São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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NEGÓCIOS
AmBev, a nova empresa, deve responder por 40% do mercado de bebidas e 70% do de cerveja
Brahma e Antarctica fazem megafusão

da Reportagem Local

As arquirrivais Antarctica e Brahma deixaram de lado sua histórica -e agressiva- disputa pelo consumidor brasileiro de cerveja e refrigerante. As duas empresas se associaram e criaram a multinacional AmBev (Companhia de Bebidas das Américas) para disputar, juntas, também o consumidor internacional.
A associação foi comunicada ontem, em Brasília, ao presidente Fernando Henrique Cardoso pelos presidentes da Brahma, Marcel Telles, e da Antarctica, Victório de Marchi, em reunião de mais de uma hora no Palácio da Alvorada.
A nova empresa deve responder por cerca de 40% do mercado brasileiro de bebidas e por 70% da produção nacional de cerveja, o que a obriga a se submeter à aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que julga casos de fusão que possam ferir a Lei Antitruste.
Para o secretário de Direito Econômico, Ruy Coutinho, o Cade não deve rejeitar a fusão, uma vez que o governo poder estabelecer condições para a aprovação. E citou a suspensão, por quatro anos, do uso da marca Kolynos, quando esta foi comprada pela Colgate.
Em nota oficial, Antarctica e Brahma afirmam que o controle acionário da AmBev é detido por investidores nacionais, que darão à empresa condições de concorrer no mercado globalizado.
Um dos objetivos da AmBev é a ampliação de mercados já explorados pelas sócias na Argentina, Paraguai e Uruguai, que compõem com o Brasil o Mercosul. Para isso, a nova empresa buscar parcerias e associações.
Outro objetivo importante é se antecipar à integração de 34 países americanos na Alca (Área de Livre Comércio das Américas), prevista para 2005. Até lá, a AmBev pretende abrir filiais em países latino-americanos e nos EUA.
Todos os recursos das sócias, segundo o comunicado, serão reunidos na AmBev, que passará a ter fábricas em 18 Estados e em três países -Uruguai, Argentina e Venezuela, onde a Brahma instalou suas unidades. A produção das sócias atingiu, no ano passado, 6,4 bilhões de litros de cerveja e 2,5 bilhões de litros de refrigerantes, águas, chás e isotônicos.
A empresa nasce com mais de 30 mil acionistas, ativos totais correspondentes a R$ 8,1 bilhões (base dezembro de 1998) e patrimônio líquido superior a R$ 2,8 bilhões. E herda um volume de vendas que atingiu R$ 10,3 bilhões no mercado doméstico em 1998.
Segundo o advogado da AmBev, Carlos Francisco de Magalhães, a Antarctica e a Brahma pretendem manter separadas as suas redes de distribuição e os seus departamentos de marketing. A concorrência entre as sócias seria preservada porque a disputa por preços é maior na fase da distribuição, afirmou Magalhães.
A Antarctica, segundo o advogado, desfez a associação que com a norte-americana Anheuser-Busch para a produção da cerveja Budweiser no Brasil. Ainda não foi decidido se a Brahma desmanchará a associação com a Miller.

Composição acionária
O capital da AmBev é composto por ações representativas de 88,09% do capital votante e 87,91% do capital total da Antarctica e de 55,08% do capital votante e 21,17% do capital total da Brahma.
A troca de ações será feita na proporção de uma da AmBev por uma da Brahma e de 48,63 ações da AmBev por uma da Antarctica.
A Folha apurou que o anúncio da AmBev foi antecipado por conta mudanças no comportamento das ações das sócias nas Bolsas. Os papéis da Antarctica, que andavam em baixa, subiram 8,1% de terça para quarta-feira, e o volume de negócios aumentou.


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