|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPINIÃO ECONÔMICA
Acostumados à mediocridade?
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Basta a economia levantar a
cabeça que, por uma espécie
de reflexo pavloviano, a área econômica do governo começa a
pensar em medidas de contenção.
É o que parece, pelo menos. Anteontem, o IBGE divulgou dados
melhores do que os esperados para o PIB. Imediatamente, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci
Filho, avisou que "o crescimento
pode exigir algum ajuste".
Horas depois, diante da reação
do mercado financeiro, o ministro explicou que não estava se referindo à elevação dos juros. Não
convenceu. Todos sabem que o
Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) vem
preparando o terreno para um
aumento da taxa básica, atualmente em 16%. O Banco Central
teme que a economia esteja crescendo acima das suas possibilidades. O presidente do banco, Henrique Meirelles, qualificou a retomada em curso de "fortíssima".
"Fortíssima"? No primeiro semestre de 2004, o PIB aumentou
4,2% em relação a igual período
do ano passado. Como se sabe, o
primeiro semestre de 2003 foi um
período de recessão e, portanto, a
base de comparação é reduzida.
Cabe lembrar, além disso, que o
Brasil não cresce de forma sustentada desde o começo da década
de 80 e padece de taxas de desemprego excepcionalmente elevadas. Nessas condições, 4% não é
nada demais. Pelo visto, Meirelles
e cia. querem acostumar-nos à
mediocridade.
A situação brasileira está melhorando. Não há dúvida. Mas o
nosso ritmo de expansão ainda é
nitidamente inferior ao de vários
dos principais "mercados emergentes". Projeções publicadas pela
revista "The Economist" indicam
que China e Venezuela devem
crescer mais de 9% em 2004; Argentina, Cingapura, Índia e Rússia, mais de 7%; Hong Kong, Malásia, Tailândia, Taiwan, Turquia e Polônia, na faixa de 6% a
6,5%; Coréia do Sul, Filipinas,
Chile e Peru, em torno de 5%.
Projeções à parte, dados referentes ao primeiro ou ao segundo trimestre de 2004 indicam que a
maioria dos países "emergentes"
vem crescendo mais rapidamente
do que o Brasil.
Uma das principais razões desse
crescimento relativamente modesto reside em uma das anomalias da economia brasileira: a taxa de juro. Nos "mercados emergentes", a taxa real de curto prazo
é da ordem de 2% a 3%, em média. A brasileira tem sido cerca de
quatro vezes maior. Considerando uma inflação de 7%, a nossa
taxa básica de juro teria que ser
de 9% a 10% em termos nominais
para equiparar-se, em termos
reais, ao nível médio dos "emergentes".
Não obstante, o BC prepara-se
para aumentar os juros básicos.
Com isso, procuraria alcançar as
metas oficiais de inflação e reforçar a sua credibilidade. Grande
parte do problema resulta da decisão, amplamente criticada na
ocasião em que foi tomada, de fixar metas muito ambiciosas para
a inflação.
Essa ambição excessiva acaba
custando caro. Por um lado, induz o BC a praticar taxas de juro
extravagantes, que atrapalham a
recuperação da economia, oneram a dívida pública interna e
promovem a concentração da
renda nacional. Por outro, incentiva o BC a permitir a apreciação
cambial, uma forma de apressar
a convergência da inflação às metas estabelecidas. Em agosto, o
real já se valorizou de forma significativa em relação ao dólar.
Corremos o risco de cair, outra
vez, na malfadada combinação
de juro alto e câmbio valorizado.
Essa combinação favorece o controle da inflação, mas deprime a
economia e pode deixá-la vulnerável do ponto de vista externo.
Precisamos mesmo reprisar esse
filme de quinta categoria?
Paulo Nogueira Batista Jr., 49, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "A Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
Texto Anterior: SP puxa resultado, diz Alckmin Próximo Texto: Luís Nassif: Mitos sobre a Parceria Público-Privada Índice
|