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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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Conflito turva efeito de arrocho fiscal no PIB

DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento econômico do país vai estar condicionado, neste ano, muito mais pelos efeitos da guerra contra o Iraque do que por qualquer ação do governo, na opinião de economistas ouvidos pela Folha. Por isso, segundo eles, é difícil avaliar se o aumento da meta de superávit primário poderá ter impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto).
"As perspectivas de crescimento estão comprometidas pelos efeitos negativos da guerra, não fosse por isso o PIB poderia crescer 3% ou mais", diz Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas do IBGE. Mesmo assim, ele estima um crescimento em torno de 2% para este ano.
Mesmo com um ajuste fiscal mais forte para enfrentar os riscos da guerra, ele diz acreditar que essa expansão será possível, pois nos últimos anos o país "vacinou-se para enfrentar crises externas".
O déficit em conta corrente caiu de US$ 33,6 bilhões, em 1998, para US$ 7,8 bilhões no ano passado; a balança comercial, que naquele ano amargava um saldo negativo de US$ 6,6 bilhões, fechou 2002 com superávit de US$ 13,1 bilhões; e o coeficiente dívida externa líquida/exportações caiu. Em 1998, a dívida externa líquida correspondia a 3,5 vezes as exportações brasileiras; no ano passado, caiu para 2,9 vezes.
"Estamos hoje menos vulneráveis às turbulências externas", diz Giambiagi. Por isso, segundo ele, enquanto no passado as crises internacionais exigiram uma recessão da economia local (para evitar explosão da inflação), hoje elas podem ser suportadas com um crescimento modesto do PIB. "Os efeitos dessas crises são menos traumáticos para a população do que no passado", acrescenta.
Para Geraldo Biazoto, ex-secretário de investimento do Ministério da Saúde, ainda é cedo para avaliar se o aumento da meta de superávit compromete o crescimento econômico. "Vai depender muito do papel que o BNDES e o Banco do Brasil terão no financiamento dos investimentos produtivos", diz ele.
O economista Francisco Luiz Lopreato, da Unicamp, admite que é muito difícil o governo abrir mão de uma meta de superávit primário razoável e juros altos já no início do governo, pois essa é a concepção econômica que prevalece no mundo, para conter a inflação e equilibrar as contas públicas. "Mas daí a achar que vai dar para ter crescimento econômico é uma longa distância", afirma.
Segundo ele, o aumento da meta do superávit primário, aliado aos juros altos, poderá, sim, levar a uma redução do crescimento. Na sua opinião, se o país fizer "o superávit que for necessário", como prega o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, "estará dando um tiro no pé".
"Por esse caminho cairemos numa situação de baixo crescimento. Qualquer turbulência vai provocar um movimento brusco no câmbio e exigir aumento de juros, jogando por terra todo o esforço de superávit primário de três ou quatro anos." (SB e FV)


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