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CONJUNTURA
Líderes europeus resistem a adotar modelo norte-americano que prega proteção social mínima
Europa "inveja" o crescimento dos EUA
GERALD BAKER
do "Financial Times"
A despeito das medidas adotadas pelos líderes europeus no último final de semana com o objetivo de reduzir a diferença competitiva da região em relação à economia norte-americana, eles continuam ambivalentes quanto ao
crescimento desenfreado dos
EUA nos últimos anos.
Por um lado -como revelam
as promessas de desregulamentar
as telecomunicações, liberalizar
os mercados financeiros e acelerar o desenvolvimento do setor de
tecnologia da informação-, há
um crescente, se bem que relutante, reconhecimento de que os Estados Unidos vêm fazendo alguma coisa direito.
Mas a retórica empregada continua a conter uma boa dose de
desdém ameno, que sugere que a
Europa seria capaz de melhorar o
modelo que foi inaugurado pelos
Estados Unidos.
Os líderes europeus acreditam-se capazes de atingir a fugaz síntese entre o sucesso econômico e a
coesão social ao recusarem avançar pelo caminho da "sociedade
de mercado", com mão-de-obra
barata e proteção social mínima.
Mas, pelo menos, surgiu a admissão de que há lições a serem
aprendidas.
Em suas avaliações menos públicas do desempenho norte-americano, alguns funcionários
dos governos continentais europeus sequer tentam disfarçar sua
opinião de que o crescimento que
vem sendo conquistado pelos
EUA é um dos exemplos mais
egrégios já vistos do "capitalismo
de cassino".
Os europeus acreditam que o
crescimento elevado da demanda
foi alimentado não pelo crescimento real do potencial produtivo, mas por um surto de especulação, uma perda nacional do autocontrole financeiro.
Colapso
No momento em que tentam
emular a explosão da Internet,
existem muitos dentre eles que
consideram a febre desse segmento como um excesso que resultará inevitavelmente em um
colapso econômico.
Vamos ver o que esse pessoal terá a dizer sobre o maravilhoso
modelo norte-americano quando
o lado negativo da flexibilidade
econômica e social conduzir a
uma rápida alta do desemprego,
ao empobrecimento e à inquietação social, murmuram os críticos.
Essa postura -admiração relutante temperada pela antecipação
sorridente da desgraça alheia-
não leva em conta a principal lição econômica que a história dos
últimos anos tem a ensinar em
ambos os lados do Atlântico.
Sem medidas que tornem os
mercados de trabalho europeus
mais parecidos com os dos Estados Unidos -a única solução que
os políticos europeus recusam a
priori-, as tentativas de engendrar uma cultura econômica inovadora e empreendedora irão por
água abaixo.
Custo social
A ênfase nas críticas européias
aos EUA fica sempre no custo social de um sistema econômico
desregulamentado, e ela deixa escapar o verdadeiro ponto fraco na
retomada do crescimento econômico norte-americano. Ironicamente, é uma debilidade que as
medidas européias para aumentar a flexibilidade dos mercados
de trabalho também podem ajudar a resolver.
Uma das características mais
notáveis da economia dos EUA
nos últimos 30 anos vem sendo
uma debilidade estrutural no balanço de pagamentos que age como freio para o desenvolvimento
econômico interno. O problema é
que os Estados Unidos estão muito mais dispostos a importar de
outros países do que estes estão
dispostos a importar dos EUA.
Isso significa que, se as rendas
estiverem crescendo exatamente
ao mesmo ritmo nos EUA e no
restante do mundo, a conta corrente norte-americana se deteriorará constantemente. E, ao longo
do tempo, esse desequilíbrio terá
de ser enfrentado por meio de
uma constante desvalorização do
dólar norte-americano, o que seria uma potencial fonte de grandes instabilidade para a economia
do mundo.
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