São Paulo, domingo, 03 de fevereiro de 2002

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CONJUNTURA

Demanda cresce, e setor de infra-estrutura, como energia, papel e siderurgia, investe no aumento da produção

Indústria já ensaia expandir capacidade

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de passar quase uma década contraída, a indústria começa a tirar da gaveta projetos para expandir a sua capacidade produtiva. O movimento ainda não é generalizado. Mas é liderado por uma das áreas mais importantes da economia brasileira, a de infra-estrutura, que é capaz de vitaminar outros setores industriais.
Os fabricantes de equipamentos para geração, transmissão e distribuição de energia, exploração de petróleo e gás vão investir R$ 1,2 bilhão neste ano para elevar em 10% a capacidade produtiva.
A Alstom vai expandir a sua fábrica de Taubaté (SP). A ABB, a de Macaé (RJ) e a de Blumenau (SC). E a Weg, a de Jaraguá do Sul (SC).
Esse setor opera hoje com cerca de 90% de sua capacidade instalada. "Estamos numa zona de risco. É preciso crescer para dar conta dos pedidos programados e dos mais urgentes", diz José Augusto Marques, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base).
A indústria de papel e celulose vai na mesma linha. Para atender à demanda interna e à externa, as fábricas vão investir R$ 5,7 bilhões entre 2001 e 2003. Na de celulose, a capacidade cresce de 7,5 milhões para 9 milhões de toneladas anuais. Na de papel, de 7,3 milhões de toneladas para 7,75 milhões de toneladas anuais.
A Cia. Suzano de Papel e Celulose, por exemplo, reservou US$ 100 milhões para incrementar em 25% sua capacidade produtiva até 2003, de 420 mil toneladas para 525 mil toneladas anuais.
O setor ficou quase seis anos sem investir no aumento da capacidade produtiva, desestimulado pelo esfriamento da economia mundial e pelas várias crises enfrentadas pelo Brasil.
"As perspectivas são outras. A economia externa deve reaquecer, assim como a brasileira, embora mais devagar", diz Boris Tabacof, presidente da Bracelpa, associação que reúne os fabricantes.
A indústria de alumínio trabalha a plena capacidade desde 94. No ano passado, por causa do racionamento, a ocupação caiu para 86%, mas a previsão é que volte ao que era já neste semestre.
Quem já divulgou projeto de expansão foi a CBA, do grupo Votorantim. Em 2003, ela estará pronta para aumentar a capacidade de 240 mil toneladas para 340 mil toneladas anuais de alumínio.
Outros grupos, informa a Abal, associação do setor, seguram investimentos à espera de definições sobre suprimento e formação de preços de energia elétrica, que participa com 35% do custo da produção do alumínio.
Na indústria siderúrgica, que opera com 90% da capacidade, o sinal verde para projetos de expansão da capacidade depende de duas decisões: cotas e tarifas que os Estados Unidos vão anunciar para o aço e como a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) vai tratar o excesso de capacidade produtiva de aço.
A posição do Brasil é que quem precisa de subsídio para produzir deve fechar suas usinas. Não é o caso do país, que investiu US$ 10 bilhões em modernização nos últimos cinco a seis anos.
A indústria de cimento opera com ociosidade média de 25%, mas em alguns meses do ano chega a trabalhar a pleno vapor. Os fabricantes consideram que o aumento da capacidade de produção das fábricas deve ser constante por causa do potencial de consumo do país. No Brasil, o consumo é de 242 quilos per capita por ano. Na Europa, de 474 quilos, em média. E, nos EUA, de 384 quilos.
"Nosso setor não pára. Neste ano, o grupo João Santos inaugurou em Piauí nova fábrica de cimento", diz José Otávio Carvalho, do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento.
O que o Brasil vai ver em 2002 no setor industrial, segundo levantamento da CNI (Confederação Nacional da Indústria), é a volta dos investimentos que estavam programados para 2001, mas foram interrompidos por causa do racionamento de energia, da crise na Argentina e do arrefecimento da economia externa.
De 98 a 2000, segundo consulta da entidade com cerca de 750 empresas, elas investiram 6,9% do faturamento nas suas fábricas. Em 2001 e 2002, esse percentual sobe para 8,6%. Pela pesquisa, a maioria dos recursos gastos entre 98 e 2000 era para atualização tecnológica. Agora, a maior parte do dinheiro irá para expansão da capacidade de produção.



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