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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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SANGRIA DAS MÚLTIS

Só 5% do capital nacional aplicado no exterior está em fábricas; aumento pode elevar saldo comercial

Indústria só debuta na internacionalização

DA REPORTAGEM LOCAL

O setor industrial brasileiro engatinha em seu processo de internacionalização, sofre com o alto custo de capital e quando se atreve a ir para o exterior o faz na maioria das vezes como alavanca para suas exportações.
De acordo com pesquisa do Banco Central, em 2001 havia US$ 69,6 bilhões de ativos de brasileiros no exterior. Considerado somente o investimento direto (US$ 43,6 bilhões), o montante destinado à indústria correspondia a apenas US$ 2,1 bilhões -ou 5%.
A maior parte, ou US$ 39,799 bilhões (91,2%), estava empregada no setor de serviços, que inclui bancos, holdings, construtoras, empresas de transporte e comércio. Não mais que US$ 1,671 bilhão (3,8%) fora aplicado no setor agropecuário e na extração mineral no exterior -deste montante, US$ 1,556 bilhão, consumido pela extração de petróleo.
Dos US$ 2,171 bilhões empregados na atividade industrial, US$ 626 milhões (28,8%) foram para a produção de coque (carvão), refino de petróleo e produção de álcool; US$ 440 milhões (20,3%) para produtos minerais não-metálicos (Vale do Rio Doce). Em seguida aparecem fumo (8,6%), veículos (7,3%), equipamentos eletrônicos (6%), celulose e papel (5,7%), alimentos e bebidas e produtos de metal, ambos com fatia de 5,5% ou US$ 118 milhões, cada.
""A empresa brasileira que se instala no exterior investe em serviços técnicos, escritórios de vendas, como fizeram a Sadia (que mantém centros de distribuição nos EUA e Argentina) e a Embraer (que abriu oficinas e escritórios nos EUA, Europa e Ásia e, no ano passado, anunciou uma joint venture na China)", diz Júlio Sérgio de Almeida, do Iedi.
Ou como a siderúrgica Gerdau, que, para driblar barreiras comerciais, adquiriu nos últimos anos usinas no Uruguai, no Chile, nos EUA, na Argentina e no Canadá.
Outro trabalho, da Funcex (Fundação de Estudos de Comércio Exterior), divulgado em novembro, mostrava que, das empresas brasileiras dispostas a investir no exterior, 65% pretendiam fazê-lo em representações comerciais e distribuição. Somente 8% pretendiam adquirir ativos.
Um dos argumentos usados por pesquisadores para a baixa internacionalização seria o tamanho e o dinamismo do mercado brasileiro. Não é apenas isso. "Entre as grandes dificuldades está o custo de capital. Enquanto uma companhia estrangeira se financia pagando uma taxa de juros de 5%, a brasileira, se tomar capital aqui, paga 20%", diz Almeida.
Para o Iedi, a expansão da internacionalização das indústrias passará, antes, pelo aumento da corrente de comércio. "A internacionalização é essencial por dois motivos: primeiro porque as empresas precisam estar no exterior para que possam tomar decisões (de compradores) que são cada dia mais globalizadas. Segundo, porque elas elevam nossas exportações", completa o economista. (JOSÉ ALAN DIAS)


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