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INFLAÇÃO
Resto da produção de 2004 segura aumento da indústria, enquanto bens não-duráveis têm mais espaço para reajuste
Estoque alto segura preço de bens duráveis
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Passado o período de fortes reajustes em 2004, os preços dos bens
duráveis estão agora subindo em
ritmo menor ou em queda, graças
aos elevados estoques que as fábricas acumularam no final de
2004.
É o que releva um cruzamento
feito pela Folha a partir de dados
do IPCA (Índice de Preços ao
Consumidor Amplo), do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), do IPA (Índice de
Preços por Atacado) e da Sondagem Conjuntural da Indústria de
Transformação, ambos da FGV
(Fundação Getúlio Vargas).
Os preços dos automóveis no
varejo não subiram em março e
subiram 0,22% em fevereiro, segundo o IPCA. Nos dois meses
anteriores, haviam subido mais
-1,27% em janeiro e 0,46% em
dezembro. No atacado, o movimento foi parecido. Depois de subir 1,94% em janeiro, o item desacelerou para 1,03% em fevereiro,
de acordo com o IPA.
No caso dos eletrodomésticos,
os preços recuaram, por enquanto, apenas no atacado. Passaram
de 0,15% em dezembro para deflações em janeiro e em fevereiro
--0,11% e -0,14%, respectivamente.
Tal queda, porém, ainda não foi
repassada ao varejo. Os eletrodomésticos subiram de 1,35% em janeiro para 1,46% em fevereiro.
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, os estoques elevados que restaram do final do
ano passado nas fábricas estão assegurando o recuo dos preços, já
que a demanda por automóveis e
eletrodomésticos se mantém
aquecida.
"É fato que os estoques mais elevados tiveram impacto sobre
itens importantes do atacado que
influenciam os bens duráveis. É o
caso do aço longo, que foi vendido com descontos de até 15%",
disse Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital.
Ele diz que o acúmulo de estoques levou o varejo a promover liquidações depois do Carnaval em
algumas capitais do país.
Dados da Sondagem Conjuntural da Indústria, levantamento trimestral da FGV, relevam que 37%
das empresas do setor de eletrodomésticos afirmaram, em janeiro deste ano, estarem com estoques excessivos.
Esse percentual era nulo em outubro de 2004 e em janeiro daquele ano. Na média da indústria, 8%
das companhias diziam estar com
estoques altos em janeiro.
No caso dos automóveis, não foi
detectada nenhuma firma com
estoque elevados. Mas o percentual de empresas que afirmaram
estar com estoques insuficientes
caiu de 34% em janeiro de 2004
para zero em igual mês deste ano.
Para Sant'Anna, a demanda
continua aquecida: "Não há evidências de arrefecimento da demanda do consumidor porque os
dados de crédito ainda permanecem bem positivos, assim como
as pesquisas referentes à confiança do consumidor".
Já Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da
FGV, destaca que muitas matérias-primas estão em queda no
atacado e que os duráveis chegaram possivelmente ao seu limite
de alta.
"As matérias-primas estão subindo menos, e alguns setores de
bens duráveis, que já tinham repassado altas anteriores, podem
estar num período de quase neutralidade de preços", afirma Quadros.
Sant'Anna ressalta também que
o fato de o dólar ter caído contribuiu para o recuo dos preços dos
bens duráveis, pois tornou os insumos importados mais baratos
para o país.
Neste ano, prevê Quadros, o
crescimento do consumo elevará
os preços dos bens não-duráveis
(alimentos, bebidas e roupas).
Tais itens não tiveram o mesmo
espaço para repasses de custos em
2004, quando a renda deprimida
não favoreceu a demanda. No ano
passado, foram os duráveis que lideraram a produção da indústria
brasileira.
Embora os duráveis tenham
apresentado uma variação modesta no IPCA fechado de fevereiro, não há sinais firmes de que esses preços irão se manter tão
comportados nos próximos meses, afirma Sant'Anna. Isso porque algumas indústrias já anunciaram reajustes.
Os duráveis tiveram alta de
0,42% em fevereiro, contra variação de 0,63% em janeiro, segundo
cálculo da ARX.
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