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OPINIÃO ECONÔMICA
Oposição de fachada?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
"O globo" estampou em
primeira página: Lula admite FHC em seu palanque. E o
presidente da República devolveu
a gentileza, declarando que também gostaria de ter Lula no seu.
O Brasil é realmente um país
"sui generis". Sabemos que um
dos traços típicos do brasileiro é a
aversão a rupturas e descontinuidades. Ao longo da nossa história,
as transições políticas têm sido
basicamente negociadas. Somos a
pátria do gradualismo. A abolição da escravidão, por exemplo,
foi um processo que se arrastou
por décadas e décadas.
Mas há limites. A essa altura,
não há esforço de "marketing",
por mais genial, capaz de esconder o óbvio: o fracasso retumbante não só do governo FHC como
do modelo econômico implantado no Brasil desde os tempos de
Collor.
Nos últimos 11 anos, fizeram de
tudo. Confiscaram a poupança,
desnacionalizaram a economia,
endividaram o país no exterior,
arrombaram as contas públicas,
aumentaram a vulnerabilidade
externa, destruíram empresas e
postos de trabalho e produziram
uma tremenda crise energética.
Implantaram, como escreveu recentemente aqui na Folha o ex-ministro Adib Jatene, o "entreguismo da modernidade".
Entretanto, dizia Nelson Rodrigues, o óbvio tem inimigos ferozes
e poderosos. Como é natural, os
interesses externos e internos que
se beneficiaram do modelo desejam preservá-lo. Está em curso
uma manobra para envolver as
oposições na defesa de políticas
econômicas "responsáveis", sintonizadas com as demandas e preconceitos do eixo Wall Street-Washington e suas ramificações
tupiniquins. E nos diferentes partidos de oposição não faltam figuras dispostas a participar da jogada.
Fernando Henrique Cardoso
também tem interesse em colaborar. Em entrevista ao jornal britânico "Financial Times", publicada no dia 12 de junho, o presidente do Brasil afirmou que "a oposição, especialmente o Partido dos
Trabalhadores, é menos radical
do que a sua imagem nos mercados financeiros". Chegou a afirmar que as suas diferenças com o
PT são mais uma questão de "disputa pelo poder" do que de "ideologia".
Desconte-se o exagero. FHC está fazendo o seu "hedge". Sabe
que terá grande dificuldade de fazer o seu sucessor. Teme, provavelmente, o destino de Fujimori e
Menem. Quer ficar bem com os
adversários.
Sabe, além disso, que o quadro
internacional é adverso e que a
economia brasileira continua
muito vulnerável. Não gostaria
de ter o seu final de governo excessivamente tumultuado pelo
nervosismo dos mercados financeiros em relação às políticas que
seriam adotadas por um eventual
governo de oposição.
Repare, leitor, como funciona o
círculo vicioso da dependência. A
fragilidade das contas públicas e
das contas externas, decorrente
das políticas de abertura, liberalização e endividamento, é usada
para intimidar as oposições e
pressioná-las a comprometer-se,
em nome da "modernidade" e do
"pragmatismo", com a continuação dessas mesmas políticas. No
limite, um eventual governo da
oposição teria que entregar o comando da economia à equipe do
seu antecessor, como fez o governo De la Rúa na Argentina.
Mas a oposição que se cuide. A
insatisfação dos brasileiros é generalizada. O eleitorado não vai
querer perder o direito de escolha.
Oposição de fachada não serve.
Paulo Nogueira Batista Jr., 46, economista
e professor da Fundação Getúlio Vargas-SP, escreve às quintas nesta coluna. É
autor do livro "A Economia como Ela é..."
(Boitempo Editorial, 2ª edição: 2001).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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