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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003
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PÚBLICO E PRIVADO Presidente do BC diz que vendeu papéis do FleetBoston que se valorizaram em quase US$ 100 mil Lucro de banco valoriza ações de Meirelles
NEY HAYASHI DA CRUZ DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O lucro alcançado por um dos maiores bancos privados do mundo valorizou em quase US$ 100 mil ações do presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, no FleetBoston. Ele trabalhou na empresa até agosto do ano passado. O Fleet opera no Brasil por meio do BankBoston. O valor se refere à parcela de dividendos que coube a Meirelles por sua participação acionária no FleetBoston. No último dia 18, o banco anunciou que distribuiria lucros a seus proprietários, na proporção de US$ 0,35 por ação. Esse pagamento será feito a todos que ainda possuírem as ações nesta segunda-feira. Já no dia do anúncio, o valor dos dividendos foi incorporado à cotação das ações. Isso ocorre porque o investidor que as vendesse antes de segunda-feira estaria passando adiante não só a ação do banco mas também o direito a receber esses dividendos. Na última terça-feira, Meirelles informou à Folha, por meio de sua assessoria, que possuía 275.575 ações do banco. No dia seguinte, disse ainda que não via nada de errado no fato de um presidente do BC possuir ações de um banco. Afirmou que tinha a intenção de vender os papéis até o final de abril, no máximo. Na sexta-feira, Meirelles voltou a procurar a reportagem para dizer que, na verdade, informara um montante de ações correspondente à "posição de janeiro". Já não possuiria nenhuma ação do FleetBoston, tendo vendido todas elas. A reportagem quis saber a data da transação. Meirelles disse que não sabia. Ainda que não tenha esperado o dia efetivo do pagamento dos dividendos, o simples fato de a venda das ações ter sido feita após o anúncio da distribuição de lucros já incorporaria os ganhos. Essas ações davam a Meirelles direito a receber dividendos no valor de US$ 96.451,25. Em reais, os ganhos seriam de aproximadamente R$ 340 mil -o equivalente a 41,5 salários de R$ 8.250 recebidos mensalmente do BC. Antes de descobrir, na sexta-feira, que suas ações haviam sido vendidas, Meirelles dissera, na quarta-feira, que sua aplicação no Fleet não estava "em desacordo com nenhuma norma" em vigor no país. O Código de Conduta da Alta Administração Federal (CCAAF) diz, em seu artigo 5º, inciso II, parágrafo 1º: "É vedado o investimento em bens cujo valor ou cotação possa ser afetado por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função". Uma das funções do BC é regulamentar e supervisionar o sistema financeiro, além de conduzir as políticas monetária e cambial no país. As medidas tomadas pela instituição presidida por Meirelles têm efeito sobre todos os bancos que atuam no país, inclusive sobre o BankBoston -oitavo maior banco do Brasil-, filial do FleetBoston -sétimo maior dos Estados Unidos. As decisões relativas ao câmbio estão entre as mais sensíveis tomadas pelo BC atualmente. Uma política agressiva de intervenções, com sucessivas vendas de dólares no mercado, poderia fazer com que a cotação caísse repentinamente. Por outro lado, a ausência de intervenções pode favorecer a desvalorização do real. As ações do Fleet são cotadas em dólar e, em sua maioria, são negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Isso significa que, quanto mais alta a cotação da moeda norte-americana no Brasil, maior a rentabilidade, em reais, que um investidor brasileiro obtém com esse investimento. O BC também é o responsável pela definição dos juros básicos, a taxa Selic. Essa é a taxa que remunera a maior parte dos títulos públicos federais em circulação no mercado hoje. Quem mais aplica nesses papéis são os fundos e os bancos. Quanto mais altos os juros, maior a rentabilidade. Desde que Meirelles assumiu a presidência do BC, em janeiro, os juros subiram 1,5 ponto percentual, chegando a 26,5% ao ano. Em setembro passado, dado mais recente divulgado, o BankBoston possuía R$ 981 milhões investidos em títulos emitidos pelo Tesouro. Bancos estrangeiros também podem auferir ganhos maiores se conseguirem prever, com exatidão, quando os governos de determinados países irão fazer captações de recursos no mercado internacional. No Brasil, as informações referentes a essas transações são guardadas pela direção do BC, a quem cabe decidir o momento de fechar as operações. Lançamentos de títulos costumam puxar a valorização dos papéis que já estão em circulação, beneficiando seus detentores. Texto Anterior: Luís Nassif: O rei do riso Próximo Texto: Outro lado: Presidente do BC afirma que já vendeu todos os papéis que tinha Índice |
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