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QUEDA-DE-BRAÇO
Fiesp acusa varejo de ser anticompetitivo; estudo é questionado
Indústria e varejo trocam farpas
MARCELO BILLI
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A perspectiva de um ano de
crescimento, depois da estagnação de 2003, já acirra os ânimos de
empresários, que iniciam a guerra
para engordar os lucros. A indústria saiu na frente e, por meio da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), divulgou
ontem estudo no qual acusa as redes varejistas de adotarem práticas anticompetitivas.
Representantes do varejo rebateram as afirmações e questionaram números do relatório.
Horacio Lafer Piva, presidente
da Fiesp, afirmou ontem que as
redes varejistas se apropriam de
parte do lucro das indústrias. "O
achatamento das margens de lucro leva à redução do emprego no
setor industrial. A conseqüência é
a queda dos investimentos e, para
a economia, perda de produtividade", explica. Segundo Piva, as
exigências comerciais das redes
varejistas prejudicam novas empresas e podem ter levado muitas
à bancarrota.
Maior rede de supermercados
do país, o Pão de Açúcar questionou e ironizou a posição da indústria. "É mais do que razoável
que exista um contrato. Discutimos o seu conteúdo por meses até
chegarmos a um acordo", afirma
César Suaki, diretor comercial do
Pão de Açúcar. "Tudo o que é feito, inclusive investimentos em
marca própria, tem como foco o
bolso do consumidor. Sobre isso,
a Fiesp não fala."
Não foi só isso. A federação informou que as cinco maiores redes de supermercados têm 56,6%
do mercado. Dados da Abras (Associação Brasileira de Supermercados) mostram que, em 2003, a
taxa estava em 39%.
Tem mais: as estatísticas do levantamento da Fiesp, segundo as
redes varejistas que analisaram o
trabalho, só reúnem dados de metade do mercado de alimentos no
país. Isso porque a Abras só levanta dados de parte do mercado,
que equivale a R$ 80 bilhões. No
entanto, a indústria do setor movimenta R$ 170 bilhões.
Estudo
Realizado pela FGV (Fundação
Getúlio Vargas), sobre a supervisão do ex-presidente do Cade
Gesner Oliveira, o estudo analisa a
concentração do mercado varejista, as políticas de compras das redes e os efeitos da comercialização de marcas próprias.
As conclusões, de maneira geral, foram que o mercado brasileiro é mais concentrado do que fazem supor os números nacionais.
Oliveira argumenta que a melhor
maneira de fazer os cálculos é
analisando o que ele chama de
"mercado relevante", ou seja,
áreas geográficas mais limitadas.
Assim, enquanto o índice de concentração do setor no Brasil fica
em 971, na cidade de São Paulo ele
é de 2.177, numa escala que chega
a 10.000. Um índice maior que
1.800 nesta escala sugere que o
mercado é concentrado.
A concentração dá às redes poder de compra, argumenta o presidente da Fiesp. Com poder de
compra, os varejistas podem coagir a indústria com práticas de comercialização que, muitas vezes,
podem ser caracterizadas como
abusivas.
O estudo relaciona 54 práticas
adotadas pelo varejo que, de alguma forma, podem ser enquadradas em alguma categoria de prática anticompetitiva, como limitar
o acesso de novas empresas ao
mercado, impor preços de revenda ou tentar regular mercados de
bens ou serviços. Segundo a
Fiesp, os empresários acabam
aceitando as exigências porque,
caso recorressem aos órgãos de
defesa de concorrência, seriam
excluídos das listas de fornecedores do varejo, o que poderia, segundo a entidade, levar as empresas à falência.
"A Fiesp até me deu umas
idéias, porque tem práticas nesse
relatório que desconheço", ironizou Suaki.
O presidente da Fiesp argumentou que a entidade não está sugerindo intervenção do governo.
Pelo contrário, diz ele, uma das
sugestões que a federação fará aos
seus associados será a criação de
um órgão privado de arbitragem,
formado pelas empresas dos setores industrial e de varejo, para
tentar discutir e resolver as divergências entre os setores.
A Abras (Associação Brasileira
de Supermercados) não comentou o levantamento apresentado
ontem pela Fiesp.
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