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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO DO CRESCIMENTO

Pessimistas, no entanto, dizem que surto consumista é passageiro e apontam novas demissões

EUA vêem retomada sólida da economia

FLOYD NORRIS
DO "NEW YORK TIMES"

Os lucros estão em disparada, a economia cresce ao ritmo mais forte em quase duas décadas e há sinais de que as empresas estão enfim começando a contratar.
Tudo isso contrasta com as perspectivas de seis meses atrás. Em fevereiro, os preços das ações estavam caindo, a economia cambaleava com uma taxa anualizada de crescimento de 1,4% e os rumores eram de que os cortes na taxa de juros e nos impostos teriam fracassado em recuperar a economia. Havia quem temesse deflação ao estilo japonês.
A deflação está esquecida agora, mas o Federal Reserve (banco central dos EUA) não está preparado para começar a se preocupar com a inflação. O índice Standard & Poor's 500, da Bolsa de Nova York, está 31% acima de sua marca de março e a economia cresceu em ritmo anualizado de 7,2% no terceiro trimestre.
Em linhas gerais, podemos traçar uma história da economia norte-americana nos dois últimos anos. As políticas fiscal e monetária ofereceram estímulo extraordinário, e os consumidores responderam comprando. As vendas de casas dispararam. Mas as empresas, deprimidas com o estouro da bolha e sobrecarregadas de estoques excedentes e de excesso de capacidade, optaram por manter um perfil discreto.
No começo deste ano, os rumores sobre uma possível deflação geraram cautela, e havia preocupação quanto ao que poderia acontecer como resultado da Guerra no Iraque. Os preços do petróleo aumentariam aceleradamente? Haveria novos ataques terroristas contra os EUA? Os gastos dos consumidores perderam vigor e as demissões subiram.
A Guerra do Iraque produziu ataques contra norte-americanos, mas em Bagdá, não em Boston. Os preços do petróleo, que esbarraram em US$ 40 por barril no final de fevereiro, pouco antes do começo da guerra, agora estão abaixo de US$ 30. As restituições mais robustas foram gastas na temporada de compras para a volta às aulas.
Os números do PIB (Produto Interno Bruto) indicam que, ao longo dos últimos seis meses, as vendas finais a compradores domésticos cresceram em ritmo anualizado de 5,9%, bem acima do registrado pelo final de 1999.
As empresas estavam no geral despreparadas para a recuperação. O governo estima que os estoques tenham caído no trimestre, mas há uma boa chance de que esteja subestimando o grau de declínio. Se isso se confirmar, o índice de crescimento do terceiro trimestre será revisado para baixo, mas a reposição de estoques aquecerá o quarto trimestre.
E depois, o que teremos? Os pessimistas apontam para novos anúncios de demissões na Sony e na Electronic Data Systems e prevêem que o consumo vai se desaquecer sem novas reduções nos impostos, o que trará um Natal decepcionante para o varejo.
A previsão alternativa é de uma recuperação sustentável, que já estaria em curso. "Temos estímulo monetário e corte de impostos", disse Robert Barbera, economista-chefe da consultoria ITC-Hoenig. "Observem a história. Quando existe forte estímulo e um trimestre de 7%, isso não se dispersa rapidamente."
Caso ele esteja certo, haverá comemoração na Casa Branca. Talvez descobriremos que a diferença entre os dois presidentes Bush era mais de momento do que de qualquer outra coisa.
A recessão de 1990/1991 terminou em fevereiro de 1991. Quase dois anos mais tarde, em janeiro de 1993, surgiu a informação sobre o primeiro trimestre de recuperação, com crescimento superior a 5%. A recessão de 2001 terminou em novembro de 2001, e uma vez mais informações sobre um trimestre favorável surgiram dois anos mais tarde.
Bush pai perdeu a disputa pela reeleição antes que as notícias econômicas voltassem a ser positivas. Agora, o crescimento forte surgiu um ano antes da eleição. Bush filho tinha ótimos motivos para classificar o relatório do PIB de "encorajador".



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