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OPINIÃO ECONÔMICA
Recrutas
BENJAMIN STEINBRUCH
Bons tempos aqueles em que
o Exército era uma opção
apenas para os que se interessavam pela carreira militar. Hoje,
centenas de milhares de jovens
procuram os quartéis anualmente em busca de um emprego, ainda que temporário.
Neste ano, cerca de 1,5 milhão
de adolescentes fizeram o alistamento militar em todo o país e 90
mil foram convocados. Estima-se
que 90% desse contingente seja de
voluntários, atraídos pela oportunidade de ganhar de 9 a 12 meses
um soldo de R$ 240 mensais, além
de refeições, ajuda para transporte e uniformes.
Um pequeno número desses recrutas seguirá a carreira militar.
Encerrado o serviço temporário, a
maior parte deles voltará ao mercado em busca de trabalho. Felizmente, as Forças Armadas e o Ministério do Trabalho criaram neste ano o programa Soldado Cidadão, que vai oferecer, além do
treinamento militar, cursos profissionalizantes a recrutas convocados.
As filas para o alistamento militar são um retrato de quanto a vida ficou difícil para os jovens que
tentam ingressar no mercado de
trabalho. Um estudo feito pela Secretaria do Desenvolvimento,
Trabalho e Solidariedade do Município de São Paulo revelou que
a crise do desemprego atingiu de
maneira cruel os jovens brasileiros.
Na década de 80, apenas um em
cada dez jovens entre 15 e 24 anos
estava desempregado, sete tinham ocupação e dois não procuravam emprego. Nos anos 1990, a
situação se inverteu. Em cada dez
jovens, só um estava empregado,
quatro eram desempregados e
cinco permaneciam fora do mercado, ou seja, não buscavam emprego.
Segundo o estudo, o Brasil conta com 33 milhões de jovens entre
15 e 24 anos (dados de 2001, do
IBGE). Só metade deles tem algum vínculo empregatício, sendo
69% sem carteira assinada. Cerca
de 17 milhões não estão estudando e -o número mais preocupante- 4,5 milhões não estudam, não trabalham nem procuram emprego.
O que fazem então esses 4,5 milhões de jovens? A pergunta é embaraçosa, e a resposta, preocupante. Eles são recrutas potenciais não do serviço militar, que
não tem como atender a todos,
mas do crime organizado, e estão
em situação de alto risco. Sem remuneração, sem formação e sem
emprego, viram presas fáceis das
organizações criminosas.
O programa Primeiro Emprego
foi aprovado na Câmara há duas
semanas. É uma boa idéia. Mas,
se funcionar perfeitamente, vai
abrir vagas para apenas 55 mil jovens neste ano, 100 mil em 2004 e
200 mil em 2005.
Programas como o Soldado Cidadão e Primeiro Emprego são
muito importantes para situações
emergenciais e merecem aplausos. Mas o problema do desemprego precisa de algo mais para
ser enfrentado seriamente: medidas que promovam o crescimento
da economia.
Na semana passada, esteve em
São Paulo o Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Ele observou que os bons bancos centrais
são aqueles que sabem adaptar
suas políticas às circunstâncias
econômicas. E deu um puxão de
orelhas no BC brasileiro, que continua a olhar com prioridade para a meta de inflação: "Os problemas do Brasil não estão mais na
inflação, e sim no crescimento e
na criação de empregos".
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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