São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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EUROLÂNDIA

Ingresso de novos membros desafia estabilidade econômica do bloco

Euro faz aniversário com valorização diante do dólar

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao entrar em circulação, em 1º de janeiro de 2002, um euro valia US$ 0,9037. Ontem, a moeda comum européia comemorou seu primeiro aniversário com valorização de 17,2% no ano -cotada a US$ 1,0478- além de carregar a simbologia de ter cimentado boa parte das diferenças entre os 12 países que a adotaram.
Para Jean-Paul Betbeze, diretor de estudos econômicos e financeiros do Crédit Lyonnais, em Paris, a alta da cotação do euro é uma conjunção de vários fatores. O primeiro é a queda do interesse de investidores europeus por ações de empresas norte-americanas. "Entre 1999 e 2000, havia uma forte demanda européia por esses papéis, sobretudo aqueles ligados à nova economia. A partir do começo deste ano [do ano passado", essa tendência começou a se inverter. Os produtos financeiros americanos perderam espaço, o fluxo de saída de euros caiu, o que fez a cotação do euro subir."
O diferencial das taxas de juros da União Européia -2,75% contra 1,25% praticada nos EUA- é outro motivo para atrair investimentos para a eurolândia e pressionar a demanda por euros. Essa atração também tem outro componente. O temor de um eventual conflito entre Estados Unidos e Iraque tem arregimentado os que vêem a moeda única européia como um porto seguro para investimentos. Esse movimento tem origem sobretudo na Ásia, com destaque para Taiwan, China e Japão, que querem gradualmente equilibrar a proporção de suas reservas cambiais. Atualmente, 90% delas são em dólar.
No entanto, a alta da cotação do euro diante do dólar não é uma tendência de longo prazo. "Os EUA estão retomando a economia num ritmo mais acelerado que os países da zona do euro", afirma Betbeze.
A opinião é partilhada por Ingo Plöger, presidente das Câmaras de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha. "A previsão é que a cotação do euro oscile entre U$ 0,97 e US$ 1,05, mas não haverá uma escalada da moeda ante o dólar", avalia Plöger.
Um cenário econômico com um dólar mais fraco é apontado por alguns especialistas como uma solução para resolver o problema do atual déficit na conta corrente dos EUA. Hoje, o déficit do país beira 5% do PIB.
Essa não é a análise do diretor do Crédit Lyonnais. Para ele, o enfraquecimento do dólar pode, num primeiro momento, estimular as exportações norte-americanas. Mas, no longo prazo, vai gerar dificuldades para o financiamento do déficit, o que reforça a expectativa de que a alta do euro é um fenômeno transitório.

Inflação
Recentemente o presidente do BCE, Wim Duisenberg, admitiu o que os consumidores europeus já haviam notado: a introdução do euro elevou a inflação.
Segundo Betbeze, a ligeira alta dos preços ocorrida logo após a conversão para a nova moeda foi causada pela falta de familiaridade com os valores fracionados e pelo arredondamento quase sempre para cima nas conversões. O que teria provocado um aumento injustificado dos preços, sobretudo no setor de serviços, como bares e restaurantes.
Em novembro de 2002, a taxa de inflação na zona do euro ficou em 2,2%. Pela quarta vez consecutiva o valor fica acima do teto de 2% estabelecido pelo BCE.

Futuro do euro
A entrada de dez novos países na UE (Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Chipre e Malta) traz indagações a respeito do futuro da moeda única. De acordo com o cronograma oficial, os países deverão ser admitidos no bloco econômico a partir de 2004. Já a adoção do euro pelos novos integrantes deve ocorrer por volta de 2010.
O desafio, porém, é harmonizar economias com desempenhos díspares. Os dez novos membros representam 5% do PIB gerado pelos países da atual zona do euro e 20% da população.

Inglaterra e Dinamarca
Dois países -Inglaterra e Dinamarca- que têm resistido à adoção da moeda única estão dando sinais de que essa situação pode enfim mudar.
Em uma mensagem à nação, o primeiro-ministro inglês, Tony Blair, afirmou que o dilema do euro era a decisão mais importante que se apresenta a essa geração. "Não vemos barreira constitucional para nos juntarmos [à adoção do euro] e o aspecto político está superado. Mas [a UE] é um bloco econômico e é uma decisão econômica que precisa ser tomada."
A Dinamarca pode realizar um plebiscito em 2004 ou 2005 sobre a adoção do euro, afirmou ontem o primeiro-ministro do país, Anders Fogh Rasmussen.
"Os interesses da Dinamarca estão sendo prejudicados, estamos sem influência em áreas cruciais porque somos excluídos da cooperação da UE", disse.


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