|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GRÃOS
Ministério da Agricultura descobre funcionário do governo americano inspecionando "ilegalmente" plantação de soja
A pedido do Brasil, EUA expulsam inspetor
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Os Estados Unidos estão praticando "bioterrorismo" no Brasil.
A escandalosa acusação foi feita
ontem, em público, por um funcionário graduado do Ministério
da Agricultura: Jorge Salim Waquim, chefe de gabinete da Secretaria de Defesa Agropecuária.
Waquim fez o comentário durante a sessão do Comitê de Negociações Internacionais do Ministério, que se reuniu pela manhã, na Delegacia Regional de São
Paulo, sob o comando do próprio
ministro Roberto Rodrigues.
Waquim talvez não soubesse
que havia jornalistas na sala, mas,
depois, por eles consultado, não
recuou da acusação.
Sua história: há cerca de duas
semanas, um funcionário do Departamento de Agricultura dos
EUA (equivalente a ministério)
foi localizado na região de Barreiras (BA), produtora de soja.
Usava um aparelho portátil para detectar esporos, o microorganismo que causa a doença chamada "ferrugem da soja".
O funcionário, cujo nome Waquim preferiu não informar aos
jornalistas, viera ao Brasil supostamente para um congresso de fitopatologia. Mas não fizera contato com o Ministério da Agricultura a fim de pedir autorização para
a incursão na área de Barreiras.
Por que "bioterrorismo"? Porque, segundo Waquim, o esporo
que causa a ferrugem da soja é um
dos agentes que o governo norte-americano incluiu na sua lista de
elementos que podem ser utilizados no terrorismo biológico.
Como, sempre segundo o funcionário brasileiro, o esporo colhido numa área teria que ser expelido para uma nova medição,
em outra área, o aparelho poderia
estar espalhando a doença.
Pode haver exagero na história
de Waquim, mas, de todo modo,
ela foi levada à Embaixada dos
EUA, que, sempre segundo Waquim, chamou o funcionário e pediu que ele retornasse a seu país.
Waquim levanta uma outra hipótese, também grave: a de que o
funcionário estaria colhendo informações sobre a contaminação
da soja brasileira pela ferrugem,
com o hipotético objetivo de fornecer subsídios para restringir as
importações.
A ferrugem da soja impede a
formação completa dos grãos. Na
safra passada foi encontrada em
seis Estados e causou quebra de
produção de cerca de 10%.
Mas houve casos em que se perdeu até 70%, de acordo com dados da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
Na safra passada, a produção
brasileira total foi de 52 milhões
de toneladas em 17 milhões de
hectares, o que transforma o país
no segundo maior produtor
mundial, atrás apenas dos EUA.
Não foi a única denúncia que
Waquim apresentou ontem: disse
também que há, no momento, 22
cidadãos norte-americanos que
percorrem a região de Barreiras
em quatro vans, supostamente interessados na compra de terras.
Pediu aos demais representantes do setor de agronegócios reunidos ontem que defendam "um
controle muito sério" desse tipo
de visita, similar ao que já se utiliza para evitar a propagação de
doenças do gado.
Para evitar a febre aftosa, as autoridades brasileiras chegaram a
utilizar, até em aeroportos, um tapete com inseticida. Quem chega
passa por ele e, se vier de área contaminada, o inseticida mata o
agente propagador.
No caso dos esporos, a propagação é feita pelo ar, muito velozmente, e não há controle no trânsito de uma área para a outra.
Outro lado
A Folha tentou falar com a embaixada norte-americana, mas
ninguém atendia porque era o feriado nos EUA. Pediu também ao
Itamaraty que comentasse o caso, mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Aves: Ministério declara oito Estados e o DF livres da doença de Newcastle Índice
|