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RECALL DA PRIVATIZAÇÃO
Segundo levantamento da Economática, patrimônio de 21 empresas caiu pela metade em 4 anos
Estudo detecta má gestão nas elétricas
LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Boa parte da atual crise das empresas de energia elétrica foi causada pela má gestão das companhias, e não pelo modelo criado
nos anos FHC.
Levantamento realizado ontem
pela consultoria Economática a
pedido da Folha mostra, por
exemplo, que as dívidas de 21 distribuidoras ou geradoras em relação aos seus patrimônios representavam em média 30% em
1998. No final de 2002, saltaram
para 80%.
É um estrago e tanto. Segundo
Einar Rivero, coordenador da
consultoria para a América Latina, houve problemas administrativos de fato nas empresas do setor. "Muitas delas não souberam
fazer o sapato", ironizou Rivero.
Ou seja, não souberam lidar com
problemas administrativos internos para poder crescer.
Para o presidente da Câmara
Brasileira de Investidores em
Energia Elétrica, Cláudio Sales, a
crise, no entanto, não tem qualquer relação com a administração
das companhias. "As empresas
estão nessa situação por causa da
forte desvalorização do real nos
últimos anos, que elevou as dívidas em dólar das companhias, e
devido à redução do consumo
com o racionamento", disse Sales.
Atualmente, o Brasil consome
cerca de 20% a menos de eletricidade do que em 2000.
Patrimônio encolhe
A queda do patrimônio, no entanto, seria um sinal evidente de
que houve falhas administrativa
internas nas concessionárias, segundo a Economática. O levantamento leva em conta as 21 empresas privadas ou estatais que já
existiam em 1998 e publicaram
seus balanços de 2002.
Entre as empresas estão a Eletropaulo Metropolitana, cujo patrimônio despencou de R$ 4,2 bilhões para R$ 2,1 bilhões em quatro anos, e a Elektro (R$ 2,2 bilhões para patrimônio negativo
de R$ 291,6 milhões -deve mais
do que tem em bens).
Há apenas duas exceções positivas nesse campo. A Coelce aumentou o patrimônio de R$ 820
milhões para R$ 1,1 bilhão. A
CPFL conseguiu pequena alta de
R$ 3 bilhões para R$ 3,1 bilhões.
Ao todo, o patrimônio das 21 empresas caiu de R$ 189 bilhões para
R$ 93 bilhões.
"É uma queda impressionante.
Existem sinais de má gestão em
empresas do setor", disse Rivero.
Ele afirmou, porém, que a redução do patrimônio se deve também à necessidade que as concessionárias tiveram de se endividar
para fazer investimentos vitais.
Riscos demais
As dívidas das companhias saltaram de um total de R$ 57 bilhões para R$ 75 bilhões entre
1998 e 2002. Para Gláucia de Castro Quinto, analista do ABN Amro Bank, as empresas têm parte da
culpa da crise justamente por causa dos débitos em dólar. "Elas
adotaram uma política agressiva,
acreditando que o reajuste anual
das tarifas pelo IGP-M compensaria a variação do dólar."
Segundo Quinto, a Light, por
exemplo, tem 83% de seus débitos
em dólar. A Eletropaulo, 66%. A
CPFL e Elektro foram mais prudente: só têm dívidas em real. A
analista ressaltou, porém, que o
modelo do governo passado pesa
também na crise, pois privatizou
principalmente distribuidoras,
que acabaram não investindo em
usinas como estava previsto.
Para André Querne, analista da
Maxima Asset Management, o racionamento de energia encerrado
em 2002 é um dos principais fatores da crise. "Os culpados são o
governo e empresas. Não houve a
expansão necessária no setor."
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