São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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"RISCO-MENSALÃO"

Secretário do Tesouro dos EUA diz que "fundamentos" são bons

Snow elogia economia e não vê contaminação política

Jamil Bittar/Reuters
O presidente Lula recebe o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, no Palácio do Planalto


CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, propôs ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a criação de um mecanismo de classificação de projetos de infra-estrutura que identifique os mais seguros e com maior garantia de retorno aos investidores.
A idéia do secretário, que ontem teve uma reunião também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é criar uma uma espécie de "selo de qualidade", que poderia ser emitido pelo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e serviria como um diferencial para atrair os investidores.
Snow, que chegou no domingo a Brasília para uma visita de três dias ao país, evitou usar a palavra crise ao falar com a imprensa, mas disse que os mercados estão "tirando de letra" a situação.
Pela manhã, porém, disse que "a corrupção mina a democracia, o mercado e a confiança do investidor", em entrevista ao "Bom Dia Brasil", da Rede Globo. Afirmou também que a democracia local é "robusta" e não deve ser afetada pelas denúncias, porque as instituições demonstram "compromisso com a democracia".
Snow, que também esteve com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, evitou falar sobre a alta taxa de juros do país, mas disse várias vezes que Meirelles "é um especialista" em taxa de juros e explicou tudo a ele.
Na Embaixada dos EUA, Snow disse que há "experientes companhias americanas" interessadas em explorar o sistema fluvial brasileiro, para investir em projetos de transporte de navegação, além de ferrovias e rodovias. Durante 26 anos, Snow trabalhou para a CSX, uma companhia de transporte americana. Segundo ele, a empresa teria interesse em investir no Brasil. "Temos negócios no Uruguai e operamos continuamente no Porto de Santos."
"Estamos discutindo a criação de uma espécie de câmara de compensação para identificar boas parcerias público-privadas. Há tantos projetos de diferentes países que os investidores precisam de um mapa de orientação para diferenciar as boas oportunidades", disse o secretário.
Na sua opinião, projetos transnacionais teriam mais chances de serem destacados e citou projetos entre Brasil e Argentina.
"O Brasil tem um imenso potencial em muitas áreas, e a infra-estrutura tem que se adequar ao comércio. Acho que a infra-estrutura vai ser o principal foco dos investimentos", disse. Para ele, se o Brasil investir em transporte para melhorar o escoamento da produção agrícola, principalmente da soja, vai aumentar o ganho com as exportações.
"Há uma imensa oportunidade de modernizar o sistema fluvial, aprofundando os canais e permitindo melhorar o sistema de navegação, o que reduz o custo de transporte, o que significa maior retorno líquido nas exportações."
Ele elogiou a proposta brasileira, que se tornou um projeto-piloto no FMI, de excluir os gastos com investimentos em infra-estrutura do cálculo do superávit primário, mas não deu apoio explícito à proposta. Washington considera a idéia "interessante" e vai analisar a experiência, disse.
Snow elogiou os "bons fundamentos da economia brasileira" e reforçou que os mercados não estão sendo afetados pelo problemas políticos. "Os mercados, seja os de ações, de câmbio ou de spreads, estão tirando de letra [a crise]. O que interessa são as boas políticas e o compromisso de que elas vão continuar", afirmou.

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