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Conflito turva efeito de arrocho fiscal no PIB
DA REPORTAGEM LOCAL
O crescimento econômico do
país vai estar condicionado, neste
ano, muito mais pelos efeitos da
guerra contra o Iraque do que por
qualquer ação do governo, na
opinião de economistas ouvidos
pela Folha. Por isso, segundo eles,
é difícil avaliar se o aumento da
meta de superávit primário poderá ter impacto sobre o PIB (Produto Interno Bruto).
"As perspectivas de crescimento estão comprometidas pelos
efeitos negativos da guerra, não
fosse por isso o PIB poderia crescer 3% ou mais", diz Fabio Giambiagi, especialista em contas públicas do IBGE. Mesmo assim, ele
estima um crescimento em torno
de 2% para este ano.
Mesmo com um ajuste fiscal
mais forte para enfrentar os riscos
da guerra, ele diz acreditar que essa expansão será possível, pois
nos últimos anos o país "vacinou-se para enfrentar crises externas".
O déficit em conta corrente caiu
de US$ 33,6 bilhões, em 1998, para
US$ 7,8 bilhões no ano passado; a
balança comercial, que naquele
ano amargava um saldo negativo
de US$ 6,6 bilhões, fechou 2002
com superávit de US$ 13,1 bilhões; e o coeficiente dívida externa líquida/exportações caiu. Em
1998, a dívida externa líquida correspondia a 3,5 vezes as exportações brasileiras; no ano passado,
caiu para 2,9 vezes.
"Estamos hoje menos vulneráveis às turbulências externas", diz
Giambiagi. Por isso, segundo ele,
enquanto no passado as crises internacionais exigiram uma recessão da economia local (para evitar
explosão da inflação), hoje elas
podem ser suportadas com um
crescimento modesto do PIB. "Os
efeitos dessas crises são menos
traumáticos para a população do
que no passado", acrescenta.
Para Geraldo Biazoto, ex-secretário de investimento do Ministério da Saúde, ainda é cedo para
avaliar se o aumento da meta de
superávit compromete o crescimento econômico. "Vai depender
muito do papel que o BNDES e o
Banco do Brasil terão no financiamento dos investimentos produtivos", diz ele.
O economista Francisco Luiz
Lopreato, da Unicamp, admite
que é muito difícil o governo abrir
mão de uma meta de superávit
primário razoável e juros altos já
no início do governo, pois essa é a
concepção econômica que prevalece no mundo, para conter a inflação e equilibrar as contas públicas. "Mas daí a achar que vai dar
para ter crescimento econômico é
uma longa distância", afirma.
Segundo ele, o aumento da meta do superávit primário, aliado
aos juros altos, poderá, sim, levar
a uma redução do crescimento.
Na sua opinião, se o país fizer "o
superávit que for necessário", como prega o ministro da Fazenda,
Antonio Palocci Filho, "estará
dando um tiro no pé".
"Por esse caminho cairemos
numa situação de baixo crescimento. Qualquer turbulência vai
provocar um movimento brusco
no câmbio e exigir aumento de juros, jogando por terra todo o esforço de superávit primário de
três ou quatro anos."
(SB e FV)
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