldades das empresas. Existem
aquelas que foram apanhadas
por uma situação internacional
adversa, impossibilitadas de rolar bônus contratados. Existe
outro grupo de empresas que
praticou gestão temerária, endividando-se além da conta, correndo risco além das suas posses. Os tratamentos terão que
ser diferentes e dependerão, em
grande parte, da avaliação sobre o valor da empresa e os recursos necessários para capitalizá-la.
O fundamental é que o processo de capitalização -caso seja
implementado- obedeça a regras de mercado. Numa ponta,
há a necessidade da constituição de fundos, com gestão profissional, que congreguem os
trabalhadores que queiram
aplicar nessas empresas. Isso
porque não se trata meramente
de capitalizar empresas em dificuldades, mas de implantar o
conceito de capitalismo popular. E esse conceito pressupõe, do
lado dos minoritários, organizações capazes de defender seus
interesses perante os controladores -e até de substituí-los em
caso de má gestão.
Pressupõe, também, a exigência da chamada governança
corporativa -isto é, de um conjunto de regras de transparência
que permitam o pleno controle
das ações dos executivos pelos
minoritários.
E-mail - LNassif@uol.com.br
Texto Anterior: Empréstimos: Banco recebe antes dívida de falida Próximo Texto: Transe: Dólar e risco-país caem pelo segundo dia seguido Índice
|