|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crescimento da demanda corre riscos em 2006
DA REPORTAGEM LOCAL
Não há problemas com o consumo, mas há riscos de que a procura por bens e serviços, em 2006,
seja abatida por mudanças no cenário econômico: renda e emprego podem cair, as compras a crédito podem sofrer com o calote e a
capacidade de endividamento pode perder o vigor.
"O consumo brasileiro é muito
"nervoso". Estamos passando por
um período bom, que começou
em 2004. Mas sempre sofremos
com a instabilidade da economia", diz Sussumu Honda, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
O Brasil cresceu 4,9% no ano
passado. Neste ano, as previsões
mais otimistas são de crescimento
beirando os 4%. Contribui para o
bom desempenho, na avaliação
dos economistas, um cenário externo muito positivo, com forte
procura pelas exportações brasileiras e alta nos preços dos produtos vendidos pelo país.
Um dos riscos, portanto, é uma
reversão do cenário, que prejudicaria as exportações e, de quebra,
os demais setores da economia.
"O Brasil vai bem. Claro que, se
você compara com os demais países, o desempenho não é tão
bom", afirma Richard Dubois, da
TDO Trevisan.
Ele elenca outros fatores que
podem prejudicar o desempenho
do Brasil em 2006: "A crise política pode gerar instabilidade, contaminando a confiança de consumidores, retraindo as compras a
prazo", afirma Dubois.
Ainda segundo os especialistas,
o Brasil, assim como os demais
países emergentes, sofre com a
instabilidade do mercado internacional. "Nós vivemos sempre
no risco de desabar em um precipício", alerta o economista.
Ainda que hipotética -e, por
enquanto, improvável para a
maioria dos economistas-, uma
desaceleração da economia pode
colocar a perder os ganhos dos
consumidores entre 2004 e 2005.
"Se uma pessoa da família perde
emprego ou fica muito endividada, o domicílio passa automaticamente para uma classe inferior de
renda", explica Hugo Bethlem, diretor-executivo das redes CompreBem e Sendas.
A queda, claro, leva à redução
do orçamento e ao abandono de
hábitos de consumo adquiridos
na época de bonança.
Outro risco que chama a atenção de alguns analistas é a alta expressiva do crédito, que alimenta
principalmente a venda de bens
de consumo semiduráveis e duráveis. Recentemente, as redes de
supermercados passaram a utilizar linhas de crédito para bens de
consumo básico, como alimentos. O risco maior é a possibilidade de descontrole orçamentário
por parte das famílias que leve,
em algum momento, a calote na
área de duráveis.
A inadimplência costuma subir
entre os meses de março e abril,
após as compras de final de ano.
Mas recua entre maio e julho, o
que, no entanto, não ocorreu neste ano. "O temor é o de que, como
conseqüência do crédito elevado,
a inadimplência respingue nos
gastos fixos, como contas de luz e
mensalidade escolar", afirma
Marcel Solimeo, economista da
ACSP (Associação Comercial de
São Paulo).
Texto Anterior: Classes A e B mudam menos a lista de compras Próximo Texto: Opinião econômica - Rubens Ricupero: A desindustrialização como projeto Índice
|