|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ECONOMIA BOMBARDEADA
Aumento da meta de superávit não trará segurança se conflito se prolongar, dizem economistas
Guerra ameaça neutralizar esforço fiscal
SANDRA BALBI
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento da meta de superávit primário, que o governo deverá anunciar nesta semana, não garantirá que o país enfrentará em
condições mais confortáveis o
impacto de uma guerra prolongada contra o Iraque na economia
mundial, segundo opinião da
maioria dos economistas consultados pela Folha.
O superávit primário é a diferença entre as receitas e as despesas do governo, sem incluir o pagamento de juros. Quanto maior
for o superávit primário, mais caixa terá o governo para pagar os
juros da dívida pública, segundo
reza a ortodoxia econômica.
Governo e analistas econômicos
que defendem o aumento da meta
de superávit partem do pressuposto de uma guerra de curta duração. "Mesmo assim ela terá impacto sobre o câmbio -pois haveria retração da economia mundial e redução do fluxo de capitais
externos para o país- e sobre os
juros", diz Francisco Pessoa Faria,
economista sênior da LCA Consultores. O aumento do superávit
primário neste momento, segundo ele, busca evitar o impacto dessa pressão do câmbio e dos juros
sobre a dívida pública e com isso
manter condições de obter recursos externos para fechar as contas
do governo.
"O caminho que o governo pretende adotar é correto e o menos
custoso dentro de um cenário de
guerra que, se acredita, será curta", diz Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas. "Mas numa guerra há riscos imponderáveis e, se ela se prolongar, daqui a
três ou quatro meses terá de ser
avaliado o impacto do conflito no
país", acrescenta.
Para Francisco Luiz Lopreato,
especialista em política fiscal e
professor da Unicamp, no caso de
uma guerra prolongada o governo poderá até ter de aumentar a
meta de superávit e os juros nos
próximos meses. Por isso, ele
questiona a adoção de uma nova
meta agora. "Será que no caso de
uma turbulência internacional
provocada pela guerra vai fazer
muita diferença um superávit primário um pouco maior?", diz.
Na opinião do economista Geraldo Biasoto, ex-secretário de investimentos do Ministério da
Saúde do governo FHC, o governo está se precipitando. "Ele poderia manter a meta atual, de superávit primário equivalente a
3,75% do PIB, e aguardar os desdobramentos da crise externa",
diz ele. O risco que o governo corre, segundo ele, é colocar metas
ambiciosas demais que passarão a
ser perseguidas pelo mercado e,
se não forem cumpridas, perder
credibilidade.
A idéia dominante que leva o
governo a um novo esforço fiscal
é a da "sustentabilidade da dívida
pública porque isso garantiria juros mais baixos no futuro", explica Lopreato. Uma medida da sustentabilidade da dívida é o percentual que ela representa do PIB
(Produto Interno Bruto, a soma
das riquezas de um país).
Se a relação entre o montante da
dívida e o tamanho do PIB aumenta, a tendência é as incertezas
dos investidores quanto à capacidade de o governo honrar seus
compromissos crescerem.
E medo de calote fecha as portas
do mercado, encarecendo empréstimos e diminuindo a entrada
de recursos no país. Uma maior
pressão no câmbio é um dos efeitos perversos desse movimento.
Esforço
Nos últimos anos, mesmo com
o esforço fiscal extra feito pelo governo, a relação dívida/PIB não
parou de aumentar. Nem mesmo
o percentual recorde de superávit
primário alcançado em 2002 foi
suficiente para segurar o crescimento dessa variável.
Em 2001, o governo conseguiu
um superávit primário de 3,7%
do PIB. A dívida líquida do setor
público em relação ao PIB fechou
em 52,6% naquele ano. Já em
2002, o superávit alcançado foi de
4,06%, enquanto a relação dívida/PIB saltou para 55,9%.
Mesmo com o governo anunciando que deve apresentar ainda
nesta semana a nova meta de superávit primário para o ano, que
deverá ser superior à de 2002, o
mercado está pessimista quanto
ao crescimento da dívida pública.
Na opinião das principais instituições financeiras, apurada pelo
boletim "Focus" do Banco Central até o último dia 24, a relação
dívida líquida/PIB no final deste
ano deve estar em 57,6%, bem superior à registrada em 2002. Isso
se explica pela elevação da taxa de
juros e pela valorização do dólar.
Texto Anterior: Outro lado: Empresa afirma que tem regras rígidas que impedem prática Próximo Texto: Conflito turva efeito de arrocho fiscal no PIB Índice
|