São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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BALANÇA

Compras externas buscam aumentar a produção e não ameaçam saldo

Para analistas, importação é saudável

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O recorde das importações brasileiras, que totalizaram US$ 5,6 bilhões em agosto, é um movimento saudável que ocorre colado no aumento das exportações e no crescimento da economia, segundo economistas.
No ano, as importações totalizaram US$ 39,4 bilhões -um crescimento de 28,1% em relação aos oito primeiros meses de 2004, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior). Esse é, também, um patamar histórico, segundo a secretaria.
Os dados foram divulgados ontem pelo governo e mostram que, entre os itens que mais cresceram na cesta de compras externas brasileiras, se destacam aqueles voltados para a produção. Esse movimento tem um aspecto sazonal -no terceiro trimestre as compras externas sempre crescem- e estrutural, demonstrado pela composição da pauta de compras.
As importações de matérias-primas e insumos aumentaram 41,9%. A de bens de capital, 41,8%. "As indústrias estão importando mais para fazer frente à produção destinada às vendas de final de ano", diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult.
As importações voltadas para a produção só foram superadas pelo crescimento das compras de lubrificantes e combustíveis (+ 66,5%). "Pelo menos metade do crescimento das importações de combustível se deve ao aumento do preço do petróleo", diz Carlos Urso, economista da LCA Consultores.

Lista de compras
O que distingue o movimento atual de importações é que ele é fruto de "uma abertura sadia que parte do crescimento das exportações", segundo Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"A importação que não é sadia é aquela que parte da abertura indiscriminada do mercado interno, praticada desde o governo Collor até a era Gustavo Franco [ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique Cardoso]", diz Almeida.
Segundo ele, o atual aumento da importação vem colado no crescimento da economia -e a prova disso é a lista das compras externas. Na categoria matérias-primas e intermediários, cresceram principalmente as compras de acessórios e equipamentos de transporte, partes e peças de bens intermediários e produtos químicos e farmacêuticos.
No item bens de capital, os destaques foram as compras de equipamento móvel de transporte, máquinas e aparelhos de escritório, partes e peças para bens de capital e maquinaria industrial. "Isso revela que os investimentos em expansão de capacidade e modernização de linhas de produção estão voltando", diz Urso.

Explosão
Os analistas não temem que ocorra uma explosão das importações -o que afetaria, no futuro, o saldo da balança comercial. O crescimento de 43,9% das compras externas, no mês passado, ocorre sobre uma base bastante deprimida. "A economia estava engatinhando em agosto de 2003", diz Silveira.
No ano passado, as importações ficaram praticamente estagnadas, totalizando US$ 48,2 bilhões, segundo dados da Secex. Na opinião de Silveira, o patamar das exportações é alto o suficiente para absorver as importações crescentes e gerar um saldo confortável na balança comercial. Ele projeta um saldo de US$ 30 bilhões na balança comercial neste ano.
A LCA projeta um crescimento de 26% nas importações neste ano. "Mantido o ritmo atual, vamos fechar o ano com um volume de US$ 61 bilhões em importações, próximo ao patamar de 1997", diz Urso. Para 2005, entretanto, prevê uma desaceleração, com alta de 20%. "O ritmo de expansão da economia mundial deverá diminuir no próximo ano, o que provocará um crescimento menor do PIB brasileiro", diz ele.


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