São Paulo, sábado, 02 de abril de 2005

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INFLAÇÃO

Resto da produção de 2004 segura aumento da indústria, enquanto bens não-duráveis têm mais espaço para reajuste

Estoque alto segura preço de bens duráveis

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Passado o período de fortes reajustes em 2004, os preços dos bens duráveis estão agora subindo em ritmo menor ou em queda, graças aos elevados estoques que as fábricas acumularam no final de 2004.
É o que releva um cruzamento feito pela Folha a partir de dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do IPA (Índice de Preços por Atacado) e da Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação, ambos da FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Os preços dos automóveis no varejo não subiram em março e subiram 0,22% em fevereiro, segundo o IPCA. Nos dois meses anteriores, haviam subido mais -1,27% em janeiro e 0,46% em dezembro. No atacado, o movimento foi parecido. Depois de subir 1,94% em janeiro, o item desacelerou para 1,03% em fevereiro, de acordo com o IPA.
No caso dos eletrodomésticos, os preços recuaram, por enquanto, apenas no atacado. Passaram de 0,15% em dezembro para deflações em janeiro e em fevereiro --0,11% e -0,14%, respectivamente.
Tal queda, porém, ainda não foi repassada ao varejo. Os eletrodomésticos subiram de 1,35% em janeiro para 1,46% em fevereiro.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, os estoques elevados que restaram do final do ano passado nas fábricas estão assegurando o recuo dos preços, já que a demanda por automóveis e eletrodomésticos se mantém aquecida.
"É fato que os estoques mais elevados tiveram impacto sobre itens importantes do atacado que influenciam os bens duráveis. É o caso do aço longo, que foi vendido com descontos de até 15%", disse Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital.
Ele diz que o acúmulo de estoques levou o varejo a promover liquidações depois do Carnaval em algumas capitais do país.
Dados da Sondagem Conjuntural da Indústria, levantamento trimestral da FGV, relevam que 37% das empresas do setor de eletrodomésticos afirmaram, em janeiro deste ano, estarem com estoques excessivos.
Esse percentual era nulo em outubro de 2004 e em janeiro daquele ano. Na média da indústria, 8% das companhias diziam estar com estoques altos em janeiro.
No caso dos automóveis, não foi detectada nenhuma firma com estoque elevados. Mas o percentual de empresas que afirmaram estar com estoques insuficientes caiu de 34% em janeiro de 2004 para zero em igual mês deste ano.
Para Sant'Anna, a demanda continua aquecida: "Não há evidências de arrefecimento da demanda do consumidor porque os dados de crédito ainda permanecem bem positivos, assim como as pesquisas referentes à confiança do consumidor".
Já Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV, destaca que muitas matérias-primas estão em queda no atacado e que os duráveis chegaram possivelmente ao seu limite de alta.
"As matérias-primas estão subindo menos, e alguns setores de bens duráveis, que já tinham repassado altas anteriores, podem estar num período de quase neutralidade de preços", afirma Quadros.
Sant'Anna ressalta também que o fato de o dólar ter caído contribuiu para o recuo dos preços dos bens duráveis, pois tornou os insumos importados mais baratos para o país.
Neste ano, prevê Quadros, o crescimento do consumo elevará os preços dos bens não-duráveis (alimentos, bebidas e roupas). Tais itens não tiveram o mesmo espaço para repasses de custos em 2004, quando a renda deprimida não favoreceu a demanda. No ano passado, foram os duráveis que lideraram a produção da indústria brasileira.
Embora os duráveis tenham apresentado uma variação modesta no IPCA fechado de fevereiro, não há sinais firmes de que esses preços irão se manter tão comportados nos próximos meses, afirma Sant'Anna. Isso porque algumas indústrias já anunciaram reajustes.
Os duráveis tiveram alta de 0,42% em fevereiro, contra variação de 0,63% em janeiro, segundo cálculo da ARX.


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