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FOGO AMIGO
José Genoino quer mais espaço para investimentos na área produtiva
Presidente do PT defende
meta de superávit menor
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A divulgação do mau desempenho da economia em 2003 e a necessidade de apresentar uma
agenda positiva como contraponto às suspeitas de corrupção no
governo intensificaram, na base
petista, as pressões pelo abrandamento da política econômica,
particularmente em relação ao
controle de gastos públicos.
Em entrevista divulgada ontem
pelo site do partido, o presidente
do PT, José Genoino, defendeu a
redução das metas de superávit
primário -economia de receitas
destinada a pagar juros da dívida,
pilar da política do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
"É fundamental que essa negociação com o FMI [Fundo Monetário Internacional] diminua o tamanho do superávit primário",
disse Genoino. "Com isso, você
tem melhores condições para investimentos maiores em programas sociais e na área produtiva."
Na mesma entrevista, Genoino
afirmou que "a solidariedade à
Argentina é fundamental", embora não tenha defendido explicitamente a estratégia de endurecimento com o FMI e os credores
seguida pelo país vizinho.
Outro sinal do mal-estar petista
é o PPA (Plano Plurianual), que
estabelece diretrizes para os investimentos públicos de 2004 a
2007 e será apresentado hoje na
Comissão de Orçamento do Congresso. O governo foi obrigado,
no mês passado, a derrubar o relatório do senador Saturnino Braga (PT-RJ) para o PPA, pois o texto previa a queda gradual do superávit -dos atuais 4,25% para
3,25% do PIB (Produto Interno
Bruto) em 2007.
Embora tenha mantido, como
queria a equipe econômica, o
mesmo patamar de superávit durante todo o período do PPA, o
novo relator, Sibá Machado (PT-AC), não mostra grande convicção: "Eu confesso que estou fazendo o relatório com base na
orientação do governo".
Machado afirma que não há
sentido em relacionar as acusações de corrupção contra o governo à redução do superávit, mas
não diz o mesmo em relação à
queda de 0,2% do PIB em 2003.
"O problema é o resultado do PIB.
Isso é motivo para outra conversa
[com a bancada e o governo]."
O senador resume a opinião do
partido sobre o superávit: "Todos
nós concordamos que meta de
superávit, quanto menor, melhor". Segundo ele, o governo argumentou, em defesa da política
fiscal, que era preciso dar um sinal
de credibilidade, em especial para
o mercado externo.
No relatório que apresenta hoje,
Machado decidiu incluir o que
chama de "um sinal para dentro".
Para não ser obrigado a cortar os
gastos adicionais propostos por
deputados e senadores com base
na folga permitida pelo projeto
anterior, o petista optou por um
artifício comum no Congresso:
inflou a previsão de receitas.
Para isso, a principal medida foi
prever "receitas atípicas" de R$
33,6 bilhões entre 2004 e 2007.
Embora comuns, tais receitas, como diz o nome, são imprevisíveis.
Questionado ontem sobre o
PPA e a política fiscal, o principal
porta-voz econômico do PT no
Congresso, o senador Aloizio
Mercadante (SP), preferiu a discrição, mas não deixou de defender regras mais flexíveis.
Repetiu que o governo se comprometeu a discutir em 2005 a
adoção do superávit anticíclico,
pelo qual as metas fiscais seriam
suavizadas em momentos de retração da economia. Palocci, em
tese, apóia a medida, mas só para
quando a dívida pública estiver
em níveis mais baixos -o que,
pela própria previsão de sua equipe, não ocorrerá neste governo.
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