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Agronegócio traz US$ 239 bi em dez anos
Alto volume de dólares trazidos pela agropecuária valoriza o real e diminui o rendimento dos produtores nacionais
Agroenergia volta a ser
a alavanca da agricultura
neste ano; após a cana, setor
vê alta de milho, soja e trigo,
puxada por etanol nos EUA
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
A agropecuária brasileira é
vítima da própria eficiência. O
setor paga caro pelo excesso de
dólares que traz ao país. Nos últimos dez anos -de 1997 a
2006-, a receita líquida da balança comercial do agronegócio
soma US$ 239 bilhões.
Se por um lado o agronegócio
salva as contas nacionais, por
outro derruba a cotação do dólar, um dos fatores de perda de
renda para os produtores.
Como a agropecuária brasileira é exportadora -devido à
falta de crescimento interno da
economia e de um mercado externo com demanda forte-, o
real valorizado e o dólar fraco
fazem o produtor brasileiro
perder renda nas exportações.
Mas, mesmo com volume
elevado de dólares, o agronegócio continua surpreendendo e,
ao contrário do que se previa, as
receitas externas do ano passado voltaram a registrar recorde.
Apesar de todos os problemas internos vividos pela agropecuária em 2006, as exportações do agronegócio continuaram a todo o vapor, com receitas líquidas de US$ 42 bilhões.
E esse ritmo deve continuar
neste ano, devido às mudanças
de cenário nos preços externos.
As receitas do agronegócio deste ano devem somar US$ 44,5
bilhões, segundo Victor Abou
Nehmi Filho, do Instituto FNP.
Anos ruins
Os últimos dois anos podem
ser classificados entre os piores
para a história da agricultura
brasileira. E a situação só não
ficou pior devido ao grande volume de dinheiro que o governo
foi obrigado a injetar no setor.
Até a soja, que há muitos
anos caminhava com as próprias pernas, foi um dos principais focos de ajuda do governo.
A crise foi tão acentuada que
até as multinacionais reduziram os preços dos insumos que
fornecem aos agricultores. Do
contrário, as vendas teriam caído ainda mais.
"Foi um período para ser riscado da história da agricultura,
mas não para ser esquecido." A
afirmação é do paranaense José Pitoli, há três décadas na
agricultura e que diz nunca ter
visto dois anos seguidos tão
ruins como foram 2005 e 2006.
Se a frase parece um contrasenso, é, na verdade, um lembrete. Muitos erros foram cometidos pelos produtores no
auge dos preços das commodities, diz Pitoli. Sem se preocupar com a gestão dos negócios,
muitos produtores aumentaram a área de plantio e compraram mais máquinas. Foram pegos no contrapé na crise.
Aliás, gestão é a palavra do
momento e uma das indicações
de saída da crise. Este ano deve
marcar o início da recuperação,
mas o crescimento deverá ser
mais com qualidade do que
com quantidade, afirma Anderson Galvão, especialista em soja da Consultoria Céleres, de
Uberlândia (Minas Gerais).
Fernando Muraro, da AgRural, de Curitiba (PR), também
destaca que a gestão é fundamental para o produtor. As
commodities agrícolas seguem
o caminho de investimentos do
mercado financeiro, diz ele.
Oferta e demanda deixaram
de ser parâmetro para uma avaliação futura de preços. Uma
análise do mercado de soja, por
exemplo, exige amplo conhecimento da situação mundial do
petróleo, dos efeitos da agroenergia sobre o milho e da conseqüência do biodiesel sobre a
própria soja. Só depois é possível fazer uma análise dos preços da oleaginosa, diz Muraro.
Ano do milho
Apesar de todos os problemas vividos pelos agricultores
nos dois últimos anos, o cenário é bastante favorável em
2007. Os produtores entram
neste ano com um volume de
dívidas acima do normal, mas
as condições climáticas e de
preços podem servir de alívio.
Para o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, as
nuvens negras estão indo embora do campo. E um dos motivos é a agroenergia.
Para André Pessoa, da Agroconsult, o fluxo de caixa vai melhorar na agricultura, que começa novo ciclo de crescimento. O estoque das dívidas e o caminho para saneá-las vão determinar a extensão e a intensidade desse crescimento.
O milho deve ser, em 2007, a
vedete que a cana-de-açúcar foi
em 2006. E, como diz Muraro,
uma alta nos preços do milho
mexe com todas as outras commodities, como soja e trigo.
Leonardo Sologuren, especialista em milho da Céleres,
diz que o cenário é bom para o
produto neste ano. A redução
de excedente nos Estados Unidos e a entrada da China no setor de agroenergia darão maior
rentabilidade ao produto.
O Brasil será um dos grandes
favorecidos, podendo exportar,
já neste ano, 5 milhões de toneladas. Em dez anos, o país poderá colocar no mercado externo
18 milhões de toneladas, segundo Sologuren.
Para Nehmi, o milho começa
a atrair neste ano também as
multinacionais, que já fazem
contratos antecipados para
dois anos. "O interesse dessas
empresas globais significa uma
possibilidade latente -e não
mais circunstancial- para o
Brasil", acrescenta Sologuren.
Se houver problema na próxima safra norte-americana de
milho, o Brasil poderia obter
US$ 800 milhões em receitas
neste ano. Na avaliação dos especialistas, esse é um produto
cujas receitas líquidas vão superar US$ 1 bilhão em breve.
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