São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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PREÇOS

Produção superaria consumo

Agora, China teme ter deflação no fim do ano

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de dedicar grande parte do ano passado à discussão sobre o superaquecimento da economia, especialistas chineses agora temem que o país entre em um processo de deflação, fruto do excesso de produção que pode não ser absorvido pelo consumo.
O declínio dos preços deve ser acompanhado de esfriamento do ritmo de crescimento da economia, que surpreendeu e atingiu 9,5% no segundo trimestre, ante a expectativa de 9,2%. Mas, ainda que a velocidade diminua, o PIB continuará a se expandir em patamares próximos de 9%.
Lin Yifu, diretor do Centro de Pesquisa Econômica da Universidade de Pequim, acredita que o índice de preços passará a ser negativo no fim deste ano. A economia, em sua opinião, deverá fechar 2005 com expansão de 9% e, em 2006, com 8,6%.
O jornal oficial "China Daily" noticiou ontem que a possibilidade de deflação foi o tema de encontro, no fim de semana, que o centro realiza todos os trimestres para analisar a economia chinesa.
Song Guoqing, também professor da Universidade de Pequim, sustentou no evento que a economia já dá sinais de desaquecimento. Segundo ele, a maior parte do crescimento de 9,5% do segundo trimestre se deveu aos bons resultados do setor externo, que caminha para um superávit comercial recorde. Se for descontado o impacto das exportações, a expansão da demanda interna foi de apenas 3,5%, afirmou Song.
O Índice de Preços ao Consumidor vem registrando quedas consecutivas desde fevereiro e fechou junho em 1,6%.
Wang Jian, vice-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica da Comissão de Reforma e Desenvolvimento, afirmou que a queda de preços e a redução da rentabilidade das empresas são sinais evidentes de que a economia entrou em uma fase de desaceleração.
Na opinião de Wang, a tendência será reforçada pela redução do ritmo de crescimento em importantes parceiros comerciais da China, como Japão, União Européia e Estados Unidos.

Investimentos
O risco de excesso de oferta e deflação já havia sido apontado em análises econômicas de Andy Xie, economista-chefe do Morgan Stanley na Ásia, que não esteve no encontro do centro de pesquisa da Universidade de Pequim.
"A desaceleração da China começou", escreveu Xie no mês passado. Para ele, o principal responsável pelo excesso de produção é o ciclo de altos investimentos dos últimos dois anos. O economista sustenta que os sinais de deflação já estão presentes no mercado imobiliário, com a queda no preço de imóveis no delta do rio Yangtzé, onde está Xangai.
Depois de atingir quase 50% no início de 2004, o crescimento dos investimentos em ativos fixos (como fábricas e estradas) chegou ao fim do ano em 25,8%. Esse percentual já foi superado nos primeiros seis meses de 2005 e atingiu 27%, bem acima da previsão oficial de 16% para este ano.
A possibilidade de superoferta foi reforçada por estatísticas divulgadas ontem pelo Ministério do Comércio. Levantamento feito pelo governo no segundo trimestre em 600 categorias de consumo mostrou que em 71,3% delas houve excesso de oferta. Apenas 28,7% terão equilíbrio entre oferta e demanda.
O debate sobre a deflação ocorre no momento em que a China abandonou a vinculação de sua moeda, o yuan, ao dólar e permitiu uma pequena valorização de 2,1% de sua cotação.
Ontem foi o terceiro dia consecutivo de alta do yuan em relação ao dólar. A moeda chinesa fechou em 8,1046 yuans por dólar, a maior valor desde a mudança no regime cambial, no dia 21 de julho, quando o valor foi fixado em 8,11 yuans por dólar.

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