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PREÇOS
Produção superaria consumo
Agora, China teme ter deflação no fim do ano
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de dedicar grande parte
do ano passado à discussão sobre
o superaquecimento da economia, especialistas chineses agora
temem que o país entre em um
processo de deflação, fruto do excesso de produção que pode não
ser absorvido pelo consumo.
O declínio dos preços deve ser
acompanhado de esfriamento do
ritmo de crescimento da economia, que surpreendeu e atingiu
9,5% no segundo trimestre, ante a
expectativa de 9,2%. Mas, ainda
que a velocidade diminua, o PIB
continuará a se expandir em patamares próximos de 9%.
Lin Yifu, diretor do Centro de
Pesquisa Econômica da Universidade de Pequim, acredita que o
índice de preços passará a ser negativo no fim deste ano. A economia, em sua opinião, deverá fechar 2005 com expansão de 9% e,
em 2006, com 8,6%.
O jornal oficial "China Daily"
noticiou ontem que a possibilidade de deflação foi o tema de encontro, no fim de semana, que o
centro realiza todos os trimestres
para analisar a economia chinesa.
Song Guoqing, também professor da Universidade de Pequim,
sustentou no evento que a economia já dá sinais de desaquecimento. Segundo ele, a maior parte do
crescimento de 9,5% do segundo
trimestre se deveu aos bons resultados do setor externo, que caminha para um superávit comercial
recorde. Se for descontado o impacto das exportações, a expansão da demanda interna foi de
apenas 3,5%, afirmou Song.
O Índice de Preços ao Consumidor vem registrando quedas consecutivas desde fevereiro e fechou
junho em 1,6%.
Wang Jian, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica da
Comissão de Reforma e Desenvolvimento, afirmou que a queda
de preços e a redução da rentabilidade das empresas são sinais evidentes de que a economia entrou
em uma fase de desaceleração.
Na opinião de Wang, a tendência será reforçada pela redução do
ritmo de crescimento em importantes parceiros comerciais da
China, como Japão, União Européia e Estados Unidos.
Investimentos
O risco de excesso de oferta e
deflação já havia sido apontado
em análises econômicas de Andy
Xie, economista-chefe do Morgan
Stanley na Ásia, que não esteve no
encontro do centro de pesquisa
da Universidade de Pequim.
"A desaceleração da China começou", escreveu Xie no mês passado. Para ele, o principal responsável pelo excesso de produção é o
ciclo de altos investimentos dos
últimos dois anos. O economista
sustenta que os sinais de deflação
já estão presentes no mercado
imobiliário, com a queda no preço de imóveis no delta do rio
Yangtzé, onde está Xangai.
Depois de atingir quase 50% no
início de 2004, o crescimento dos
investimentos em ativos fixos
(como fábricas e estradas) chegou
ao fim do ano em 25,8%. Esse percentual já foi superado nos primeiros seis meses de 2005 e atingiu 27%, bem acima da previsão
oficial de 16% para este ano.
A possibilidade de superoferta
foi reforçada por estatísticas divulgadas ontem pelo Ministério
do Comércio. Levantamento feito
pelo governo no segundo trimestre em 600 categorias de consumo
mostrou que em 71,3% delas houve excesso de oferta. Apenas
28,7% terão equilíbrio entre oferta e demanda.
O debate sobre a deflação ocorre no momento em que a China
abandonou a vinculação de sua
moeda, o yuan, ao dólar e permitiu uma pequena valorização de
2,1% de sua cotação.
Ontem foi o terceiro dia consecutivo de alta do yuan em relação
ao dólar. A moeda chinesa fechou
em 8,1046 yuans por dólar, a
maior valor desde a mudança no
regime cambial, no dia 21 de julho, quando o valor foi fixado em
8,11 yuans por dólar.
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