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EUROLÂNDIA
Ingresso de novos membros desafia estabilidade econômica do bloco
Euro faz aniversário com valorização diante do dólar
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao entrar em circulação, em 1º
de janeiro de 2002, um euro valia
US$ 0,9037. Ontem, a moeda comum européia comemorou seu
primeiro aniversário com valorização de 17,2% no ano -cotada a
US$ 1,0478- além de carregar a
simbologia de ter cimentado boa
parte das diferenças entre os 12
países que a adotaram.
Para Jean-Paul Betbeze, diretor
de estudos econômicos e financeiros do Crédit Lyonnais, em Paris, a alta da cotação do euro é
uma conjunção de vários fatores.
O primeiro é a queda do interesse
de investidores europeus por
ações de empresas norte-americanas. "Entre 1999 e 2000, havia
uma forte demanda européia por
esses papéis, sobretudo aqueles ligados à nova economia. A partir
do começo deste ano [do ano passado", essa tendência começou a
se inverter. Os produtos financeiros americanos perderam espaço,
o fluxo de saída de euros caiu, o
que fez a cotação do euro subir."
O diferencial das taxas de juros
da União Européia -2,75% contra 1,25% praticada nos EUA- é
outro motivo para atrair investimentos para a eurolândia e pressionar a demanda por euros. Essa
atração também tem outro componente. O temor de um eventual
conflito entre Estados Unidos e
Iraque tem arregimentado os que
vêem a moeda única européia como um porto seguro para investimentos. Esse movimento tem origem sobretudo na Ásia, com destaque para Taiwan, China e Japão,
que querem gradualmente equilibrar a proporção de suas reservas
cambiais. Atualmente, 90% delas
são em dólar.
No entanto, a alta da cotação do
euro diante do dólar não é uma
tendência de longo prazo. "Os
EUA estão retomando a economia num ritmo mais acelerado
que os países da zona do euro",
afirma Betbeze.
A opinião é partilhada por Ingo
Plöger, presidente das Câmaras
de Indústria e Comércio Brasil-Alemanha. "A previsão é que a
cotação do euro oscile entre U$
0,97 e US$ 1,05, mas não haverá
uma escalada da moeda ante o
dólar", avalia Plöger.
Um cenário econômico com
um dólar mais fraco é apontado
por alguns especialistas como
uma solução para resolver o problema do atual déficit na conta
corrente dos EUA. Hoje, o déficit
do país beira 5% do PIB.
Essa não é a análise do diretor
do Crédit Lyonnais. Para ele, o enfraquecimento do dólar pode,
num primeiro momento, estimular as exportações norte-americanas. Mas, no longo prazo, vai gerar dificuldades para o financiamento do déficit, o que reforça a
expectativa de que a alta do euro é
um fenômeno transitório.
Inflação
Recentemente o presidente do
BCE, Wim Duisenberg, admitiu o
que os consumidores europeus já
haviam notado: a introdução do
euro elevou a inflação.
Segundo Betbeze, a ligeira alta
dos preços ocorrida logo após a
conversão para a nova moeda foi
causada pela falta de familiaridade com os valores fracionados e
pelo arredondamento quase sempre para cima nas conversões. O
que teria provocado um aumento
injustificado dos preços, sobretudo no setor de serviços, como bares e restaurantes.
Em novembro de 2002, a taxa de
inflação na zona do euro ficou em
2,2%. Pela quarta vez consecutiva
o valor fica acima do teto de 2%
estabelecido pelo BCE.
Futuro do euro
A entrada de dez novos países
na UE (Estônia, Letônia, Lituânia,
Polônia, Hungria, República
Tcheca, Eslováquia, Eslovênia,
Chipre e Malta) traz indagações a
respeito do futuro da moeda única. De acordo com o cronograma
oficial, os países deverão ser admitidos no bloco econômico a
partir de 2004. Já a adoção do euro
pelos novos integrantes deve
ocorrer por volta de 2010.
O desafio, porém, é harmonizar
economias com desempenhos
díspares. Os dez novos membros
representam 5% do PIB gerado
pelos países da atual zona do euro
e 20% da população.
Inglaterra e Dinamarca
Dois países -Inglaterra e Dinamarca- que têm resistido à adoção da moeda única estão dando
sinais de que essa situação pode
enfim mudar.
Em uma mensagem à nação, o
primeiro-ministro inglês, Tony
Blair, afirmou que o dilema do euro era a decisão mais importante
que se apresenta a essa geração.
"Não vemos barreira constitucional para nos juntarmos [à adoção
do euro] e o aspecto político está
superado. Mas [a UE] é um bloco
econômico e é uma decisão econômica que precisa ser tomada."
A Dinamarca pode realizar um
plebiscito em 2004 ou 2005 sobre
a adoção do euro, afirmou ontem
o primeiro-ministro do país, Anders Fogh Rasmussen.
"Os interesses da Dinamarca estão sendo prejudicados, estamos
sem influência em áreas cruciais
porque somos excluídos da cooperação da UE", disse.
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