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OCDE vê país na rota do crescimento
CÍNTIA CARDOSO
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
Com uma combinação de forte
ajuste externo, aumento das exportações e ajuste fiscal, o Brasil
está na trajetória do crescimento
sustentável. A avaliação é da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e consta de um estudo sobre o
Brasil divulgado ontem no Rio.
"Depois de anos de crescimento
fraco, 2004 foi muito positivo para o Brasil. Acreditamos que a estrutura macroeconômica estabelecida esteja correta e possa sustentar o crescimento", avaliou
Andrew Dean, vice-diretor do
Departamento de Estudos Econômicos da organização.
O crescimento de 5,2% do PIB
brasileiro em 2004 superou as
projeções da organização, que
calculava taxa de 4,5% para o ano
passado. Em maio, a OCDE vai revisar as projeções para o país.
Entre os "pontos fortes" da economia brasileira, Dean destacou a
administração da dívida pública,
a manutenção do superávit primário acima de 4% do PIB e a
adoção do mecanismo de metas
de inflação pelo Banco Central.
Sobre o superávit primário, porém, o economista da OCDE argumenta que um patamar de 5%
"seria mais confortável" para a dívida, uma das principais vulnerabilidades da economia brasileira.
O secretário do Tesouro, Joaquim Levy, rebateu e disse que o
governo está com um patamar
adequado de superávit primário
para o cenário atual. "O número
certo hoje é 4,25%. Pode ser que a
OCDE tenha outras perspectivas,
e é legítimo que proponha o percentual que considera adequado."
Mas, ao mesmo tempo em que
sugere superávit primário maior,
a OCDE recomenda que o Brasil
invista mais em programas sociais. "As despesas com transferência focada em renda, tais como
programas de assistência às crianças, aos idosos e aos deficientes,
são responsáveis por uma fração
relativamente pequena das despesas sociais, bem abaixo da média
dos países da OCDE."
Para equilibrar mais arrocho
fiscal com maiores gastos sociais,
a receita da organização é simples:
melhoria da qualidade das despesas do governo. Assim, uma das
propostas é a eliminação do dispositivo constitucional que vincula o reajuste do piso das aposentadorias ao do salário mínimo.
Para José Alexandre Scheinkman, professor da Universidade
Princeton (EUA), a diminuição
da rigidez orçamentária brasileira
é desejável, porém de difícil implementação. "O grau de vinculação nunca será zero", afirmou o
economista, que participou de
mesa-redonda sobre o estudo.
Obstáculos
Apesar de afirmar que o Brasil
está colhendo os frutos de uma
"condução prudente das políticas
públicas", a OCDE enumera uma
série de fatores que comprometem o crescimento. Um dos principais entraves é o baixo volume
de investimentos. "O nível de investimentos nos últimos anos tem
sido muito volátil", disse Luiz de
Mello, economista-sênior da OCDE. O estudo diz que o atual nível
de investimentos em infra-estrutura, por exemplo, não é suficiente para dar fôlego ao crescimento.
As PPPs (Parcerias Público-Privadas) são apontadas como uma
forma de superação desse gargalo. Mas, avalia a OCDE, antes de
conseguir arregimentar investidores, o Brasil terá que oferecer
um "ambiente mais propício".
Para isso, a organização propõe
a estimulação dos mecanismos de
concessão de crédito. Outra receita já conhecida -e mais uma vez
ressaltada pela organização- é a
de reforço de arcabouços regulatórios. "A incerteza regulatória
impõe um alto custo sobre os investimentos privados."
"As PPPs são para complementar, e não para substituir os investimentos públicos", disse Bernard
Appy, secretário-executivo do Tesouro, que participou do lançamento do estudo. Appy afirmou
que as microrreformas em andamento já contemplam a melhoria
do mercado de crédito brasileiro.
Colaborou Janaina Lage, da Folha Online, no Rio
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