São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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Crescimento da demanda corre riscos em 2006

DA REPORTAGEM LOCAL

Não há problemas com o consumo, mas há riscos de que a procura por bens e serviços, em 2006, seja abatida por mudanças no cenário econômico: renda e emprego podem cair, as compras a crédito podem sofrer com o calote e a capacidade de endividamento pode perder o vigor.
"O consumo brasileiro é muito "nervoso". Estamos passando por um período bom, que começou em 2004. Mas sempre sofremos com a instabilidade da economia", diz Sussumu Honda, presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
O Brasil cresceu 4,9% no ano passado. Neste ano, as previsões mais otimistas são de crescimento beirando os 4%. Contribui para o bom desempenho, na avaliação dos economistas, um cenário externo muito positivo, com forte procura pelas exportações brasileiras e alta nos preços dos produtos vendidos pelo país.
Um dos riscos, portanto, é uma reversão do cenário, que prejudicaria as exportações e, de quebra, os demais setores da economia. "O Brasil vai bem. Claro que, se você compara com os demais países, o desempenho não é tão bom", afirma Richard Dubois, da TDO Trevisan.
Ele elenca outros fatores que podem prejudicar o desempenho do Brasil em 2006: "A crise política pode gerar instabilidade, contaminando a confiança de consumidores, retraindo as compras a prazo", afirma Dubois.
Ainda segundo os especialistas, o Brasil, assim como os demais países emergentes, sofre com a instabilidade do mercado internacional. "Nós vivemos sempre no risco de desabar em um precipício", alerta o economista.
Ainda que hipotética -e, por enquanto, improvável para a maioria dos economistas-, uma desaceleração da economia pode colocar a perder os ganhos dos consumidores entre 2004 e 2005. "Se uma pessoa da família perde emprego ou fica muito endividada, o domicílio passa automaticamente para uma classe inferior de renda", explica Hugo Bethlem, diretor-executivo das redes CompreBem e Sendas.
A queda, claro, leva à redução do orçamento e ao abandono de hábitos de consumo adquiridos na época de bonança.
Outro risco que chama a atenção de alguns analistas é a alta expressiva do crédito, que alimenta principalmente a venda de bens de consumo semiduráveis e duráveis. Recentemente, as redes de supermercados passaram a utilizar linhas de crédito para bens de consumo básico, como alimentos. O risco maior é a possibilidade de descontrole orçamentário por parte das famílias que leve, em algum momento, a calote na área de duráveis.
A inadimplência costuma subir entre os meses de março e abril, após as compras de final de ano. Mas recua entre maio e julho, o que, no entanto, não ocorreu neste ano. "O temor é o de que, como conseqüência do crédito elevado, a inadimplência respingue nos gastos fixos, como contas de luz e mensalidade escolar", afirma Marcel Solimeo, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo).


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