São Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


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BOLSAS
Falência do Tiger Management é um exemplo de má performance de um fundo de alto risco nos EUA
Volatilidade abala confiança nas ações

do "The New York Times"

Como explicar a volatilidade das ações? O índice industrial médio Dow Jones caiu 16% entre seu pico, na metade de janeiro, e seu ponto mais baixo, no começo de março. Em Londres, o FTSE-100 caiu ao nível dos seis mil por duas vezes em fevereiro. Março foi melhor, mas o FTSE apresentou queda de 6% no trimestre.
Trata-se, no entanto, de índices em larga medida vinculados à velha economia.
Nos Estados Unidos, o índice Nasdaq, rico em ações do setor de tecnologia, subiu 24% no período, até chegar ao seu pico em março. O Techmark 100, de Londres, chegou a apresentar alta de 51% em determinado momento, mas a semana passada foi brutal e seus ganhos se reduziram a 15%.
Além da mania da ações do setor de tecnologia, os mercados de capitais também tiveram um prêmio, dado pelos bônus de longo prazo. O rendimento dos bônus de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos caiu de quase 6,5% a apenas 5,9%.
Isso é estranho em um período em que o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), elevou as taxas de juros em ritmo semelhante, e as pressões inflacionárias continuam preocupantes.

Bolsas
No entanto, depois de um inverno indiferente, as Bolsas de Valores estão agora caminhando rumo à primavera e ao começo do verão, normalmente um dos melhores períodos para elas.
Para além de fevereiro, o ímpeto de alta poderia ser reafirmado, mas havia um risco cada vez maior de que acontecesse o grande "crash", há tempo temido pelos pessimistas.
A volatilidade foi imensa ao longo do trimestre e não apenas no setor de tecnologia, onde a especulação chegou a níveis absurdos. O índice do setor bancário britânico registrou súbita queda de 24% no começo do ano, seguida rapidamente por uma recuperação da ordem dos 19%.
Um grupo de investidores, ao que parece, entrou em pânico com a idéia de que a Internet fosse destruir os bancos de varejo e suas vastas e dispendiosas cadeias de agências. A seguir, os compradores calcularam que sites na Internet poderiam representar uma ótima nova oportunidade de negócios para os banqueiros.
Essa espécie de volatilidade pode estar refletindo, em parte, o triste fim de muitos dos tradicionais investidores em valor -os estrategistas "do contra", que vendem ações que parecem caras e as recompram quando voltam a parecer baratas.
Julian Roberson, da Tiger Management, um conhecido grupo de fundos de "hedge" de Nova York, é o mais recente dos investidores em valor a desistir depois de apresentar resultados fracos.
A economia global continuou a se acelerar e, ainda que os preços das commodities tenham se mantido quietos, houve sinais de alerta dos mercados de petróleo cru, onde o balanço de poder voltou a se inclinar firmemente na direção dos produtores.
De certa forma, as Bolsas de Valores parecem estar presumindo que a economia mundial vai perder velocidade. A corrida do ano passado pela compra de algumas ações cíclicas foi revertida. A única coisa que poderia perturbar os mercados seria a debilidade do dólar. No entanto, a moeda norte-americana continua a parecer muito sólida, a despeito do déficit comercial cada vez maior dos Estados Unidos. Mas isso vai durar? O risco de um ajuste abrupto desses desequilíbrios é bastante alto, ainda que não necessariamente iminente. No entanto, é preocupante ver que os políticos, bem como os financistas, agora se consideram capazes de caminhar sobre as águas.


Tradução de Paulo Migliacci


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