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CONTAS PÚBLICAS
País poupa R$ 2,9 bi a mais que o acordado até setembro, quantia 61% superior ao orçamento do Fome Zero
Economia para juros supera meta com FMI
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil cumpriu com folga a última meta fiscal fixada pelo atual
acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Entre janeiro
e setembro, o setor público
(União, Estados, municípios e estatais) economizou R$ 57,077 bilhões para o pagamento de juros,
R$ 2,877 bilhões a mais do que o
fixado pelo entendimento.
A meta referente ao superávit
primário do setor público é a
principal exigência do FMI para
liberar empréstimos para o país.
Cumprida a meta do terceiro trimestre do ano, o Brasil poderá sacar cerca de US$ 8 bilhões no mês
que vem, quando se encerra o
atual acordo. Governo brasileiro e
Fundo estudam a possibilidade
de um novo entendimento.
A "sobra" de R$ 2,877 bilhões
em relação à meta fixada pelo FMI
é 61% maior do que o orçamento
do Fome Zero para este ano (R$
1,8 bilhão). Ou seja, mesmo que
esse excedente fosse investido em
outras áreas, a exigência do Fundo teria sido atendida.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, diz
que a diferença entre o resultado
alcançado e a meta acertada com
o FMI serve como uma espécie de
reserva para gastos que costumam se concentrar no final do
ano, como as despesas com o 13º
salário do funcionalismo público.
O objetivo, nesse caso, é assegurar
o cumprimento das metas fiscais
fixadas pelo próprio governo.
Independentemente do acordo
com o FMI, o governo assumiu o
compromisso de obter um superávit primário equivalente a
4,25% do PIB (Produto Interno
Bruto) neste ano. Entre janeiro e
setembro, essa proporção ficou
em 5,08%.
"Costuma existir uma concentração de gastos mais forte no final do ano, mas a margem acumulada até setembro assegura o
cumprimento da meta de 4,25%
do PIB", afirma Lopes.
Dos R$ 57,077 bilhões economizados pelo setor público entre janeiro e setembro, R$ 39,361 bilhões -ou 69%- foram acumulados pelo governo federal. Em
igual período de 2002, o superávit
primário havia chegado a R$
47,620 bilhões, sendo que 64% foram obtidos pela União.
Juros
O forte aperto fiscal realizado
pelo governo neste ano, porém,
foi insuficiente para compensar
os elevados gastos com juros da
dívida pública. Entre janeiro e setembro, as despesas com esses encargos somaram R$ 113,875 bilhões -10,14% do PIB. Em igual
período do ano passado, esse valor havia chegado a R$ 72,448 bilhões, ou 7,57% do PIB.
A estimativa do BC é que, neste
ano, os gastos do setor público
com juros cheguem a R$ 153,9 bilhões, ante R$ 114 bilhões em
2002. O setor publico registrou
déficit nominal (que inclui gastos
com juro) de R$ 56,798 bilhões de
janeiro a setembro deste ano
-R$ 3,6 bilhões em setembro.
O aumento dos gastos com juros se explica, em grande parte,
pela alta da taxa Selic ocorrida
desde o final de 2002. A Selic é a
taxa que remunera os empréstimos praticados entre o BC e os
bancos. Também é usada para
corrigir cerca de metade da dívida
do governo federal. No início deste ano, a taxa subiu para conter a
alta da inflação, segundo o BC.
Entre janeiro e setembro, a Selic
ficou acumulada em 18%, ante
13,5% registrados em igual período de 2002.
As maiores despesas com o encargo da dívida explicam por que
o governo busca resultados primários cada vez maiores. Quanto
maiores esses gastos, mais o setor
público precisa economizar para
honrar seus compromissos. Esse
ajuste fiscal tem sido obtido, neste
ano, com o corte de gastos e investimentos por parte do governo.
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