São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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FINANCIAMENTO

Negociações duraram nove meses; empresa terá que aumentar o índice de nacionalização de peças em seus aviões

BNDES empresta US$ 222 mi para a Embraer

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

Depois de cerca de nove meses de negociações, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aprovou, na reunião de diretoria de segunda-feira, empréstimo de US$ 222 milhões para a Embraer exportar dez jatos EMB 170 para as empresas Alitalia (Itália), Lot (Polônia) e US Airways (Estados Unidos). Foi o maior empréstimo do BNDES à Embraer no governo Lula.
Segundo a Folha apurou, o banco só aprovou a operação após a Embraer se comprometer a elevar para 55% o índice de nacionalização de peças e componentes de seus aviões. A empresa pediu dois anos de prazo para atingir esse grau de nacionalização.
O empréstimo significa uma mudança nas relações entre o banco e a empresa. Desde meados do ano passado, o presidente do BNDES, Carlos Lessa, tem sido bastante crítico em relação aos empréstimos concedidos pelo banco à Embraer.
As relações entre o BNDES e a Embraer se estremeceram quando a empresa divulgou o seu balanço do segundo trimestre do ano passado, culpando o atraso na liberação dos financiamentos do banco pelo seu pior resultado desde 1999.
No final de 2003, Lessa chegou a afirmar que a Embraer "teria de rebolar" para conseguir dinheiro do BNDES. Ele se referia à declaração de Maurício Botelho, presidente da Embraer, de que o banco teria liberado US$ 1,8 bilhão para a venda de aviões em 2004. Lessa não só desmentiu como cantarolou trecho do samba "Tem que Rebolar", de 1965, de autoria de José Batista e Magno de Oliveira.
Lessa, porém, nunca afirmou que não iria voltar a conceder financiamentos para a Embraer. Ele queria que a empresa aceitasse novas regras para poder ter acesso ao financiamento.
Eram duas suas preocupações. A primeira, o fato de ter um grande volume de crédito para a exportação do BNDES concentrado nos clientes da Embraer, que são as grandes companhias aéreas do mundo. Por isso, o banco aprovou o empréstimo direto.
A preocupação principal de Lessa, no entanto, era a de aumentar significativamente o índice de nacionalização da empresa para poder gerar emprego. O BNDES pediu um estudo à Unicamp (Universidade de Campinas) para traçar um raio-x completo do setor aeronáutico e da Embraer. A suspeita, hoje, é que o grau de nacionalização da empresa seja muito baixo.
Em razão desse atrito, a entrega dos EMB 170 (jatos de 70 lugares) foi adiada várias vezes.
A Embraer pretende exportar 160 aeronaves neste ano, o que significa uma receita de US$ 3 bilhões. O valor é 50% maior do que os US$ 2 bilhões exportados em 2003.
O fato é que a Embraer registrou em 2003 o seu pior resultado em quatro anos. O lucro da empresa foi de R$ 587,7 milhões, 50,1% menor do que o R$ 1,179 bilhão obtido no ano anterior. Pela primeira vez em seis anos, a Embraer acusava, em 2003, um lucro abaixo do ano anterior.
Para justificar o resultado de 2003, a Embraer citou, entre outros problemas, a Guerra do Iraque, os problemas para a certificação final do EMB 170, a crise financeira das grandes companhias aéreas do mundo e a escassez de crédito para as vendas das aeronaves.
O empréstimo do BNDES aprovado na segunda-feira pode ser o início de uma nova série do banco para apoiar a Embraer.


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