|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ajuste abre espaço para alta do PIB
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O ano de 2004 deverá ser o melhor para a economia brasileira
desde 2000, quando o PIB (Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas pelo
país) cresceu 4,4%, mas bateu na
parede do racionamento de energia em 2001.
Apesar de as previsões apontarem para uma expansão inferior a
4,4%, os analistas afirmam que a
economia brasileira passou por
ajustes estruturais nos últimos
dois anos, que dariam espaço para o crescimento se sustentar por
certo tempo a partir de agora.
A mais importante dessas mudanças é o equilíbrio das contas
externas, obtido graças a um misto de aumento de exportações e
redução de importações decorrente da desaceleração da economia brasileira.
O resultado da balança comercial de 2003 deverá ser conhecido
hoje e a expectativa é que apresente um recorde histórico, com superávit acima de US$ 24 bilhões.
Mesmo prevendo um superávit
comercial menor para 2004, os
economistas afirmam que as contas externas estarão sob controle,
o que ameniza uma das maiores
vulnerabilidades do país nos últimos anos.
"A partir de 1995, o crescimento
foi muito afetado por crises externas. O Brasil sofreu mais que outros países porque tinha déficits
muito elevados em conta corrente. Em grande medida, esse problema foi superado, o que nos coloca em situação mais favorável
para crescer nos próximos anos",
diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC.
A diferença nos dados das contas externas é gritante. Em 2000, o
país fechou o ano com saldo negativo de US$ 24,6 bilhões, o equivalente a 4,2% do PIB. Depois de sucessivos déficits, o resultado de
2003 deverá ser positivo pela primeira vez em 11 anos. As previsões apontam saldo próximo de
US$ 2,5 bilhões -0,5% do PIB.
O resultado voltará a ser negativo em 2004, mas nada que se
compare aos números de anos
anteriores. Analistas estimam que
a conta corrente será negativa em
algo entre US$ 200 milhões e US$
3,8 bilhões. "Se vier uma crise
inesperada, nós seremos atingidos, mas menos que no passado",
observa Francisco Pessoa, analista da LCA Consultores.
As previsões de expansão do
PIB de 2004 variam de 3% a 4%. O
índice é inferior aos 5% apresentados na campanha eleitoral pelo
então candidato a presidente Luiz
Inácio Lula da Silva como uma
das condições para criação de 10
milhões de empregos. Mas é superior aos resultados de 2001
(1,3%), 2002 (1,9%) e 2003 (próximo de zero).
Os economistas projetam pequena variação do dólar neste ano
e uma inflação sob controle. Para
dezembro, é esperada cotação de
R$ 3,10 a R$ 3,20. As previsões
apontam para um IPCA (Índice
de Preços ao Consumidor Amplo) próximo de 6%, o que significa o cumprimento da meta de
5,5% fixada pelo governo, que
tem 2,5 pontos de tolerância para
cima ou para baixo.
Em geral, os economistas acreditam que as condições para o
crescimento em 2004 serão melhores que as registradas em 2000.
Além do ajuste externo, eles
apontam como pontos positivos a
consolidação da democracia, com
a transição para um governo de
esquerda, a aprovação da reforma
da Previdência e a manutenção
do esforço fiscal.
"A demonstração de que o país
evoluiu politicamente tira muitos
pontos de incerteza", afirma Tomás Málaga, economista-chefe do
Itaú. "Há um consenso político de
que é necessário manter os ajustes
fiscal e externo", completa Pessoa, da LCA. Para Bassoli, do
HSBC, o sucesso na transição de
governo trouxe redução permanente do risco político do país.
Pedras no caminho
Os dados negativos da equação
são a ainda frágil situação fiscal e
as dúvidas sobre a sustentação do
crescimento a partir de 2005.
A relação dívida/PIB, que já era
de 49% em 2000, piorou e deve ter
fechado 2003 em torno dos 59%.
"A dívida é maior e sua composição, em termos de prazo e indexador, é pior do que em 2000", observa Julio Callegari, da consultoria Tendências.
A perspectiva para a economia
pós-2004 dependerá muito do
que ocorrer neste ano em termos
de investimentos.
Os analistas não acreditam que
em 2005 haverá ameaças comparáveis ao racionamento de 2001.
Mas afirmam que a expansão do
PIB será limitada no futuro se não
houver mudanças que permitam
o crescimento sustentado. E a
mais importante delas é o aumento do nível de investimentos, que
está próximo de 18% do PIB, um
dos níveis mais baixos dos últimos anos.
Para Málaga, do Itaú, o governo
ainda tem um discurso dúbio em
relação ao papel do Estado na
economia, o que pode afugentar
investimentos em infra-estrutura.
Mais que tudo, os economistas
esperam que suas próprias previsões não se mostrem distantes da
realidade, como ocorreu em 2003.
Em janeiro do ano passado, os
analistas projetavam expansão do
PIB de 2%, segundo pesquisa realizada pelo BC (Banco Central). O
mais provável é que o PIB tenha
terminado o ano com variação zero ou retração, em consequência
das altas taxas de juros praticadas
ao longo de 2003.
O IPCA deve ter fechado 2003
com cifra de um dígito (a estimativa do Banco Central é que tenha
ficado em 9,1%), inferior aos pouco mais de 11% estimados pelo
mercado em janeiro.
Mas a discrepância mais gritante entre previsões e o que de fato
ocorreu está na cotação do dólar.
Quando o ano começou, a média
das previsões apontava para uma
cotação de R$ 3,70 para o dólar
em dezembro -a moeda terminou 2003 cotada a R$ 2,902, com
queda acumulada de 18,1%.
Texto Anterior: Reajuste: Custo da cesta básica fica abaixo da inflação Próximo Texto: Tarifas públicas devem ter peso menor no IPCA Índice
|