São Paulo, domingo, 02 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CONJUNTURA
Líderes europeus resistem a adotar modelo norte-americano que prega proteção social mínima
Europa "inveja" o crescimento dos EUA


GERALD BAKER
do "Financial Times"

A despeito das medidas adotadas pelos líderes europeus no último final de semana com o objetivo de reduzir a diferença competitiva da região em relação à economia norte-americana, eles continuam ambivalentes quanto ao crescimento desenfreado dos EUA nos últimos anos.
Por um lado -como revelam as promessas de desregulamentar as telecomunicações, liberalizar os mercados financeiros e acelerar o desenvolvimento do setor de tecnologia da informação-, há um crescente, se bem que relutante, reconhecimento de que os Estados Unidos vêm fazendo alguma coisa direito.
Mas a retórica empregada continua a conter uma boa dose de desdém ameno, que sugere que a Europa seria capaz de melhorar o modelo que foi inaugurado pelos Estados Unidos.
Os líderes europeus acreditam-se capazes de atingir a fugaz síntese entre o sucesso econômico e a coesão social ao recusarem avançar pelo caminho da "sociedade de mercado", com mão-de-obra barata e proteção social mínima.
Mas, pelo menos, surgiu a admissão de que há lições a serem aprendidas.
Em suas avaliações menos públicas do desempenho norte-americano, alguns funcionários dos governos continentais europeus sequer tentam disfarçar sua opinião de que o crescimento que vem sendo conquistado pelos EUA é um dos exemplos mais egrégios já vistos do "capitalismo de cassino".
Os europeus acreditam que o crescimento elevado da demanda foi alimentado não pelo crescimento real do potencial produtivo, mas por um surto de especulação, uma perda nacional do autocontrole financeiro.

Colapso
No momento em que tentam emular a explosão da Internet, existem muitos dentre eles que consideram a febre desse segmento como um excesso que resultará inevitavelmente em um colapso econômico.
Vamos ver o que esse pessoal terá a dizer sobre o maravilhoso modelo norte-americano quando o lado negativo da flexibilidade econômica e social conduzir a uma rápida alta do desemprego, ao empobrecimento e à inquietação social, murmuram os críticos.
Essa postura -admiração relutante temperada pela antecipação sorridente da desgraça alheia- não leva em conta a principal lição econômica que a história dos últimos anos tem a ensinar em ambos os lados do Atlântico.
Sem medidas que tornem os mercados de trabalho europeus mais parecidos com os dos Estados Unidos -a única solução que os políticos europeus recusam a priori-, as tentativas de engendrar uma cultura econômica inovadora e empreendedora irão por água abaixo.

Custo social
A ênfase nas críticas européias aos EUA fica sempre no custo social de um sistema econômico desregulamentado, e ela deixa escapar o verdadeiro ponto fraco na retomada do crescimento econômico norte-americano. Ironicamente, é uma debilidade que as medidas européias para aumentar a flexibilidade dos mercados de trabalho também podem ajudar a resolver.
Uma das características mais notáveis da economia dos EUA nos últimos 30 anos vem sendo uma debilidade estrutural no balanço de pagamentos que age como freio para o desenvolvimento econômico interno. O problema é que os Estados Unidos estão muito mais dispostos a importar de outros países do que estes estão dispostos a importar dos EUA.
Isso significa que, se as rendas estiverem crescendo exatamente ao mesmo ritmo nos EUA e no restante do mundo, a conta corrente norte-americana se deteriorará constantemente. E, ao longo do tempo, esse desequilíbrio terá de ser enfrentado por meio de uma constante desvalorização do dólar norte-americano, o que seria uma potencial fonte de grandes instabilidade para a economia do mundo.


Texto Anterior: MERCADOS E SERVIÇOS: Guia do FGTS passa a ter entrega eletrônica
Próximo Texto: CERVEJAS: Decisão do Cade abre país para múltis
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.