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OPINIÃO ECONÔMICA
O bom desempenho do emprego, para eles!
BENJAMIN STEINBRUCH
Ontem foi feriadão mundial,
exceto nos Estados Unidos. Por
causa dessa data, Dia do Trabalho, imaginei que seria interessante tentar mostrar algo de positivo para os trabalhadores.
Fui então atrás de estatísticas
positivas sobre emprego no
mundo. E, como supunha, eu as
encontrei. O inigualável período de prosperidade vivido pelos
Estados Unidos e, mais recentemente, pelos países europeus e
asiáticos vem reduzindo muito
os índices de desemprego no
mundo.
No quadro de indicadores
econômicos da revista inglesa
"The Economist", está um bom
retrato dessa prosperidade vivida pelo chamado Primeiro
Mundo. Numa relação que inclui 15 países desenvolvidos,
apenas um, o Japão, apresenta
neste início de ano 2000 taxa de
desemprego maior do que a de
um ano atrás. Em todos os demais, o número de desempregados caiu.
O país campeão no combate
ao desemprego foi a Suíça, onde
a taxa diminuiu 29% nos últimos 12 meses. Esse país já ostentava padrões "suíços" em fevereiro do ano passado, quando
apenas 3,4% da PEA (População Economicamente Ativa) estava desempregada. Mas o índice reduziu-se ainda mais e, em
fevereiro de 2000, estava em
2,4%. O número de desempregados caiu também de forma
drástica na Holanda, no Canadá, na Espanha, na Austrália,
na Bélgica, na França, na Dinamarca, enfim, em todo o mundo
industrializado, como mostra o
quadro que ilustra este artigo.
Imagino que essas estatísticas
levem os economistas mais conservadores à euforia. Afinal,
elas parecem provar que as teorias ortodoxas baseadas na austeridade fiscal e monetária,
aplicadas nos países ricos e estendidas aos pobres por imposição do FMI, funcionam.
Infelizmente, porém, no meio
de números favoráveis, topa-se
a toda hora com outros, reveladores de tristes realidades na esfera mundial. Na própria "The
Economist", pode-se observar
que os salários reais caíram na
maioria dos países do próspero
Primeiro Mundo. Honrosas exceções foram Inglaterra, França
e Japão. Ou seja, ao mesmo
tempo em que aumenta a oferta
de emprego, cai a remuneração
real do trabalho.
Os enormes avanços recentes
não têm sido suficientes para
reduzir a pobreza de forma palpável nem mesmo no Primeiro
Mundo. Nos EUA, 31 milhões de
pessoas enfrentam diariamente
dificuldades para conseguir se
alimentar. Se isso ocorre nesse
país poderoso e próspero, imagine o que se dá nos pobres. Em
todo o mundo, de 800 milhões a
1 bilhão de pessoas são diariamente privadas de condições
mínimas necessárias ao bem-estar, principalmente comida e
moradia.
Na Europa, mesmo com a
queda de 8,6% do desemprego
em um ano, ainda existem 15
milhões de pessoas procurando
trabalho. No Japão, onde rompeu-se a tradição do emprego
vitalício, há 3,2 milhões de desocupados. A taxa de 4,8% de desemprego é recorde desde 1953.
E o que dizer da realidade
brasileira? A situação em março, segundo números divulgados quinta-feira pelo IBGE, era
praticamente a mesma do mesmo mês do ano passado: 8,1%
da População Economicamente
Ativa continuava desempregada nas seis maiores regiões metropolitanas do país. É justo, porém, observar que as perspectivas de hoje são muito melhores
do que as de um ano atrás. A indústria voltou a crescer e deve
abrir mais de 550 mil novos empregos este ano. Pode-se supor
que o crescimento da economia
deve permitir a criação de milhares de vagas também nos demais setores.
Vale lembrar que esses avanços previstos, bem-vindos, ainda são modestos diante da realidade do país. Os quase 8 milhões de brasileiros desempregados certamente esperam iniciativas mais enérgicas para
acelerar a criação de postos de
trabalho. E não há segredos nessa área. Os remédios de efeito
rápido são todos conhecidos: estimulo à construção civil, principalmente habitacional; frentes de trabalho nas regiões mais
pobres; apoio à microempresa;
incentivo ao plantio da segunda
safra agrícola; treinamento para requalificação de profissionais desempregados; dedicação
à área de serviços, especialmente turismo etc.
A conclusão de quem examina números mundiais sobre o
trabalho é obvia: há melhorias
em toda a parte, mas insuficientes. Isso vale especialmente para
o Brasil. Não dá para imaginar
que o crescimento econômico
vá cuidar sozinho do problema.
Só a procura persistente e obstinada de soluções pode criar empregos e reduzir a pobreza.
Benjamin Steinbruch, 46, empresário, é
presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional e
da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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