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OPINIÃO ECONÔMICA
Taxas de juros, produção e emprego
LUIZ MARINHO
Um equívoco . É assim que
avalio a recente decisão do
Copom, que manteve a taxa de juros básica em 26,5%, mesmo com
a desaceleração do aumento de
preços, a redução do risco Brasil e
a queda do dólar. A decisão mantém um quadro muito desfavorável para a atividade produtiva, o
consumo e o emprego, provocado pelas elevadas taxas de juros,
que, diga-se desde logo, é uma das
heranças perversas do governo
FHC.
Ninguém pode ser contra o zelo
pelo cumprimento da meta de estabilização de preços. É papel do
governo adotar medidas para
manter a inflação em baixos patamares. Do ponto de vista sindical,
o controle da inflação é fundamental para o desenvolvimento
sustentado e para a preservação e
o incremento dos salários reais.
Mas acreditamos que a meta inflacionária deva ser acompanhada de outras metas macroeconômicas igualmente importantes
para o país, como é o caso da meta
de crescimento econômico e da
meta de emprego.
Em nosso país, as taxas de juros
têm sido muito superiores às taxas de rentabilidade média da atividade produtiva. Uma situação
que somente é admissível em curtíssimo prazo -isto é, um, dois
ou três meses, no máximo. Nunca
pelo prazo de uma década. A tabela nesta página, elaborada pela
subseção Dieese, demonstra com
clareza essa realidade. Entre 1995
e 2001, a taxa média de rentabilidade anual da indústria brasileira,
medida pela relação lucro líquido/receita líquida, obtida a partir
dos balanços de 21 setores e 96
subsetores industriais, foi de apenas 3,7%. Já a taxa de juros média
cobrada pelos bancos nos empréstimos às pessoas jurídicas
(empresas), no mesmo período,
foi de 71,8% ao ano, ou de 56,9%
em termos reais (descontada a inflação).
Os níveis elevados de taxas de
juros impedem o funcionamento
da máquina de desenvolvimento
de uma economia, que é a atividade produtiva, localizada na produção industrial, na agropecuária, no comércio e nos serviços.
Nenhuma economia racionalmente organizada aguenta por
tanto tempo um ambiente em que
as taxas de juros situam-se em níveis muito acima dos da rentabilidade das atividades produtivas.
Trata-se de um grave desequilíbrio quando é economicamente
mais lucrativo aplicar em papéis
financeiros do que enfrentar o desafio do investimento na atividade industrial, agrícola, pecuária,
comercial e de serviços. Essas atividades, diferentemente da especulação financeira, envolvem as
complexas tarefas de planejamento da produção, contratação de
empregados, compra de insumos,
pagamento de impostos diversos,
disputa com concorrentes etc.
O descompasso entre taxas de
juros e rentabilidade do setor produtivo foi um dos fatores que determinaram o crescimento do desemprego no país. Durante as
duas gestões de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002,
quando se aprofundou ao extremo esse descompasso, o desemprego aumentou de modo alarmante. No Estado de São Paulo, o
número estimado de desempregados no período saltou de 2,2
milhões para 3,7 milhões.
A tabela mostra também que os
juros encontram-se em níveis ainda mais proibitivos para o consumo. As taxas cobradas pelos bancos à pessoa física nos empréstimos pessoais chegam a ser abusivas. Nos últimos oito anos, a taxa
nominal de juros no empréstimo
à pessoa física foi de 114% ao ano
(contra uma taxa anual de inflação de 9,2%, medida pelo IPCA).
Já no cheque especial a taxa de juros nominal média do período
chegou a 178,7% ao ano.
Reconhecemos os elementos
técnicos relacionados à fixação da
taxa de juros. Mas sabemos também que é importante apostar positivamente em relação ao futuro.
Apostar que o país tem hoje todas
as condições de retomar o crescimento econômico sem afetar a estabilidade de preços e a balança de
pagamentos. Mais ainda: somente um governo como o do presidente Lula é, hoje, capaz de impulsionar de modo bem-sucedido
essa aposta no desenvolvimento.
Nesse sentido, pergunto se em fóruns como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social
não seriam viáveis o diálogo e a
negociação em torno de uma meta futura para a taxa de juros (por
exemplo, a metade das taxas
atuais). Acordada essa meta, poderíamos ver então quais as condições e medidas necessárias para
alcançar esse objetivo. Essa, por
exemplo, seria uma aposta positiva no futuro.
É preciso também discutir como fazer para que os bancos retomem a sua função de intermediação financeira visando à transferência de crédito para a produção
e o investimento nas áreas produtivas. Além disso, é importante
discutir criativamente possibilidades para a redução de cada item
que influencia na composição das
taxas de juros dos bancos particulares (o chamado "spread"), tais
como a redução das taxas para os
clientes com bom histórico de pagamentos de dívidas bancárias, a
diminuição da burocracia, a redução tributária, entre outros.
Quero encerrar esse artigo com
a mensagem de que estamos otimistas. Muito em breve o cenário
econômico brasileiro mudará significativamente. O governo Lula,
por seus próprios compromissos
históricos, deverá conduzir o país
à retomada do crescimento econômico, no qual a produção e o
emprego voltarão a ser vigas mestras do desenvolvimento.
Luiz Marinho, 44, é presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
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