São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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RETOMADA

Ministro usa resultados do PIB para defender agenda do governo no Congresso; para ele, "Brasil precisa construir uma pauta política"

Palocci vê crescimento equilibrado do país

GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na previsível entrevista coletiva destinada a comemorar os números do crescimento econômico, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) proclamou o fim dos "vôos de galinha" -os ciclos de prosperidade de curta duração- e usou os resultados como argumento em favor da agenda legislativa do governo, que enfrenta resistências da oposição e dos partidos aliados.
"O Brasil precisa ter confiança nesses números e conseguir construir uma pauta política que responda às necessidades de continuidade desse crescimento. Não é um momento de exacerbar eventuais diferenças políticas. O momento de exacerbar diferenças políticas, e isso é saudável, é o momento eleitoral."
O governo vive um período adverso no Congresso, que culminou na derrota do PT na disputa pela presidência da Câmara, que ficou com Severino Cavalcanti (PP-PE). Há projetos considerados estratégicos emperrados, como a reforma tributária e as novas regras para as agências reguladoras. Propostas mais polêmicas, como a reforma trabalhista e a autonomia do Banco Central, foram praticamente descartadas.
Na visão da Fazenda, essa agenda é fundamental para dar confiança a empresários e investidores, o que resultaria em maior impulso à expansão do PIB (Produto Interno Bruto), ainda muito vinculada ao bom momento da economia global -embora o discurso oficial pregue que o crescimento já é "sustentável".
"Este é o momento de aumentar a coesão do país em torno das metas de crescimento, de aperfeiçoamento das reformas, das questões que estão hoje no Congresso", disse Palocci, com a ressalva de que sua intenção não é usar os números do PIB para convencer os parlamentares.

Sem "vôo de galinha"
Como tem ocorrido desde o início da recuperação da atividade produtiva, a divulgação dos números do PIB serviu de oportunidade para a defesa da política econômica em geral, e da política monetária em particular.
"Não há nenhuma possibilidade de "vôos de galinha'", afirmou Palocci, em referência à expressão celebrizada para a definição dos períodos breves e logo abortados de crescimento econômico que caracterizaram a economia brasileira desde a década de 80. "O Brasil pode crescer de forma equilibrada por muitos anos." Neste ano, o mercado e os especialistas esperam uma redução da taxa de crescimento, para, em média, 3,7%.
O ministro amparou seu raciocínio na combinação de indicadores inédita na história recente do país: expansão do PIB com forte superávit comercial, déficit e dívida pública em queda, inflação controlada. Palocci incluiu ainda na lista o aumento da taxa de investimento registrado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Até o Copom -colegiado do BC que define os juros e promoveu seis aumentos consecutivos das taxas- mereceu elogios. "O tempo mostrou que as iniciativas do Copom se mostraram acertadas", disse Palocci, ao recordar a "polêmica" em torno das decisões do BC.
Apesar da defesa pública, a política monetária é alvo de críticas no governo e, de forma reservada, no próprio Ministério da Fazenda. Desde setembro, a taxa básica de juros, que serve de referência para as operações bancárias, foi elevada de 16% para 18,75% ao ano, o que ajuda explicar a queda da expectativa de crescimento neste ano.
Espera-se neste mês nova alta dos juros, para 19%, e o BC já avisou que a taxa só volta a cair quando houver segurança de cumprimento da meta de inflação de 2005, de 5,1%. "Mais uma vez a política monetária cumpre um papel importante no controle da inflação", disse Palocci.


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