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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Fim da recessão é ilusão conjuntural
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Nos últimos cinco anos
nunca faltaram motivos
para apostar, nos EUA, tanto na
recuperação como na recessão e
mesmo na depressão. Talvez o
tamanho da economia norte-americana explique essa convivência recorrente de indicadores contraditórios. Um sistema
tão vasto e complexo obviamente não funciona virtuosamente,
com todas as partes se movendo
no mesmo ritmo e direção.
Na prática, a decisão entre os
cenários otimista e pessimista
acaba ficando por conta da ideologia e dos interesses econômicos de cada um mesmo que, a
exemplo do que vem ocorrendo
na última semana, entre altos e
baixos a tendência mais clara seja, ainda, negativa.
Para muitos economistas, se
os dados não confirmam seus
prognósticos e recomendações,
pior para os dados. Alguns,
brincando, dizem que contra argumentos não há fatos. Os debates muitas vezes parecem dirigir-se para uma conclusão baseada só em números, estatísticas ou modelos econométricos.
No frigir dos ovos, os mais honestos admitem a insuficiência
da modelagem quantitativa.
Mas predominam os apostadores. É o que se viu nos últimos
dias. A confiança do consumidor norte-americano subiu em
janeiro pelo segundo mês consecutivo (a encomenda de bens
duráveis também cresceu). Foi o
suficiente para que um bom número de "técnicos" interpretasse o indicador como sinal de que
os EUA estão deixando a recessão para trás.
O leitor mais importante, no
entanto, tem nome e endereço
conhecidos. É Alan Greenspan,
o presidente do banco central
dos EUA. Ao manter os juros
em 1,75% ao ano na semana
passada, Greenspan deu força à
retórica de que a recessão está
no fim (ou seja, não seria mais
necessário reduzir os juros para
estimular a economia).
Houve três vetores de recuperação da economia norte-americana nos últimos meses. A redução dos juros foi sem dúvida
um elemento importante. A reativação do complexo militar-industrial norte-americano também jogou um papel. Finalmente, uma recessão que já dura
praticamente um ano começa,
em vários setores, a gerar uma
queda nos estoques que motiva
a reposição (portanto aquecendo a produção e reduzindo o desemprego).
A questão não é saber se há fatores positivos, mas sim a de entender o seu alcance, a sua sustentabilidade. Ora, no caso das
taxas de juros, elas podem dar
algum oxigênio ao consumo
(dois terços do PIB norte-americano). Há uma redução de estoques estimulada pelo crédito barato. Mas a retomada sustentada
do crescimento depende do início de um novo ciclo de investimentos. Por enquanto, a política
econômica faz o que pode para
evitar o pior, mas não tem o
dom de reativar o investimento.
A não ser que certos setores
republicanos tenham sucesso
no lobby que fazem para dar
mais trela às campanhas militares do presidente Bush (invadir
mais países, fazer mais gastos
em segurança), a guerra como
fonte de estímulo econômico
também tem limites a cada dia
mais claros.
Ocorre que as notícias que
chegam do mundo empresarial
continuam deprimentes. A
queima de estoques promovida
a partir do final do ano passado
já deu sinais de esgotamento em
vários setores, como o automobilístico. Em janeiro, as vendas
das principais montadoras norte-americanas voltaram a cair.
Torcer e apostar faz parte do
jogo. No caso da economia dos
EUA, no entanto, o placar continua negativo e há cada vez menos jogadores (empresas, trabalhadores e países) em campo.
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