São Paulo, terça-feira, 02 de maio de 2000


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MERCADO
Objetivo de nova rede bancária é aumentar oferta e baratear microcréditos
BNDES estimula bancos populares

CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) vai estimular o surgimento no Brasil de uma rede de bancos populares voltados para o mercado de microcrédito produtivo. Chamados SCMs (Sociedades de Crédito ao Microempreendedor), esses bancos podem ou não ser ligados aos bancos tradicionais.
De acordo com a diretora da área social do BNDES, Beatriz Azeredo, o objetivo do banco é aumentar a capilaridade da rede de oferta de microcrédito, abrindo a possibilidade de barateamento do custo de empréstimos -que hoje custam, em média, 4,5% ao mês (69,5% ao ano).
Hoje, os empréstimos são feitos apenas por uma rede de 24 ONGs (organizações não-governamentais), entidades sem fins lucrativos. Elas fecharam o ano passado com um giro de R$ 74,1 milhões e 66.140 créditos concedidos.
O valor médio por empréstimo é de R$ 1.120, o prazo de pagamento médio é de quatro meses e meio e a inadimplência é de 3,7%.
Do total de recursos, R$ 38,7 milhões foram emprestados pelo BNDES às ONGs, a um custo de TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), hoje em 11% ao ano, e prazo de pagamento de oito anos.
Essas serão as mesmas condições oferecidas para empréstimos do BNDES às SCMs. A diferença de uma SCM para uma ONG é que a primeira, regulamentada pelo Banco Central no ano passado, é uma instituição financeira, com fins lucrativos.
De acordo com o BNDES, já estão em operação no país quatro SCMs, duas em São Paulo e duas em Minas Gerais. O BNDES pode emprestar para as SCMs R$ 2 para cada R$ 1 real próprio que elas invistam.
O banco estatal avalia que essas sociedades irão se expandir, ganhando características de bancos populares, como os que existem na Bolívia e em Bangladesh.
A partir de hoje, técnicos bolivianos estarão relatando a experiência do país em seminário promovido no Rio.
No Brasil, a média de clientes por ONG de microcrédito é de 60, segundo o BNDES. Antonio Sergio Barretto, chefe do Departamento de Desenvolvimento Social do banco, disse que já há bancos tradicionais interessados em criarem suas SCMs. Os bancos estatais não podem entrar nesse mercado.
Segundo Barretto, o capital bancário terá de criar uma estrutura totalmente nova para operar no setor e se adaptar às características do mercado.
A maior parte dos tomadores de empréstimos (77%) atua no setor informal da economia e não tem, por exemplo, como comprovar renda.
O BNDES teme que o banco tradicional, se não fizer uma estrutura nova para atuar no microcrédito, incorra no risco de transferir para as SCMs os hábitos do sistema bancário, o que resultaria em dificuldades à obtenção de recursos pelos tomadores.


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