São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2000


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OPINIÃO ECONÔMICA

O bom desempenho do emprego, para eles!

BENJAMIN STEINBRUCH

Ontem foi feriadão mundial, exceto nos Estados Unidos. Por causa dessa data, Dia do Trabalho, imaginei que seria interessante tentar mostrar algo de positivo para os trabalhadores.
Fui então atrás de estatísticas positivas sobre emprego no mundo. E, como supunha, eu as encontrei. O inigualável período de prosperidade vivido pelos Estados Unidos e, mais recentemente, pelos países europeus e asiáticos vem reduzindo muito os índices de desemprego no mundo.
No quadro de indicadores econômicos da revista inglesa "The Economist", está um bom retrato dessa prosperidade vivida pelo chamado Primeiro Mundo. Numa relação que inclui 15 países desenvolvidos, apenas um, o Japão, apresenta neste início de ano 2000 taxa de desemprego maior do que a de um ano atrás. Em todos os demais, o número de desempregados caiu.
O país campeão no combate ao desemprego foi a Suíça, onde a taxa diminuiu 29% nos últimos 12 meses. Esse país já ostentava padrões "suíços" em fevereiro do ano passado, quando apenas 3,4% da PEA (População Economicamente Ativa) estava desempregada. Mas o índice reduziu-se ainda mais e, em fevereiro de 2000, estava em 2,4%. O número de desempregados caiu também de forma drástica na Holanda, no Canadá, na Espanha, na Austrália, na Bélgica, na França, na Dinamarca, enfim, em todo o mundo industrializado, como mostra o quadro que ilustra este artigo.
Imagino que essas estatísticas levem os economistas mais conservadores à euforia. Afinal, elas parecem provar que as teorias ortodoxas baseadas na austeridade fiscal e monetária, aplicadas nos países ricos e estendidas aos pobres por imposição do FMI, funcionam.
Infelizmente, porém, no meio de números favoráveis, topa-se a toda hora com outros, reveladores de tristes realidades na esfera mundial. Na própria "The Economist", pode-se observar que os salários reais caíram na maioria dos países do próspero Primeiro Mundo. Honrosas exceções foram Inglaterra, França e Japão. Ou seja, ao mesmo tempo em que aumenta a oferta de emprego, cai a remuneração real do trabalho.
Os enormes avanços recentes não têm sido suficientes para reduzir a pobreza de forma palpável nem mesmo no Primeiro Mundo. Nos EUA, 31 milhões de pessoas enfrentam diariamente dificuldades para conseguir se alimentar. Se isso ocorre nesse país poderoso e próspero, imagine o que se dá nos pobres. Em todo o mundo, de 800 milhões a 1 bilhão de pessoas são diariamente privadas de condições mínimas necessárias ao bem-estar, principalmente comida e moradia.
Na Europa, mesmo com a queda de 8,6% do desemprego em um ano, ainda existem 15 milhões de pessoas procurando trabalho. No Japão, onde rompeu-se a tradição do emprego vitalício, há 3,2 milhões de desocupados. A taxa de 4,8% de desemprego é recorde desde 1953.
E o que dizer da realidade brasileira? A situação em março, segundo números divulgados quinta-feira pelo IBGE, era praticamente a mesma do mesmo mês do ano passado: 8,1% da População Economicamente Ativa continuava desempregada nas seis maiores regiões metropolitanas do país. É justo, porém, observar que as perspectivas de hoje são muito melhores do que as de um ano atrás. A indústria voltou a crescer e deve abrir mais de 550 mil novos empregos este ano. Pode-se supor que o crescimento da economia deve permitir a criação de milhares de vagas também nos demais setores.
Vale lembrar que esses avanços previstos, bem-vindos, ainda são modestos diante da realidade do país. Os quase 8 milhões de brasileiros desempregados certamente esperam iniciativas mais enérgicas para acelerar a criação de postos de trabalho. E não há segredos nessa área. Os remédios de efeito rápido são todos conhecidos: estimulo à construção civil, principalmente habitacional; frentes de trabalho nas regiões mais pobres; apoio à microempresa; incentivo ao plantio da segunda safra agrícola; treinamento para requalificação de profissionais desempregados; dedicação à área de serviços, especialmente turismo etc.
A conclusão de quem examina números mundiais sobre o trabalho é obvia: há melhorias em toda a parte, mas insuficientes. Isso vale especialmente para o Brasil. Não dá para imaginar que o crescimento econômico vá cuidar sozinho do problema. Só a procura persistente e obstinada de soluções pode criar empregos e reduzir a pobreza.


Benjamin Steinbruch, 46, empresário, é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional e da Companhia Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br


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