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ARTIGO
Greenspan enfrenta as mesmas dúvidas da Guerra do Golfo
EDMUND L. ANDREWS
DO "THE NEW YORK TIMES"
Era agosto de 1990, poucas
semanas após o Iraque invadir o Kuwait, e Alan Greenspan se
debatia com questões assombrosamente semelhantes às que ele
enfrenta hoje.
Greenspan, o presidente do Fed
(Federal Reserve, o BC dos EUA),
temia que tropas iraquianas estivessem suficientemente perto para iniciar "ataques camicases" aos
principais campos de petróleo
sauditas. Na época, assim como
hoje, os preços do petróleo tinham disparado e os mercados financeiros estavam em pânico.
Assim como hoje, a economia dos
EUA começara a enfraquecer
mesmo antes de a luta começar.
Mas na época, assim como hoje,
Greenspan estava convencido de
que a principal tarefa do Fed era
projetar estabilidade.
"Aqueles que afirmam que já
estamos em uma recessão estão
com razoável certeza errados",
disse à Comissão Federal de Mercado Aberto, que define a política
monetária. "Temos de reconhecer que existe uma probabilidade
muito limitada de que a economia
seja afetada de maneira significativa. Eu suspeitaria nesta altura de
que o Pentágono tem mais poder
de criar políticas do que nós."
Como vimos, Greenspan estava
errado em um ponto importante.
O Departamento Nacional de
Pesquisas Econômicas, que define oficialmente os picos e baixas
dos ciclos econômicos, concluiu
mais tarde que uma recessão tinha começado exatamente naquele mês. O Fed logo começou a
cortar as taxas de juros, mas a desaceleração persistiu e contribuiu
para a derrota de Bush pai à reeleição em 1992.
Hoje Greenspan enfrenta novamente o impacto da guerra contra
o Iraque e o que ele chamou de
"calmaria" em casa. Ainda mais
que em 1990, argumentou que a
economia americana está sólida e
que o crescimento começará assim que as "incertezas geopolíticas" forem solucionadas.
Mas as incertezas vêm crescendo. Um número cada vez maior
de especialistas teme que a confiança das empresas possa continuar baixa por algum tempo,
mesmo que a guerra termine rapidamente. E quando a guerra
poderá terminar tornou-se uma
pergunta cada vez mais aberta. O
desemprego continua subindo, a
produção industrial segue estagnada e as economias da Europa e
do Japão estão declinando ainda
mais que a dos EUA.
Michael Prell, consultor econômico que foi diretor de pesquisa
do Fed entre 1987 e 2000, disse
que Greenspan pode estar sendo
exageradamente otimista.
"Minha impressão é que ele deu
um grande peso à guerra e ao
mercado de petróleo", disse, na
semana passada. "Mas não estou
convencido de que a incerteza sobre a guerra tenha alguma coisa a
ver com toda a história por trás da
lentidão da economia."
Parceiro silencioso
Greenspan, 77, a um ano do fim
de seu quarto mandato de quatro
anos na presidência do Fed, tem
um relacionamento complexo
com a Casa Branca. Alerta e enérgico como sempre, recentemente
perturbou as autoridades ao lançar dúvidas sobre a sabedoria dos
planos de cortes de impostos do
presidente.
Mas em muitos sentidos
Greenspan é o parceiro silencioso
de Bush na guerra contra o Iraque. Se a guerra ficar pior do que
se esperava ou se a economia não
se recuperar quando o combate
terminar, autoridades do Fed sugeriram enfaticamente que vão
bombear dinheiro na economia
reduzindo os juros.
Talvez igualmente importante
para Bush seja o fato de Greenspan ter demonstrado pouca ansiedade sobre os custos da guerra
ou os riscos de ruptura no abastecimento mundial de petróleo. Dada a extensão em que os líderes
políticos e os mercados financeiros dissecam cada palavra de
Greenspan, sua aparente tranquilidade é uma fonte crucial de
apoio a Bush.
Culpado
Muitas pessoas que trabalharam no primeiro governo Bush
ainda acusam Greenspan pela
derrota na reeleição de 1992. E
muitos na Casa Branca de Bush
gostariam de instalar seu próprio
candidato quando terminar o de
Greenspan, em junho de 2004. Se
ele desejará sair então, não é certo.
Mas sua credibilidade no mercado é tão forte e sua perspicácia é
tão considerada que Bush não pode passar sem ele por enquanto.
Nenhum presidente do Fed teve
tanta influência quanto Greenspan, e a chave dessa influência é
sua credibilidade nos mercados e
entre os líderes políticos. Embora
sua reputação tenha sido maculada após o estouro da bolha das
ações, em 2000, a maioria dos economistas ainda lhe dá crédito por
identificar precocemente grandes
viradas na economia e dar respostas ousadas.
Em 1994, começou a elevar suavemente os juros na tentativa de
evitar o superaquecimento da
economia e a elaborar uma "descida suave" sem recessão. Em
1997, estava muito à frente dos
próprios economistas do Fed ao
reconhecer que o aumento da
produtividade tinha se acelerado
muito, fazendo a economia crescer em um ritmo mais rápido sem
causar inflação. Sua política de juros, muitos concordam, ajudou a
promover a mais longa expansão
econômica dos EUA.
Estouro da bolha
Um grande número de economistas diz que Greenspan demorou demais para reconhecer os
excessos da nova economia na
bolha de ações. Mas muitos dizem
que Greenspan foi astuto ao reconhecer a desaceleração econômica que começou no início de 2001.
Desde então o Fed baixou os juros 12 vezes, para o nível mais baixo em 40 anos.
Greenspan expressou diversas
vezes otimismo de que a confiança das empresas e dos investidores se recuperará assim que o tiroteio se acalmar no Iraque. Mas
minutas da reunião de janeiro da
Comissão Federal de Mercado
Aberto sugerem que muitos outros oficiais do Fed, esperando a
guerra, ficaram ao mesmo tempo
perplexos e ansiosos.
Greenspan não deu pistas sobre
se deseja continuar na presidência do Fed depois de seu mandato.
Devido às peculiaridades das regras que regem os mandatos no
conselho do Fed, o prazo de
Greenspan como governador só
expira na verdade em 2006. Isso
aumenta a possibilidade surpreendente de que Greenspan
continue como governador mesmo que a Casa Branca deseje um
novo presidente.
Especulação
As pessoas que conhecem
Greenspan dizem acreditar que
ele quer continuar na presidência
pelo menos até 2006. A maior parte da especulação sobre possíveis
sucessores se concentra em Feldstein, professor da Harvard que foi
presidente do Conselho de Assessores Econômicos do presidente
Ronald Reagan.
A maioria dos analistas crê que
o governo Bush só vai se concentrar no assunto depois que a guerra terminar. O mais surpreendente é a recusa da Casa Branca a criticar publicamente Greenspan,
mesmo quando ele a incomoda
com comentários críticos sobre a
tese do governo de que o país precisa de grandes cortes fiscais.
O economista David M. Jones,
autor de muitos livros sobre o
Fed, disse que a importância de
Greenspan nos mercados mundiais significa que ele ainda controla seu futuro.
"Acho que a pessoa mais importante na decisão sobre o sucessor de Alan Greenspan será Alan
Greenspan."
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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