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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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LIGAÇÕES PERIGOSAS

Lei está em fase de regulamentação pela prefeitura; faísca produzida por telefone pode causar explosão

Falar ao celular em posto dá multa em SP

Ormuzd Alves/Folha Imagem
Cartaz alerta sobre a proibição do uso de celular em posto em SP


DENISE CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo está em fase de regulamentação da lei 13.444, que proíbe o uso do telefone celular em postos de gasolina. Sancionada pela prefeita Marta Suplicy em outubro de 2002, a lei prevê multa, que deve ser definida na regulamentação, para quem estiver falando ao celular e para o dono do posto que permitir o uso. Para pessoas que reincidirem na infração, a multa deve ser maior.
A medida, que é adotada no Rio de Janeiro desde a aprovação de uma lei em 1996, ainda causa polêmica a respeito da possibilidade de explosão a partir do contato das faíscas que podem ser produzidas nos aparelhos com os gases inflamáveis gerados em postos de combustíveis. Nunca foi registrado um incidente em qualquer país do mundo. Mas uma rara combinação de situações pode ser fatal.
"A chance de uma explosão acontecer é rara, mas não é impossível. Se o risco não é zero, deve ser evitado", avalia o especialista em controle de energia Moacyr Duarte, pesquisador da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Duarte fez testes para verificar a probabilidade de ocorrer explosão, a pedido da BR Distribuidora, da Petrobras. Ele pôs gasolina e um celular em um recipiente destampado. Um tijolo serviu de apoio do aparelho, para evitar que ele ficasse submerso na gasolina. Após efetuadas cerca de 30 chamadas, o aparelho explodiu. O pesquisador explica que o ambiente criado no recipiente deflagrou a reação da combustão. Segundo ele, um celular pode funcionar como fonte de ignição de uma nuvem de vapor de gasolina.
"Uma fonte de energia concentrada e de ação instantânea provoca o início de um incêndio ou explosão conforme as características do ambiente (confinado ou não) e a dispersão da nuvem, composta de vapor de gasolina e ar atmosférico. As fagulhas elétricas são fontes mais comuns de ignição localizada." Segundo ele, os modelos de celulares mais antigos têm um espaço interno maior em relação aos novos, que permite armazenar vapor do combustível. Nesse caso, o perigo acontece principalmente quando soam as campainhas dos celulares. Nos novos modelos, mais compactos, é quase nula a chance de o vapor entrar no celular.
O engenheiro José Thomaz Senise, que coordena projeto que envolve estudo sobre reações químicas incentivadas por microondas, ressalta que a chance de explosão é quase improvável em postos de gasolina. "Para ocorrer o incidente, o ambiente precisaria ser fechado, sem ventilação e ter alta concentração de vapor de gasolina. Quanto à saúde, não há risco de radiação pelas ondas eletromagnéticas emitidas pelo celular. Os fatores de segurança determinados pelos organismos internacionais são seguros", diz.

Selo de qualidade
Hoje, os fabricantes de celulares respeitam as regras da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que criou um selo de qualidade para garantir a padronização dos produtos conforme as recomendações da ICNIRP, uma comissão internacional de proteção. A organização tem respaldo da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Embora o selo de qualidade seja concedido desde 91, a Anatel garante que os modelos de aparelhos de celulares antigos não apresentam risco à saúde e à segurança dos usuários. Esse tipo de modelo já recebia certificação de uso de acordo com as regras da OMS. A emissão do selo de certificação surgiu da necessidade da população de ter uma garantia de que as ondas eletromagnéticas emitidas pelos aparelhos não provocavam problemas relacionadas a câncer e outras doenças.



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