|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Provedores acumulam "déficit publicitário"
ADRIANA MATTOS
da Reportagem Local
Os provedores de acesso à Internet no país carregam um "déficit
publicitário" em suas contas há
anos.
Para reforçar suas marcas no
mercado, essas empresas desembolsam muito mais em mídias
tradicionais, como revistas e televisão, do que recebem de seus
anunciantes das páginas virtuais.
A diferença de valores deve chegar neste ano a R$ 840 milhões. A
conta é simples: apenas para reforçar sua presença no mercado,
os provedores devem gastar R$ 1
bilhão em propaganda, segundo
dados da AMI (Associação de Mídia Interativa).
Esse dinheiro será aplicado em
filmes publicitários e outdoors,
por exemplo, e representa o dobro do investido no ano passado.
Mas essas empresas devem faturar R$ 160 milhões em publicidade neste ano, ou apenas 16% de
seus próprios investimentos em
mídia tradicional.
Aqueles que estão na ponta, liderando o ranking das maiores
verbas destinadas a anúncios em
TV, jornais, revistas e outdoors,
são: Americanas.com, iG, Arremate e Universo Online (UOL),
segundo quatro agências de publicidade consultadas pela Folha.
São esperadas mudanças a curto
prazo, com a chegada do Globo.com.
A empresa mantém sigilo, mas
o mercado avalia que a empresa
gastará R$ 40 milhões em marketing apenas neste ano.
A diferença entre gastos e receitas em publicidade não é considerada problemática pelo setor. "O
fato de o déficit dobrar no ano, de
R$ 420 milhões para R$ 840 milhões, faz parte do jogo", diz Antonio Rosa, presidente da AMI.
O valor é relativo aos investimentos das 80 empresas associadas à AMI. Segundo ele, há companhias investindo até 70% de
sua receita mensal em ações de
marketing.
"Com a enxurrada de provedores no país, os líderes de mercado
precisam se fortalecer ou perderão participação", diz. "Ao mesmo tempo, aqueles que agora desembarcam no país são obrigados
a adotar uma política agressiva na
publicidade, pois do contrário
não serão percebidos."
O equilíbrio nas despesas e receitas em marketing parece longe
de ser atingido e empresários e
entidades do setor não se arriscam a prever o dia da virada. Até
porque, há certa dificuldade das
entidades em calcular o tamanho
do faturamento do mercado.
A Abranet, associação que representa os provedores, e a AMI
não têm o número de assinantes
no país hoje, ou mesmo dados de
faturamento das companhias
apenas com o acesso.
Porém levantamentos da Abranet mostram que 75% do total de
usuários são assinantes no Brasil,
nos últimos três anos consecutivos. Se a taxa permanecer, dos 8
milhões de usuários da rede previstos neste ano pela associação, 6
milhões serão assinantes.
Sabendo que o gasto médio do
internauta, apenas com mensalidade, deve ficar em R$ 20 em
2000, a receita dos provedores no
país (com o acesso) pode ser de
R$ 120 milhões por mês, ou R$
1,44 bilhão por ano.
É preciso lembrar que o serviço
de acesso gratuito deve abocanhar parte desses novos assinantes. Isso quer dizer que nem todos
pagarão mensalidade, e uma parcela da receita do segmento poderá cair.
A expectativa é que, com o passar dos anos, menos provedores
concentrarão maiores volumes de
verba publicitária das empresas.
Razão: o movimentado processo
de fusão e aquisição de provedores locais, liderado pelos maiores
do mercado.
"Anunciaremos uma série de
aquisições na América Latina ainda neste ano, talvez três ou quatro, e o Brasil está incluído", diz
Cláudio Pecorari, presidente da
PSINet, terceiro maior provedor
do país, com 140 mil assinantes.
Desde abril de 1999, a PSINet
adquiriu oito companhias nacionais -na Bahia, Minas Gerais,
Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
No final de março, a Velocom,
uma das controladoras da Vésper, adquiriu o provedor BRHS,
que presta serviços a 18 cidades
brasileiras. A Telefônica já tem
em sua carteira o Terra (ex-ZAZ),
segundo maior provedor do País.
Com as incorporações e alta
mortalidade de provedores de pequeno porte, a Abranet tem registrado queda no número de empresas que dão acesso à rede.
Até o final deste ano, devem
continuar no mercado em torno
de 150 a 200 empresas. No final de
1999 existiam entre 280 e 300, segundo estimativa de analistas. Para sobreviverem, os pequenos terão de dar mais espaço para conteúdo em suas páginas.
Cerca de 70% do faturamento
dos provedores nanicos vem do
pagamento da mensalidade ao
serviço de acesso gratuito. Sem
informação nas páginas, será difícil as empresas menores manterem sua receita. Além disso, será
preciso um planejamento a médio e longo prazos e a divulgação
de sua marca dentro da própria
rede.
Texto Anterior: Sobra capital, mas faltam bons projetos Próximo Texto: INTERNET DE RISCO: Novas empresas ficam na gaveta Índice
|