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LUÍS NASSIF
Cuidados com
o software livre
Afinal, qual o espaço destinado ao software livre
(SL)? Como exportação, não
serve. Não há um modelo de negócios adequado para permitir
fazer divisas com ele.
Na área pública, há um grande potencial de economia, mas
há que agir com cautela. No governo FHC, o Ministério da
Ciência e Tecnologia começou a
trabalhar o tema. Mas sua estratégia foi mais cuidadosa e
consistia em solicitar a desenvolvedores sistemas alternativos, sem desmontar os sistemas
proprietários em vigor. Só depois de devidamente testados os
novos sistemas seriam utilizados.
Doutor em computação, Gilberto Câmara é coordenador-geral de Observação da Terra
(OBT) no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que
utiliza tecnologias de sensoriamento remoto e geoprocessamento para conhecer o território brasileiro. O produto mais
recente é a TerraLib, uma biblioteca de software livre que
tem servido de base para projetos como o TerraCrime (software para segurança publica desenvolvido para o Ministério da
Justiça), o Sigmun (software para cadastro municipal), o InfoPAE, (sistema de controle de
emergências para oleodutos e
refinarias da Petrobras).
Segundo ele, há dois grandes
fatores que condicionam os projetos de SL: a previa existência
de modelos a copiar (o "potencial de engenharia reversa") e a
arquitetura inerente do produto (o "potencial de desenvolvimento compartilhado").
É muito mais fácil desenvolver um produto a partir de uma
especificação conhecida do que
começar do zero. Por exemplo,
o Linux segue um padrão definido (Posix), e o OpenOffice
parte do um conjunto de produtos já conhecido do mercado (o
Microsoft Office).
O segundo fator ("potencial
de desenvolvimento compartilhado") é decorrente do fato
que cada tipo de software tem
uma arquitetura diferente. Numa visão simplificada, cada
software tem uma base (o "núcleo") e funções adicionais que
usam essa base (a "periferia").
Um sistema operacional como
o Linux tem um núcleo bem definido que cuida de controlar
processos e uma "periferia" de
inúmeros programas que fazem
atividades como controle de
discos rígidos, comunicação em
rede etc.
O núcleo do software tem que
ser conduzido por uma equipe
pequena, como o próprio Linux. Quanto maior a relação
"periferia/núcleo", maior o potencial de estabelecimento de
uma ampla comunidade de desenvolvedores. Mas há muitos
tipos de software em que essa
relação incremental é reduzida,
como os gerenciadores de bancos de dados.
A preocupação de Câmara é
que, segundo ele, a maior parte
da comunidade brasileira de SL
ainda não entendeu essa questão e acha que o exemplo do Linux é reproduzível em todas as
situações. Existem inúmeros casos nos quais haverá pouco "potencial de engenharia reversa" e
pouco "potencial de desenvolvimento compartilhado". A única
saída, segundo ele, seria usar o
poder de compra do Estado e
contratar esses desenvolvimentos, com base na Lei de Inovação.
Segunda conclusão: a necessidade de ampliar o debate em
torno da questão do SL.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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