São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

A economia cordial de Lula


As idéias econômicas do coração luliano, explicadas pelo próprio presidente, em frases e discursos de 2006


UM CLICHÊ da formação política de Lula é a descrição de suas entradas no estádio em que se decidiam as greves metalúrgicas. Antes de ir ao palanque, o líder sindical gostava de entrar em campo, de ser envolvido pela multidão.
Lula queria escutar o rumorejo da peãozada, impregnar-se da voz da massa e assim temperar o que muito ouvia de outros líderes, de políticos e, relutantemente, de intelectuais. Lula encarnava mais a resultante desse vozerio do que ditava princípios. Lula continua o mesmo.
Agora, porém, Lula assumiu a liderança do pensamento econômico de seu governo, por assim dizer. Nunca esteve tão só, e talvez por isso nunca antes tão angustiado e desorientado sobre os contínuos e, para ele, incompreensíveis reveses das promessas de crescimento espetacular. Seu "pensamento desejante" e sua estratégia de encarnar a voz do povo não bastam para elaborar planos e liderar equipes articuladas. Resta-lhe a ansiedade.
Preconceito? Perceba-se a desorientação neste balanço do que Lula disse em 2006 sobre economia.
"O Lula é uma parte do povo deste país que adquiriu consciência política. É por isso que eu não caio. Porque não sou sozinho. A hora que tirarem minhas pernas, vou andar pelas pernas de vocês; a hora que tirarem meus braços, vou gesticular pelos braços de vocês; a hora que tirarem meu coração, vou amar pelo coração de vocês. E, a hora que tirarem minha cabeça, vou pensar pela cabeça de vocês", dizia o presidente em comício, no dia 26 de setembro.
"O governo não precisa saber tudo, não precisa compreender tudo. Tem apenas de ter sensibilidade para deixar que as pessoas digam ao país o que é melhor para o próprio país": Lula, 3 de março.
"Não é possível governar o país só com a racionalidade das pesquisas e dos números. O Brasil já foi governado assim durante um século, e os resultados não foram os melhores. É preciso que a gente governe com a racionalidade, com a verdade dos números, com a realidade do país, mas é preciso que a gente tenha sensibilidade", 21 de dezembro, sobre o novo aumento do salário mínimo.
"Vocês percebem que precisa mais do que um economista, precisa de um bando de mágicos para que a gente tente encontrar uma saída para fazer esse país voltar a crescer. E, sem mágica, nós vamos fazê-lo voltar a crescer", 28 de novembro.
"E não me pergunte o que é ainda, que eu não sei, e não me pergunte a solução, que eu não a tenho, mas vou encontrar, porque o país precisa crescer", 21 de novembro, ao dizer que até o final do ano anunciaria um plano para destravar a economia.
"Sou contra a política de voluntarismo, oba-oba. Prefiro as políticas estruturantes, que são mais demoradas, porque têm de ser mais cautelosas, então são mais responsáveis", início de dezembro.
"Você depara com as leis, com as questões ambientais, com o Congresso, com a oposição (...) e com a burocracia", 25 de agosto, sobre os "entraves ao desenvolvimento".
"O crescimento que nós queremos não vai se dar em um mandato presidencial. É preciso que a gente pense numa geração ou quem sabe até um pouco mais se nós quisermos fazer uma coisa sólida, madura, que não tenha retorno", 6 de novembro.

vinit@uol.com.br


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