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LUÍS NASSIF
A corrida estacionária do real
Um exaustivo estudo preparado pelo Departamento de
Tesouraria da Placas do Paraná S/A, comparando câmbio e Bolsas de todos os países,
permite conclusões relevantes
para a análise da situação
brasileira.
Em geral, defensores da
atual política cambial consideram a desvalorização de
5% a 7% ao ano em relação
ao dólar suficiente para, em
algum tempo, recuperar o
atraso da moeda brasileira,
consequência da valorização
do real.
Mas não existem apenas
duas moedas no mundo -o
real e o dólar. Para entrar no
mercado americano ou mundial, o produto brasileiro concorre com um sem-número de
produtos de outros países. A
exemplo da Fórmula 1, não
tem nenhuma importância a
notícia de que um carro bateu
seu próprio recorde de velocidade se, mesmo assim, ele ficou em último lugar na corrida.
As análises em questão levaram em conta apenas a variação nominal das moedas. Desse valor deve-se descontar a
inflação interna dos países e a
inflação americana.
Mesmo assim, as planilhas
preparadas pela empresa permitem conclusões relevantes:
1) Do Plano Real para cá, de
43 moedas analisadas, o real
foi a 28ª em desvalorização,
com 13,7% no período. A Inglaterra foi o país que mais
valorizou sua moeda: 7,5%. Se
se agregar a inflação
pós-Real, o Brasil provavelmente ganha o título mundial
de valorização de moeda.
2) No primeiro trimestre de
98, a desvalorização do real,
de 1,9%, foi inferior à de 29
outros países e superior à de
apenas 13. Entre esses 13, estão países que já haviam provocado desvalorizações expressivas em suas moedas, como a China, Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Tailândia.
O que torna o ritmo de desvalorização do real superior a
pouco mais de meia dúzia de
países.
3) A tesouraria da empresa
criou duas cestas de moedas: a
OMC (composição proporcional do peso de cada moeda no
comércio mundial) e a de intercâmbio Brasil (ponderação
de cada moeda no comércio
exterior brasileiro). De julho
de 94 para cá, a cesta OMC
sofreu desvalorização de
19,8%; a de intercâmbio, de
17% -contra 13,7% do real.
Ou seja, o real ficou mais caro.
4) Nos três primeiros meses
do ano, a cesta OMC desvalorizou-se 4,3%; a de intercâmbio, 2,4% -contra 1,9% do
real.
Bolsas mundiais
Levantamento semelhante,
realizado junto às 30 maiores
Bolsas de valores mundiais,
dão um bom espelho da percepção dos investidores em relação a esse quadro.
1) De 22 de outubro de 97
para cá, a Bolsa de Valores de
São Paulo ficou entre as sete
Bolsas com pior desempenho,
com queda de 7,8% -atrás
dela, apenas as Bolsas da Tailândia, Chile, Argentina, Coréia, Rússia e Venezuela.
2) As cinco Bolsas de melhor
desempenho são de países industrializados, puxados pela
Itália (53,7%), Espanha
(48,3%), França (31%), Suiça
(30,7%) e Alemanha (22,3%).
3) No levantamento do ano,
a Bolsa paulista foi a 14ª em
desempenho, com alta de
17,2%, o que denota alguma
mudança na avaliação externa.
4) O departamento de tesouraria criou quatro índices
-o Europa/África, o Ásia/Oceania, o Global e o Américas.
Da crise da Ásia para cá, o
Europa/África valorizou-se
11,7%; o Global, 2,4%; o
Ásia/Oceania, 0,3%; e o América teve queda de 13,7%.
Barganha
Só os muito ingênuos ou críticos sistemáticos podem supor ser possível, em um ambiente democrático, governar
ou aprovar reformas sem
atender demandas dos parlamentares. O último governo
que sentou olimpicamente em
cima do Orçamento, sem nada negociar, foi o de Ernesto
Geisel, tendo como trunfo o
pacote de abril de 77.
Agora, utilizar a retenção
de verbas da saúde, especialmente aquelas destinadas ao
combate às endemias, como
instrumento de barganha política é uma prática desprezível. A alegação de que as prefeituras enviaram dados incompletos não passa de argumento burocrático para justificar o injustificável.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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