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FINANCIAMENTO
Negociações duraram nove meses; empresa terá que aumentar o índice de nacionalização de peças em seus aviões
BNDES empresta US$ 222 mi para a Embraer
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Depois de cerca de nove meses
de negociações, o BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) aprovou, na
reunião de diretoria de segunda-feira, empréstimo de US$ 222 milhões para a Embraer exportar
dez jatos EMB 170 para as empresas Alitalia (Itália), Lot (Polônia) e
US Airways (Estados Unidos). Foi
o maior empréstimo do BNDES à
Embraer no governo Lula.
Segundo a Folha apurou, o banco só aprovou a operação após a
Embraer se comprometer a elevar
para 55% o índice de nacionalização de peças e componentes de
seus aviões. A empresa pediu dois
anos de prazo para atingir esse
grau de nacionalização.
O empréstimo significa uma
mudança nas relações entre o
banco e a empresa. Desde meados
do ano passado, o presidente do
BNDES, Carlos Lessa, tem sido
bastante crítico em relação aos
empréstimos concedidos pelo
banco à Embraer.
As relações entre o BNDES e a
Embraer se estremeceram quando a empresa divulgou o seu balanço do segundo trimestre do
ano passado, culpando o atraso
na liberação dos financiamentos
do banco pelo seu pior resultado
desde 1999.
No final de 2003, Lessa chegou a
afirmar que a Embraer "teria de
rebolar" para conseguir dinheiro
do BNDES. Ele se referia à declaração de Maurício Botelho, presidente da Embraer, de que o banco
teria liberado US$ 1,8 bilhão para
a venda de aviões em 2004. Lessa
não só desmentiu como cantarolou trecho do samba "Tem que
Rebolar", de 1965, de autoria de
José Batista e Magno de Oliveira.
Lessa, porém, nunca afirmou
que não iria voltar a conceder financiamentos para a Embraer.
Ele queria que a empresa aceitasse
novas regras para poder ter acesso ao financiamento.
Eram duas suas preocupações.
A primeira, o fato de ter um grande volume de crédito para a exportação do BNDES concentrado
nos clientes da Embraer, que são
as grandes companhias aéreas do
mundo. Por isso, o banco aprovou o empréstimo direto.
A preocupação principal de
Lessa, no entanto, era a de aumentar significativamente o índice de nacionalização da empresa
para poder gerar emprego. O
BNDES pediu um estudo à Unicamp (Universidade de Campinas) para traçar um raio-x completo do setor aeronáutico e da
Embraer. A suspeita, hoje, é que o
grau de nacionalização da empresa seja muito baixo.
Em razão desse atrito, a entrega
dos EMB 170 (jatos de 70 lugares)
foi adiada várias vezes.
A Embraer pretende exportar
160 aeronaves neste ano, o que
significa uma receita de US$ 3 bilhões. O valor é 50% maior do que
os US$ 2 bilhões exportados em
2003.
O fato é que a Embraer registrou
em 2003 o seu pior resultado em
quatro anos. O lucro da empresa
foi de R$ 587,7 milhões, 50,1%
menor do que o R$ 1,179 bilhão
obtido no ano anterior. Pela primeira vez em seis anos, a Embraer
acusava, em 2003, um lucro abaixo do ano anterior.
Para justificar o resultado de
2003, a Embraer citou, entre outros problemas, a Guerra do Iraque, os problemas para a certificação final do EMB 170, a crise financeira das grandes companhias
aéreas do mundo e a escassez de
crédito para as vendas das aeronaves.
O empréstimo do BNDES aprovado na segunda-feira pode ser o
início de uma nova série do banco
para apoiar a Embraer.
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