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"Bondades" sociais custarão R$ 26 bi em 2010
No ano eleitoral de 2010, medidas do governo incluem contratações, Bolsa Família ampliado e aumento real para aposentados
Estudo mostra que, desde
1980, taxa de miséria caiu e
renda domiciliar cresceu em
todos os anos com eleições
legislativas ou presidenciais
Rafael Andrade - 1º.set.09/Folha Imagem
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O presidente Lula discursa em cerimônia de formatura de alunos beneficiados pelo programa Bolsa Família, no Rio de Janeiro
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o aumento das aposentadorias, do salário mínimo e
do seguro-desemprego, anunciado nas últimas semanas de
2009, o governo concluiu o amplo pacote de benefícios sociais
com o qual pretende marcar o
encerramento do segundo
mandato do presidente Lula.
O pacote concentra, neste
único ano eleitoral de 2010, a
reedição de praticamente todos
os benefícios concedidos desde
o início do atual governo petista, em janeiro de 2003. Entre
eles também estão: ampliação
do Bolsa Família, revisões de
remunerações de carreiras do
setor público e novas contratações. Todos esses itens terão
um custo fiscal de R$ 26 bilhões
ao longo de 2010 -o preço de
dois Bolsas Família.
Segundo Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas
Sociais da FGV, esse cenário
deve confirmar a ""tradição da
nova democracia brasileira de
apresentar melhores resultados sociais em anos eleitorais".
A pobreza e o marciano
Trabalho desenvolvido pela
equipe de Neri mostra que, desde 1980, a taxa de miséria caiu e
a renda domiciliar cresceu em
todos os anos com eleições. Nos
anos seguintes esses indicadores sociais caíram.
"Se colocassem um marciano
para olhar as séries de pobreza
no Brasil, ele saberia, sem conhecer a história, em quais
anos houve eleições", diz ele.
Esse efeito ocorreu não apenas por conta da ação do governo federal, mas, igualmente,
pela concessão de vantagens
por governadores e prefeitos.
Diante do cenário de benefícios ampliados, Marcelo Neri
calcula que, assim como a retomada da economia, o fator eleitoral também terá forte impacto sobre os indicadores sociais
neste ano de 2010.
Mas Neri acha que o ciclo
eleitoral se tornou menos pronunciado à medida que a democracia ganhou maturidade.
Ele compara, por exemplo, as
eleições de 1986, no auge do
Plano Cruzado, com as eleições
presidenciais de 2006, também
marcadas por uma forte ampliação dos benefícios sociais.
Em 1986, a proporção de pessoas abaixo da linha da miséria
despencou 37%. Em 2006, a
queda foi de 15%. Além disso,
Neri avalia que, ""como os benefícios sociais hoje são permanentes, ao contrário da simples
concessão de abonos ou cestas
básicas, os indicadores sociais
podem até cair, mas não despencam mais após as eleições".
Restrição fiscal
O pacote de benefícios sociais que serão implementados
neste último ano do governo
Lula foi desenhado para resistir
às restrições fiscais e, ao mesmo tempo, causar o maior impacto eleitoral possível.
Devido à lei 9.504/1997, o governo não pode, em ano eleitoral, distribuir novos benefícios,
exceto no caso de calamidade
pública ou em programas autorizados em lei que já estavam
em execução no ano anterior.
Em 2010, o Bolsa Família,
programa com eficácia eleitoral comprovada, poderá beneficiar 500 mil residências adicionais. Isso só será possível porque a medida é a última etapa
da ampliação do programa
-ampliação que já estava em
execução em 2009, quando 1,3
milhão de novas famílias foram
incorporadas ao programa.
Há dúvida quanto à possibilidade de o governo também elevar o valor do benefício em
2010 -tema ainda não apreciado pela Justiça Eleitoral.
Divisão de resultados
Já o aumento real das aposentadorias repete uma fórmula inédita implementada durante as eleições de 2006. Até
aquele ano nenhum governo
elevara, por taxas superiores à
inflação, o valor dos benefícios
acima do piso.
A correção é de até 6,14%,
equivalente à reposição da inflação mais 2,5%, índice correspondente à metade do crescimento da economia em 2008.
""É a primeira vez que os aposentados e pensionistas com
benefícios acima do salário mínimo participam efetivamente
do resultado da nossa economia", afirmou o ministro da
Previdência, José Pimentel.
Na esteira do aumento do salário mínimo, de R$ 465,00 para R$ 510,00, o governo também reajustou em 9,67% o valor do seguro-desemprego. O
impacto do reajuste vai custar
R$ 1,58 bilhão em 2010.
A proposta orçamentária originalmente encaminhada ao
Congresso apontava, para
2010, gastos adicionais de R$
7,6 bilhões com revisões de remunerações de diversas carreiras e R$ 2,2 bilhões com novas
contratações. Mas esse valor foi
substancialmente elevado até
os últimos dias de 2009.
Neste ano, o governo federal
deve criar 77.782 vagas. Do total, 57.901 serão destinadas ao
Executivo, sendo que 15.040
são para substituição de funcionários terceirizados. Para o
Legislativo, estão previstas 875
vagas. Para o Judiciário, 9.096.
O "Diário Oficial" de 31 de dezembro passado publicou uma
série de benefícios para carreiras específicas. Procurado, o
Ministério do Planejamento
informou que não tinha condições de calcular o custo.
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