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ANÁLISE
"Círculo mágico" separa países emergentes
KRISHNA GUHA
ALAN BEATTIE
DO "FINANCIAL TIMES"
As medidas tomadas pelo Federal Reserve e pelo Fundo
Monetário Internacional para
oferecer dólares de maneira rápida a um grupo seleto de mercados emergentes levantam
dúvidas quanto ao impacto sobre os países que ficaram de fora desses esquemas.
A resposta inicial foi muito
positiva, com uma reação ampla nas ações e nos títulos de dívida dos mercados emergentes.
Os investidores consideraram
que mais apoio aos mercados
emergentes em geral é positivo
para todos eles.
Mas houve sinais de diferenciação no mercado cambial entre aqueles que agora têm acesso aos dólares do Fed -Brasil,
México, Coréia do Sul e Cingapura- e os que não o têm.
Enquanto isso, especialistas
expressaram preocupações residuais de que, ao posicionar
um cordão protetor em torno
de algumas economias emergentes, o Fed e o FMI possam
agravar os desafios enfrentados
pelas economias que estão fora
do novo "círculo mágico".
"Se criamos uma classe de
mercados emergentes que estão realmente protegidos e próximos dos países desenvolvidos, existe o risco de os cidadãos de segunda classe ficarem
mais claramente diferenciados", diz Simon Johnson, ex-economista chefe do FMI.
Raghu Rajan, outro ex-economista chefe do FMI, diz que
foi criada uma divisão entre "os
que fazem parte do clube e os
que estão fora dele", embora ele
acredite que os efeitos negativos sobre as economias excluídas serão limitados.
O perigo de que ajudar alguns
países possa prejudicar outros
é uma variante internacional
do problema criado quando governos correram para resgatar
seus bancos, alimentando as
pressões sobre as instituições
financeiras não-bancárias.
Os políticos chamam a isso "o
problema das fronteiras". É um
dilema que reaparece quando
as autoridades de todo o mundo reforçam seus esforços para
limitar a crise do crédito.
O Fed e o FMI estão erguendo duas muralhas para proteger os mercados emergentes
necessitados de dólares. Dentro do círculo formado pela
muralha interna estão os quatro países que estão recebendo
US$ 30 bilhões cada do Fed.
Esses países, segundo o Fed,
são "sistemicamente importantes" e "bem administrados".
Eles lembram os bancos principais ao centro dos planos de
resgate dos bancos. No círculo
formado pela muralha externa
estão os mercados emergentes
vistos como candidatos dignos
a receber empréstimos grandes
e rápidos do FMI sob seu novo
programa de concessão de créditos não condicionados.
Lista provável
O FMI não identificou os países que considera que mereceriam esses empréstimos, mas a
lista incluiria os quatro apoiados pelo Fed, a República Tcheca, o Chile e também, possivelmente, a Polônia e alguns países asiáticos. Outros mercados
emergentes podem ter direito a
socorros do FMI, mas esses serão analisados caso a caso.
A diferenciação reforçada
entre os mercados muda seus
graus relativos de risco. A questão é se ela pode tornar alguns
dos que estão fora dessas fronteiras ainda mais vulneráveis.
Foi o que ocorreu com os excluídos dos planos de resgate
bancário. Empresas de financiamento de veículos e seguradoras pedem para receber o
mesmo tratamento dado a bancos, mesmo que, para isso, precisem se converter em bancos.
Existem diferenças. As novas
linhas internacionais de defesa
se assemelham mais a um conjunto de círculos concêntricos
que à divisão binária entre os
bancos e os não-bancos.
Nenhum país está explicitamente excluído de receber ajuda, e os US$ 120 bilhões do Fed
significam que agora há mais
dinheiro disponível ao todo.
Ademais, os países não competem uns com os outros como
os bancos e as seguradores. Há
um "bem público" na forma de
estabilidade do sistema.
Mesmo assim, algumas preocupações persistem. A exclusão
das novas fontes de ajuda pode
ser vista como indicativo de políticas insustentáveis ou de falta de apoio internacional.
Com quase US$ 50 bilhões
comprometidos em pacotes de
socorro e US$ 100 bilhões nominalmente reservados para
novos empréstimos incondicionais, o FMI ficará com apenas US$ 100 bilhões para atender a todos os outros casos.
Além disso, as economias
emergentes competem pelos
capitais privados. Mudanças
em suas posições relativas podem resultar em mudanças em
portfólios que possivelmente
levariam alguns países a perder
em termos absolutos -do mesmo modo como o socorro aos
bancos elevou o custo da dívida
de Fannie Mae e Freddie Mac.
Michael Hugman, estrategista do Standard Bank, diz: "Sempre existe um perigo, especialmente no ambiente atual dos
mercados, de que qualquer intervenção tenha efeitos negativos sobre os países excluídos
das novas medidas".
Tradução de CLARA ALLAIN
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