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OPINIÃO ECONÔMICA
Um beco sem saída?
MÁRCIO POCHMANN
Impressiona a regularidade com
que se difundem análises econômicas pontuais que, concentradas
apenas no curto prazo, pouco auxiliam na necessária avaliação da
performance nacional durante as
últimas duas décadas.
Por conta disso, o debate sobre
os rumos econômicos tem sido difuso, nem sempre deixando claro
quais seriam os reais caminhos para o Brasil.
O núcleo duro da discussão tende a se assentar em duas vertentes
distintas. De um lado, os chamados produtivistas, defensores da
retomada sustentada do crescimento econômico, com participação do Estado e controle tanto do
comércio externo quanto dos fluxos financeiros internacionais. Por
serem críticos quanto à possibilidade brasileira de inserção subordinada na economia mundial, colocam mais ênfase na valorização
das potencialidades do mercado
interno, sem desconsiderar, entretanto, o comércio externo.
De outro lado, os financistas, que
se apóiam na liquidez financeira
internacional para sustentar a estabilidade monetária e na abertura
comercial, com desregulação financeira e desregulamentação do
mercado de trabalho, como tentativa de modernização da economia
nacional. Apostam ainda que os
possíveis resultados positivos da
globalização exigiriam um outro
Estado, com a passagem da função
empreendedora para a de regulação dos contratos e de focalização
dos gastos sociais.
Como se sabe, o Brasil é hoje uma
grande locomotiva parada no tempo, sem paralelo histórico nos últimos 60 anos. Desde 1980, o país
amarga: (1) baixos índices de crescimento econômico (2,5% como
média dos últimos 18 anos, sendo
de 2,9% na década de 1980 e de
1,9% na década de 1990); (2) anêmico comportamento da taxa de
investimento (17,1% do PIB como
média anual, sendo de 18,4% na
década de 1980 e de 15,6% na década de 1990); e (3) desestruturação
do mercado de trabalho, com queda no emprego assalariado formal
(-0,2% como média anual, sendo
de 1,1% na década de 1980 e de
-1,7% na década de 1990).
A responsabilidade pela perda
recente de dinamismo do capitalismo brasileiro pode ser encontrada na condução da política macroeconômica e nas alterações do
contexto econômico mundial.
Durante a década de 1980, o cenário internacional desfavorável
contribuiu para desviar a rota de
crescimento via mercado interno,
fazendo com que as autoridades
governamentais ficassem prisioneiras dos processos de hiperinflação e de transferência de recursos
para o exterior, como o pagamento
dos serviços do endividamento externo.
Nos anos 90, as autoridades governamentais aproveitaram o cenário internacional mais favorável
ao retorno de recursos financeiros
para abrir a economia e procurar
conter o processo hiperinflacionário, sem romper, entretanto, com a
instabilidade macroeconômica.
Por conta disso, permaneceu medíocre a situação econômica e aumentou o endividamento interno e
externo, tornando mais frágil e
menos integrada a estrutura produtiva nacional.
Diante do atual acordo com o
FMI, o Brasil demonstra como é
possível aumentar o grau de subordinação da sua política macroeconômica, pois a partir de
Washington o país passa a definir a
condução da economia, bem como
se compromete a realizar reformas
internas. Entre elas encontram-se,
inclusive, a reforma previdenciária
e a de desregulamentação do mercado de trabalho, conforme comunicado conjunto de entendimento
do Brasil com o FMI (7/11/1998).
Nos últimos 13 acordos firmados
com o Fundo, jamais compromissos como esses tinham sido estabelecidos.
Aplicado o programa de ajustes
do FMI, o Brasil consolida consecutivamente a segunda década
perdida. Até quando (e a que condição socioeconômica) será possível manter o predomínio dos financistas na condução da economia nacional?
Márcio Pochmann, 36, economista, é professor
do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas).
E-mail: pochmann@eco.unicamp.br
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