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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
EUA crescem com
fragilidade financeira
GILSON SCHWARTZ
Da Equipe de Articulistas
O crescimento de 7,3% observado na economia norte-americana
no último trimestre de 1999 reacendeu as preocupações com a
saúde e a durabilidade de tão extraordinária expansão. A última
vez em que os EUA exibiram tamanho vigor foi há 15 anos, no
primeiro trimestre de 1984.
O exame das causas desse desempenho e a formulação de
prognósticos continuam longe do
consenso. Num dado momento,
os EUA cresciam mais, sem inflação, porque importavam mais do
resto do mundo, a custos declinantes. Agora, o crescimento superou as expectativas porque o
resto do mundo importou mais
dos EUA, cujas importações foram menos vigorosas no final de
99. Na semana passada, os pedidos de seguro-desemprego nos
EUA estavam no mais baixo nível
dos últimos 26 anos. Isso depois
de o Fed ter elevado os juros por
cinco vezes seguidas em 10 meses.
Em meio aos conflitos de opinião, ouçamos os sábios. Um deles é Franco Modigliani, economista de 81 anos que recebeu o
Prêmio Nobel em 1985. Ele declarou que a atual mania por ações
de Internet e outros setores de alta
tecnologia "não é irracional, mas
é uma bolha -e vai estourar".
O comentário ganhou ainda
mais relevância porque a Nasdaq,
a Bolsa em que são negociadas
ações de empresas de alta tecnologia, passou nos últimos dias por
sucessivas rodadas de desvalorização. Na sexta, no entanto, a
queda acumulada já era vista como suficiente para gerar novas
oportunidades de compra, e a
Nasdaq recobrou o fôlego. É um
consolo, às vésperas de uma conferência que vai acontecer na própria Casa Branca para discutir a
"nova economia".
Para Modigliani, o mínimo que
se pode dizer é que há uma bolha
puxando os preços de ações ligadas à Internet. Ele começou a vender seus papéis há um ano e recorda que, na crise de 29, somente
os que começaram a vender mais
cedo acabaram se saindo bem.
As suspeitas de Modigliani têm
origem na sua convicção de que
as tendências da economia dependem de fatores fundamentais
ignorados pelos especuladores.
No caso das ações, tudo se resume
à confiança na capacidade de as
empresas produzirem lucros, que
serão distribuídos aos acionistas.
Há duas fontes básicas para os
lucros. Uma, fundamental, é o
crescimento da economia, a expansão dos mercados, o aumento
da renda e do poder de compra de
empresas e indivíduos. Outra, especulativa, é a mera expectativa
de que os preços das ações subam.
Quando acontece de eles efetivamente subirem, os investidores
sentem-se confirmados em suas
expectativas e compram mais.
Modigliani, no entanto, reserva
uma ironia para as expectativas
que hoje se projetam sobre as Bolsas: se elas virassem realidade, o
PIB dos EUA teria de ser constituído integralmente de lucros.
Já no plano dos fundamentos, a
preocupação decorre da redução
recorde nos níveis de poupança
nos EUA, enquanto a renda tende
a crescer menos (a economia,
mais cedo ou mais tarde, desacelera, refletindo a alta dos juros).
Sem poupança, endividando-se
cada vez mais com lastro em expectativas de enriquecimento financeiro e prestes a entrar numa
fase de esfriamento da economia,
empresas e indivíduos podem subitamente perceber-se vítimas de
uma assincronia de fato fundamental. Sem poupança e com menos renda disponível, os endividados seriam metamorfoseados
em inadimplentes e caloteiros.
Ninguém sabe quando soarão
as 12 badaladas nem se a inversão
da espiral de expectativas vai
ocorrer abrupta e desabaladamente. E há quem aposte na capacidade de o Fed reduzir os juros e
intervir no mercado para reduzir
os riscos de uma nova crise de 29.
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