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PLANO CRUZADO
Parlamentares vão decidir se R$ 11,7 bi serão devolvidos a quem comprou carro e combustíveis
Congresso pode repor compulsório de 86
SÍLVIA MUGNATTO
da Sucursal de Brasília
O governo tem R$ 11,7 bilhões
separados em uma conta que rende o mesmo que uma caderneta
de poupança. É o dinheiro tomado dos contribuintes que pagaram o compulsório na compra de
combustíveis (28%) e veículos
(30%) entre 24 de julho 86 e 18 de
outubro de 88.
O empréstimo compulsório
ajudou o governo do ex-presidente José Sarney a fazer caixa e tinha
o objetivo de reduzir o "excesso
de poder aquisitivo" da população após o congelamento de preços do Plano Cruzado.
Só recebeu alguma coisa do
compulsório quem recorreu à
Justiça antes de esgotado o prazo
legal para reclamar esse direito
-dez anos depois de feito o recolhimento (1996). Agora, a esperança de ver esse dinheiro está no
Congresso.
Desde maio do ano passado está
pronto para entrar na agenda de
votações da Câmara um projeto
de lei enviado pelo próprio Executivo em 94 e que prevê a devolução dos empréstimos em dinheiro.
O deputado Ary Kara (PPB-SP),
relator do projeto na Comissão de
Constituição e Justiça, disse que
só está esperando o fim da primeira votação da reforma do Judiciário (provavelmente em uma
semana) para pedir aos líderes urgência na votação do projeto.
Prova do pagamento
Mas, apesar de ser o autor do
projeto original e de ter separado
o dinheiro, o governo não quis dizer se vai ou não apoiar, agora, a
aprovação da idéia. A assessoria
do presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o assunto
deveria ser comentado pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Acionado pelo ministro, o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, disse, por meio de
sua assessoria, que não tem o cadastro dos contribuintes que pagaram o compulsório sobre veículos. Na época, foi exigido o
preenchimento de um Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais) para o pagamento desse compulsório.
Segundo Maciel, nos cinco anos
em que está à frente da Receita
não apareceu nenhum contribuinte reclamando o dinheiro do
empréstimo. O secretário disse
que os contribuintes não teriam
como provar o que pagaram.
A restituição do dinheiro, segundo ele, não pode ser feita por
compensação no pagamento do
Imposto de Renda porque isso seria inconstitucional. O secretário
explicou que o IR é um imposto
compartilhado com os Estados e
municípios e isso poderia reduzir
as transferências.
Quando Sarney, hoje senador
pelo PMDB-AP, criou o empréstimo em julho de 86, a idéia era devolvê-lo três anos após o recolhimento. Isso nunca aconteceu.
Os contribuintes não reclamaram ao atual secretário da Receita
Federal, mas à Justiça. Um levantamento da Procuradoria Geral
da Fazenda Nacional mostra que
79.751 contribuintes reclamaram
a devolução do compulsório sobre veículos e 55.133, o compulsório sobre combustíveis.
Todo ano, o Orçamento da
União separa recursos para o pagamento dessas ações. Em uma
reedição da medida provisória
que criou o Cadin (Cadastro de
Inadimplentes da União), o governo decidiu que não iria mais
recorrer das sentenças favoráveis
à devolução do compulsório.
O decreto-lei nº 2.288/86, que
criou o compulsório, não exigia
dos contribuintes que pagaram o
empréstimo sobre o consumo de
combustíveis que eles comprovassem o pagamento para receber
o dinheiro de volta.
Pelo decreto, a Receita Federal
seria responsável pela divulgação
de uma tabela com o consumo
médio anual por veículo. Esses
valores seriam utilizados para a
restituição.
Em 86, segundo o Denatran
(Departamento Nacional de
Trânsito), existiam 15 milhões de
veículos em circulação.
Campanha do Idec
A assessora jurídica do Idec
(Instituto de Defesa do Consumidor), Dulce Soares, lembra que
também existiu um compulsório
(25%) sobre a venda de passagens
aéreas internacionais e sobre a
compra de dólares para viagens
internacionais (25%). Mas o Tesouro Nacional não tem essa conta separada.
O Idec promoveu uma campanha de esclarecimento da população em 96, quando o empréstimo
compulsório fez dez anos e o direito à reclamação na Justiça começou a se esgotar. A Justiça só
aceita ações para o recebimento
de créditos tributários até dez
anos após o recolhimento.
Plano Collor
No dia 15 de março foi encerrado o prazo para quem tinha caderneta de poupança em 15 de
março de 90 contestar na Justiça o
expurgo do Plano Collor 1 referente àquele mês.
Em 15 deste mês termina o prazo para pedir a diferença de abril,
e assim por diante, até agosto deste ano.
Em 15 de março de 90 o governo
decidiu alterar a forma de rendimento da poupança. O IPC do IBGE foi substituído pelo Bônus do
Tesouro Nacional Fiscal.
As poupanças com "aniversário" até o dia 13 receberam
85,2416%, correspondentes à inflação de 84,32% mais 0,5% de juro. A partir do dia 14 os créditos
foram proporcionais.
Em abril a diferença chegou a
44,80% para todos os poupadores. As diferenças foram inferiores a 5% entre maio e agosto.
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