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ARTIGO
Brasil, a hora da virada
ROBERTO NICOLAU JEHA
O presidente do Banco Central,
Gustavo Franco, em reunião com
empresários, deu uma boa nova
aos investidores estrangeiros.
Depois de anos de câmbio sobrevalorizado; de juros internos capazes de destruir qualquer atividade
produtiva; de uma abertura da
economia completamente descontrolada; de uma estrutura tributária que cada vez mais onera a produção; de um "custo Brasil" que
aumenta a cada dia o fosso cavado
pela perda de competitividade do
empresário brasileiro em relação
ao estrangeiro, finalmente o objetivo que parece ser buscado está a
um passo de ser atingido.
O presidente do BC já avisou aos
interessados que as empresas brasileiras estão se vergando a todos
aqueles fatores e, por decorrência,
podem ser adquiridas a preço de
banana. Isto é, aquelas empresas
que conseguiram resistir; as milhares que já fecharam (pode-se
supor por esse tipo de raciocínio)
não souberam vencer o desafio da
modernidade e apenas mostraram
quão ineficientes eram. E não fizeram por merecer outro destino.
O que parece ser uma história
surrealista, lamentavelmente, foi
dito e publicado na Folha, edição
de 21 de novembro, sob o título
"Empresa barata atrai capital".
O presidente do Banco Central
parecia não estar preocupado.
Nem considerou o fato um problema sério que a sociedade brasileira
tem a enfrentar.
Não, a notícia, para ele, era positiva. A "limpeza étnica" da empresa nacional estava prestes a ser
completada, e o "exército invasor"
já podia avançar, pois o custo da
operação seria o mais baixo possível. Assim, já se podia comemorar
o aumento dos investimentos estrangeiros diretos nos próximos
meses. O que me angustia, fora o
fato em si, é a resignação, até mesmo o alheamento, com que aquela
opinião foi recebida pela sociedade e, em particular, pela maioria da
classe empresarial brasileira.
Essa reação revela um grau de
alienação preocupante em relação
à necessidade de defendermos a
existência de um projeto nacional,
que minimamente garanta a defesa dos nossos legítimos interesses:
as necessidades inadiáveis de voltarmos a crescer econômica e socialmente, de viabilizarmos programas de pesquisa e desenvolvimento tecnológicos próprios, de
mantermos o controle sobre as
grandes decisões estratégicas do
país, de termos uma inserção autônoma no mundo globalizado. Decidirmos, enfim, nosso próprio
destino.
Ao mesmo tempo, é importante
ressaltar que não adianta ficarmos
angustiados e atônitos perante fatos como esse. É preciso que a sociedade brasileira como um todo
-trabalhadores, agricultores, industriais, comerciantes, profissionais liberais, intelectuais, todos
que queremos um Brasil, não xenófobo e fechado, mas dono do seu
próprio destino e inserido no
mundo globalizado como uma nação autônoma e democrática-
nos mobilizemos a fim de que o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso marque
a hora da virada.
Que não apenas a estabilidade
econômica e a liberdade democrática, sem dúvida duas grandes conquistas, sejam mantidas, mas que
também tenhamos um projeto de
desenvolvimento econômico e social que nos permita comemorar a
consolidação da empresa nacional. Ela deve dar sua indispensável
colaboração, com a empresa estrangeira, ao esforço de transformação do Brasil em uma nação
efetivamente moderna, que possa
proporcionar a todos os benefícios
do desenvolvimento econômico e
social.
Roberto Nicolau Jeha, 60, empresário, é vice-presidente e coordenador do grupo de política
industrial da Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo).
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